Associação Brasileira de Jornalismo condena declarações de Moro contra o `The Intercept`

por Lusa

Brasília, 20 jun 2019 (Lusa) - A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) repudiou na quarta-feira, em comunicado, os "ataques a Glenn Greenwald e equipa do The Intercept" por parte do ministro da Justiça do país, Sergio Moro, e por deputados federais.

"O ministro da Justiça, Sergio Moro, chamou o Intercept, no Twitter, de "`site` aliado a `hackers` criminosos" (...) Trata-se de uma manifestação preocupante de um ministro que já deu diversas declarações públicas de respeito ao papel da imprensa e à liberdade de expressão. Moro (...) erra ao insinuar que um veículo (de comunicação) é cúmplice de crime ao divulgar informações de interesse público", declarou a Abraji em comunicado.

O The Intercept é um portal de jornalismo de investigação liderado por Glenn Greenwald, jornalista a quem o ex-analista norte-americano Edward Snowden revelou os programas de espionagem da Agência de Segurança Nacional norte-americana (NSA, na sigla em inglês).

Desde o dia 09 de junho, o portal jornalístico The Intercept tem publicado uma série de reportagens sobre alegadas mensagens secretas obtidas de uma fonte anónima, que terão sido trocadas por Moro com procuradores da Operação Lava Jato, à época quando era o juiz responsável por analisar os processos da investigação em primeira instância.

Segundo o Intercept, as conversas lançam dúvidas sobre o desempenho de Moro nos processos da Lava Jato, nomeadamente no julgamento que levou à prisão do ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"O Intercept alega que recebeu de uma fonte anónima mensagens privadas de Moro e de procuradores da Lava Jato. Jornalistas e veículos não são responsáveis pela forma como a fonte obtém as informações", frisou a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo.

Nesta quarta-feira, ao longo de uma audiência no Senado brasileiro, por diversas vezes, o atual ministro da Justiça acusou o The Intercept de ser "sensacionalista", acrescentando que as mensagens divulgadas pelo portal jornalístico podem ter sido "total ou parcialmente editadas".

De acordo com a Abraji, na última quinta-feira, o deputado federal Carlos Jordy do Partido Social Liberal (PSL), ameaçou de "deportação" o jornalista Glenn Greenwald, do The Intercept, acusando-o de cometer "crimes contra a segurança nacional".

A associação diz ainda que Heitor Freire e Charlles Evangelista, ambos também deputados federais do PSL, "publicaram nas suas redes sociais montagens com fotos de Greenwald e afirmações falsas de que David Miranda (companheiro de Greenwald) é acusado de terrorismo e condenado por crimes contra a segurança do Reino Unido".

"A Abraji manifesta solidariedade a Glenn Greenwald e repudia os ataques direcionados a ele, à sua família e a seus colegas do Intercept, especialmente os que partem de agentes públicos. Tentativas de intimidar e silenciar um veículo são ações típicas de contextos autoritários e não podem ser tolerados na democracia que rege o país", concluiu a associação em comunicado.

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