Apesar de ameaças russas. Finlândia e Suécia à beira da adesão à NATO

por Cristina Sambado - RTP
A decisão foi anunciada, no domingo, numa conferência de imprensa conjunta do presidente Sauli Niinistö e da primeira-ministra Sanna Marin Mauri Ratilainen - EPA

A Finlândia oficializou no domingo a intenção de aderir à NATO, abandonando décadas de neutralidade e ignorando as ameaças russas de possíveis represálias. O país nórdico tenta reforçar a segurança após a invasão da Ucrânia. Na Suécia, os social-democratas, no poder, deram também luz verde a uma candidatura à Aliança Atlântica.

A decisão finlandesa foi oficializada numa conferência de imprensa conjunta do presidente Sauli Niinistö e da primeira-ministra Sanna Marin. Falta a aprovação pelo Parlamento. Só depois o país poderá avançar com o pedidod e adesão à NATO.

Esperamos que o Parlamento confirme a decisão de solicitar a adesão à NATO nos próximos dias. Será baseado num mandato forte, com o presidente da República. Temos estado em contacto com os governos dos Estados membros e com a NATO”, afirmava no domingo Sanna Marin, a partir de Helsínquia.

Marin recordou que o país nórdico “é um parceiro próximo da NATO, mas a adesão é uma decisão histórica”.

“Esperamos tomar decisões em conjunto”, completou.

A adesão da Finlândia à NATO leva a aliança militar lidera pelos EUA até à fronteira com a Rússia. No entanto, o processo pode levar vários meses até estar finalizado, dado que os governos dos atuais 30 Estados-membros têm de aprovara a adesão de novos candidatos.
Um "erro", insiste Putin
A ideia da adesão da Finlândia levou já a Rússia a ameaçar com represálias. No sábado Vladimir Putin afirmou ao seu homólogo Sauli Niinistö que abandonar a neutralidade e aderir à NATO seria um “erro”, de acordo com uma declaração do Kremlin. No mesmo dia, Moscovo cortou o fornecimento de eletricidade ao país nórdico, na sequência de problemas de pagamentos.

Desde o final da II Guerra Mundial, durante a qual a Finlândia foi invadida pela União Soviética, o país tem sido neutro, para evitar provocar a Rússia. Tem inclusivamente cedido às preocupações de segurança do Kremlin e tentado manter boas relações comerciais. Mas a invasão russa da Ucrânia, a 24 de fevereiro, alterou a posição.

Niinistö telefonou no sábado a Putin para o informar da intenção do país de aderir à NATO, frisando que “as intenções russas em finais de 2021, visando impedir a Finlândia e a Suécia de aderir à Aliança Atlântica e a invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022, alteraram o ambiente de segurança da Finlândia”.

Também a Suécia expressou frustrações semelhantes e, no domingo, o Partido Social-Democrata adotou uma posição favorável à adesão do país à NATO.


Para a primeira-ministra sueca, Magdalena Andersson, a invasão russa da Ucrânia é “ilegal e indefensável”. A Suécia, disse, “não pode excluir” que a Rússia tome a mesma ação na “vizinhança” daquele país do norte da Europa.

A Suécia e a Finlândia preenchem vários critérios de adesão à NATO
, que incluem ter um sistema político democrático baseado numa economia de mercado, tratar as populações minoritárias de forma justa, comprometer-se a resolver conflitos pacificamente, a capacidade e vontade de contribuir para as operações militares da Aliança Atlântica e comprometer-se com as relações e instituições civis-militares democráticas. Reservas da Turquia
O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, afirmou no domingo que a “porta da NATO está aberta para os países nórdicos. A Finlândia e a Suécia são parceiros próximos”.

No entanto, a Turquia, membro da NATO, que se ofereceu para mediar as negociações entre a Rússia e a Ucrânia, manifestou reservas à adesão da Finlândia e da Suécia.

Na passada sexta-feira, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, afirmou que não encarava “positivamente” a adesão da Finlândia e da Suécia à NATO, acusando os dois países de alojarem “organizações terroristas curdas”.

Erdogan referia-se ao Partido dos Trabalhadores Curdos (PKK), que procura um Estado independente na Turquia. O grupo está numa luta armada com Ancara há décadas e foi designado com organização terrorista por Turquia, União Europeia e Estados Unidos.

A Turquia também considera os combatentes do YPG uma extensão do PKK, mesmo através dos seus aliados da coligação liderada pelos EUA na Síria, e desempenhou um papel importante na expulsão do Estado Islâmico do norte da Síria. A Finlândia e a Suécia acolhem uma comunidade curda, embora Erdogan não tenha fornecido pormenores sobre a quem se referia.

Apesar do processo de ratificação poder levar algum tempo, Stoltenberg considera que a intenção turca “não é bloquear a adesão”.

"Estou confiante de que seremos capazes de abordar as preocupações que a Turquia expressou de uma forma que não atrase a adesão ou o processo de adesão, pelo que a minha intenção continua a ser ter um processo rápido e rápido", afirmou o secretário-geral da NATO.

Putin vê a NATO como um baluarte dirigido à Rússia, apesar de o bloco ter passado grande parte do período pós-soviético concentrado em questões como o terrorismo e a manutenção da paz.

Antes da invasão da Ucrânia, Putin deixou clara a crença de que a NATO se tinha aproximado demasiado da Rússia e deveria ser despojada das suas fronteiras dos anos 90 - antes de alguns países que eram vizinhos da Rússia ou ex-Estados Soviéticos terem aderido à Aliança Atlântica.

O desejo da Ucrânia de aderir à NATO e o seu estatuto de parceiro – visto como um passo no caminho para uma eventual adesão plena – foi uma das inúmeras queixas que Vladimir Putin citou numa tentativa de justificar a adesão ao país vizinho.

Desde a invasão russa à Ucrânia, o apoio público à adesão à NATO na Finlândia passou de cerca de 30 para 80 por cento em algumas sondagens. E a maioria dos suecos também aprova a adesão do seu país à Aliança Atlântica.
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