Após libertação, Joshua Wong pede apoio para detidos na China que incluem jovem português

por Lusa

O ativista pró-democracia Joshua Wong, detido hoje em Hong Kong e libertado horas depois, apelou à intervenção da comunidade internacional no caso do grupo preso na China há mais de um mês, que inclui um jovem português.

"Peço à comunidade internacional que, em vez de se concentrar apenas em ativistas proeminentes como eu, (...) preste atenção aos 12 detidos em Shenzhen [na China continental], numa `detenção secreta` que viola completamente os direitos humanos", disse Joshua Wong aos jornalistas que o esperavam à saída da esquadra, onde esteve detido durante algumas horas.

O ativista foi detido hoje por volta das 13:00 [06:00 da manhã em Lisboa], quando se apresentou na Esquadra Central da Polícia para um controlo judicial, no âmbito de outro processo, por suspeitas de ter participado numa manifestação não autorizada em 05 de outubro, no ano passado, sendo ainda acusado de violar uma polémica lei anti-máscara, mais tarde considerada inconstitucional.

À saída da esquadra, Wong instou o Governo a "parar com a perseguição política", afirmando que este é o terceiro processo que tem de enfrentar desde junho, data em que a lei da segurança nacional imposta por Pequim ao território entrou em vigor.

"A audiência foi fixada para 30 de setembro, às 14:30", informou o ativista à saída da esquadra, precisando que a data coincide com "a véspera do Dia Nacional da China" e é também "um dia antes de se saber quais as acusações contra os 12 [ativistas de Hong Kong] detidos na China", ao abrigo da lei chinesa, que permite a detenção até 37 dias sem aprovação formal dos procuradores.

"Como poderia ser o destino?", ironizou.

Os 12 ativistas pró-democracia, que incluem o estudante universitário Tsz Lun Kok, com dupla nacionalidade chinesa e portuguesa, foram detidos em 23 de agosto pela guarda costeira chinesa, por suspeita de "travessia ilegal", quando se dirigiam de barco para Taiwan, onde se pensa que procuravam asilo político.

O advogado em Hong Kong do estudante com passaporte português disse à Lusa em 04 de setembro que as autoridades chinesas recusaram o acesso ao advogado mandatado pela família no continente chinês, alegando que "a investigação do caso não está concluída, e que [o detido] não tem o direito de ver um advogado".

Segundo familiares dos detidos, desde a detenção nenhum dos ativistas pôde contactar a família nem ter acesso a advogados mandatados pelos seus familiares, tendo a China nomeado, em alguns casos, advogados oficiosos.

Numa mensagem no Twitter após deixar a esquadra, Joshua Wong disse que "não há nada para celebrar nesta bizarramente rápida libertação", precisando que arrisca cinco anos de prisão por "reunião ilegal" e um ano por violar a proibição de usar máscara.

"Não fico desencorajado, quando penso noutros manifestantes com dificuldades detidos em HK [Hong Kong] ou na China continental", acrescentou.

O advogado de Joshua Wong confirmou hoje à agência de notícias France-Presse (AFP) a detenção do destacado ativista por suspeitas "de ter participado numa reunião ilegal em 05 de outubro, quando centenas e centenas de pessoas se manifestaram para protestar contra a interdição do uso de máscara decidida pelo Governo".

As autoridades invocaram disposições de 1922, que não eram usadas desde 1967, para proibir o uso de máscaras durante os protestos de 2019, com a justificação de que a sua utilização facilitaria comportamentos violentos.

Um dia depois do anúncio, em 04 de outubro, manifestantes saíram às ruas para protestar contra a proibição.

Com 23 anos, Wong é um dos rostos mais conhecidos da chamada "revolução dos guarda-chuvas", em 2014, e chegou a ser detido e condenado após os protestos desse ano. Foi nomeado para o Prémio Nobel da Paz, em 2017, e esteve preso em 2018, tendo sido mais tarde libertado.

Em 30 de julho, o ativista foi afastado das eleições parlamentares, que chegaram a estar agendadas para setembro, mas foram adiadas por um ano, alegadamente por receios ligados à pandemia.

O jovem fundou o partido Demosisto, dissolvido pelos seus responsáveis no dia em que a lei de segurança nacional entrou em vigor.

Nessa altura, o ativista disse à Lusa que temia ser um dos principais alvos da lei imposta por Pequim ao território, na sequência dos protestos pró-democracia que agitaram Hong Kong em 2019.

Promulgada em 30 de junho pelo Presidente chinês Xi Jinping, a nova lei permite punir quatro tipos de crimes contra a segurança do Estado: atividades subversivas, secessão, terrorismo e conluio com forças estrangeiras que ponham em risco a segurança nacional em Hong Kong.

A comunidade internacional, incluindo os Estados Unidos e a União Europeia, além de diversas organizações não-governamentais (ONG), expressaram o receio de que a lei sirva para silenciar vozes críticas em Hong Kong, após um ano de protestos que levaram a nove mil detenções na ex-colónia britânica.

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