Ataques russos à rede de energia equivalem a genocídio, acusa Ucrânia

por Inês Moreira Santos - RTP
Reuters

Os ataques perpetrados pela Rússia às instalações da rede de energia da Ucrânia tinham como alvo "toda a nação" e visavam a rendição de Kiev. Numa entrevista à BBC, procurador-geral ucraniano considerou que os bombardeamentos às infraestruturas importantes do país equivalem a genocídio.

Por genocídio pode-se considerar o extermínio de todos os indivíduos pertencente a um mesmo grupo, uma limpeza étnica ou até mesmo um assassínio em massa por motivos políticos. Perturbar e causar sérios danos a uma determinada população também pode, segundo a definição das Nações Unidas, ser considerado um genocídio.

Com os ataques russos ao seu território e os consequentes cortes de energia no país, numa altura em que a Ucrânia já enfrenta temperaturas negativas, Kiev acusa Moscovo de genocídio. A Rússia, no entanto, nega ter esse objetivo com a invasão.

Segundp Volodymyr Zelensky, as populações de 14 regiões, incluindo na capital, continuam com restrições no uso de energia devido aos cortes frequentes, depois dos ataques russos. No domingo, o presidente da Ucrânia avisou os cidadãos para estarem preparados para as consequências de novos ataques da Rússia, depois de ter acusado Moscovo de usar o frio contra a população.

"Enquanto tiverem mísseis, infelizmente não vão parar", afirmou. "Juntos e ajudando-nos uns aos outros, superaremos também este desafio da guerra: este inverno, esta tentativa da Rússia de usar o frio contra o povo".

A onda de ataques de mísseis russos, a 23 de novembro, contra a infraestrutura energética, obrigou as autoridades ucranianas a desligarem as centrais nucleares e a maioria das centrais térmicas e hidroelétricas da rede para evitar acidentes, o que fez mergulhar grande parte do país na escuridão.

E como contou Andriy Kostin à emissora britânica, para além dos bombardeamentos às infraestruturas de energia, mais de 11 mil crianças ucranianas foram deportadas à força para a Rússia.

Também este fim de semana, o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, acusou o Presidente russo, Vladimir Putin, de tentar usar o inverno como arma. Stoltenberg lembrou "como é perigoso" para a população europeia "depender da Rússia" para o fornecimento de gás natural.

"Temos agora de avaliar a nossa dependência de regimes autoritários, especialmente da China"
, indicou o responsável.
Crimes de guerra
A procuradoria-geral da Ucrânia, segundo explicou Kostin, está a investigar a denuncia de quase 50 mil crimes de guerra e de agressão desde que Moscovo de início à ofensiva, em fevereiro.

Um crime de guerra, recorde-se, constitui uma violação das chamadas "regras" de guerra estabelecidas por tratados internacionais, incluindo a Convenção de Genebra, que garantem que os civis devem ser protegidos. Mas a Rússia tem sido acusada de violar essa lei e de pôr em risco a população ucraniana.

Só este fim de semana, por exemplo, o ataque russo a prédios de habitação em Dnipro matou pelo menos um civil e deixou 13 feridos. E em Kherson, foram mortas em ataques russos mais 32 pessoas, mesmo depois de as forças russas terem deixado a região.

Dos crimes de guerra identificados desde o início da invasão da Rússia em fevereiro, Kostin disse que 260 pessoas foram indiciadas e 13 veredictos foram emitidos por tribunais ucranianos. Mas o procurador-geral apela à criação de um "tribunal ad hoc internacional", apoiado por países de "todo o mundo civilizado" que se aponham à invasão para responsabilizar a Rússia.

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