Assassínios selectivos. Drones israelitas assumem operações na Cisjordânia

por RTP
Um drone Elbit Hermes 450, de fabrico israelita. Wikipedia

A chefia militar israelita deu luz verde a assassínios selectivos de palestinianos através do uso de drones armados num momento em que se teme uma escalada de violência há muito não vista nos territórios palestinianos da Cisjordânia. Uma operação recente em que as forças israelitas encontraram forte resistência na região terá precipitado a decisão da cúpula militar israelita.

A escalada de violência na Cisjordânia coloca as forças israelitas perante o cenário de uma intervenção automatizada, em que os meios humanos devem ser poupados aos confrontos com a resistência palestiniana, quando a região assiste a um recrudescer dos tiroteios durante as operações militares do IDF (Forças de Defesa de Israel, Israel Defense Forces na designação original).

A utilização de drones surge agora como a solução ideal para evitar os confrontos no terreno, durante as quais as patrulhas israelitas arriscam no combate directo.

Na última semana, uma incursão do IDF na cidade palestiniana de Jenin – onde um sniper israelita terá em Maio passado matado deliberadamente, de acordo com uma organização de defesa dos Direitos Humanos sediada em Londres, a jornalista Shiren Abu Akleh – foi recebida com tiros por parte de um grupo palestiniano. 

Os comandantes das IDF na Cisjordânia terão recebido luz verde para lançar operações de assassínios selectivos com drones armados depois de a operação ter resultado na morte de quatro palestinianos – outros 44 ficaram feridos – num recontro marcado por forte tiroteio quando os militares israelitas procuravam capturar Abd al-Rahman Hazem, irmão de um “terrorista” acusado de em Abril ter matado três civis em Telavive.

A aprovação destas operações veio, segundo The Jerusalem Post, do chefe do Estado-Maior, tenente-general Aviv Kohavi, que, após os confrontos manteve um encontro com o chefe do Comando Central, major-general Yehuda Fuchs, e o comandante da Divisão da Cisjordânia, brigadeiro-general Avi Blot.

A cúpula militar israelita teme uma escalada da violência para um patamar semelhante a 2002, quando o IDF lançou a Operação Escudo Protector, a maior operação militar na Cisjordânia desde a Guerra dos Seis Dias, em 1967 (morreram 497 palestinianos e 30 israelitas).

O descontrole no terreno foi já admitido pelo próprio ministro do Interior, Omer Bar Lev, que aos microfones da Rádio do Exército dizia esta quinta-feira que, não sendo intenção de Israel “lançar uma operação de larga escala (…), se a situação continuar a deteriorar-se (…) esse é um cenário que pode vir a concretizar-se”.

Israel está a “fazer esforços e a tomar contramedidas” para evitar esse cenário e “a possibilidade de o Hamas e a Jihad Islâmica se deslocarem da Faixa de Gaza caso lancemos uma operação não nos vai deter”, acrescentou Omer Bar Lev.

Uso de drones para assassínios selectivos não é de agora

De acordo com um artigo do Jerusalem Post no início do mês, comandantes do IDF começaram já a receber treino específico para a operação de drones armados nos territórios ocupados em operações de contra-terrorismo.

Em formação estará uma unidade especial da Força Aérea para o controlo destes drones, que deverá ser deixada à liderança dos comandantes da brigada da Judeia e Samaria, o brigadeiro-general Yaniv Alaluf, e da brigada de Menashe, o coronel Arik Moyal.

Serão usados drones Elbit Hermes 450 de fabrico israelita, um sistema com autonomia de 20 horas de voo pensado para missões de vigilância, reconhecimento e comunicações, mas também de ataque.

De acordo com o Jerusalem Post, remonta a 2008 o uso de drones pela Força Aérea Israelita para levar a cabo assassínios selectivos na Faixa de Gaza contra membros do Hamas e da Jihad Islâmica. O sistema nunca foi, contudo, accionado na Cisjordânia.

Refere o diário israelita que, “embora a imprensa internacional tenha noticiado o uso destes drones pela Força Aérea Israelita pelo menos nos últimos 20 anos, o que tem sido amplamente documentado em telegramas diplomáticos dos EUA, bem como em espetáculos aéreos internacionais, a Força Aérea Israelita nunca revelou publicamente o uso destes sistemas. Os jornalistas israelitas que tentaram publicar informações desses relatórios foram bloqueados pela censura”.
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