Apple assina "acordo secreto" de 275 mil milhões com Pequim para conseguir isenções legais

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Stephen Lam - Reuters

O CEO da Apple, Tim Cook, terá assinado um “acordo secreto” em 2016 com a China, avaliado em 275 mil milhões de dólares, para conseguir anular uma série de medidas regulamentares que teriam prejudicado a empresa. Em troca, a Apple prometeu ajudar a desenvolver a economia e as capacidades tecnológicas de Pequim, segundo revela o jornal The Information.

O iPhone da Apple tornou-se recentemente o telemóvel mais vendido na China, que assim se torna no seu segundo maior mercado depois dos Estados Unidos. A empresa registou 14,4 mil milhões de dólares de lucro naquele país no terceiro trimestre deste ano, o que representa um aumento de 58,2 por cento em relação ao período homólogo do ano passado.

Este sucesso súbito deve-se em grande parte a um acordo assinado pelo diretor executivo da Apple, Tim Cook, com a China. O acordo manteve-se em segredo, tendo apenas sido revelado esta terça-feira pelo jornal The Information.

Segundo o jornal, que teve acesso a documentos da Apple, Tim Cook reuniu-se pessoalmente com autoridades chinesas, em 2016, com quem assinou um acordo de 275 mil milhões de dólares. No acordo, a Apple prometia investir na economia e nas capacidades tecnológicas da China e, em troca, podia fazer negócios livremente no país.

O acordo surgiu numa altura em que a multinacional norte-americana lutava para salvar a relação com as autoridades chinesas, que acreditavam que a empresa não estava a contribuir o suficiente para a economia local. Devido à repressão do governo chinês e à má publicidade, as vendas de iPhones na China caíram a pique.

Em 2016, os administradores da Apple estavam preocupados face às medidas regulamentares de Pequim e às ameaças contra ativos como a Apple Pay, iCloud e App Store. Foi então que Tim Cook deu início a uma série de reuniões secretas com funcionários do Governo de Pequim e que culminariam no acordo bilionário.

Nesse acordo, a multinacional norte-americana promete ajudar os fabricantes chineses a desenvolver “tecnologias de fabrico mais avançadas”, “apoiar a formação de talentos chineses”, usar um maior número de componentes de fabricantes chineses e abrir-se a acordos com empresas de software chinesas.

A Apple prometeu ainda investir "muitos milhares de milhões de dólares", mais do que os valores agora aplicados no país, incluindo o desenvolvimento de novas lojas, instalações de pesquisa e desenvolvimento e projetos de energia renovável. Outros documentos, aos quais The Information teve acesso, mostraram que a promessa da Apple totalizou mais de 275 mil milhões de dólares em despesas no período de cinco anos.

O acordo foi assinado logo após Cook ter anunciado um investimento de mil milhões de dólares na startup chinesa Didi Chuxing. O acordo era válido por cinco anos e pressupunha a renovação automática até maio de 2022, caso não venham a existir objeções de ambas as partes.

O jornal The Independent tentou contactar a Apple, mas não obteve para já qualquer resposta.

Em novembro último, Cook disse num fórum de negócios que na Apple tem a “responsabilidade” de vender os seus produtos no maior número de países possível, incluindo a China.

O CEO da multinacional defendeu que a empresa deve “reconhecer que existem leis diferentes noutros mercados”.
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