Atleta italiana filha de nigerianos atacada em Itália

por RTP
A atleta foi perseguida por um carro enquanto regressava a casa Alessandro Di Marco - EPA

A atleta italiana de origem nigeriana Daisy Osakue foi agredida na segunda-feira num aparente ataque racista. A agressão feriu a córnea da rapariga de 22 anos, que espera poder competir no Campeonato da Europa de Atletismo na próxima semana.

Osakue, de 22 anos, foi perseguida por um grupo de jovens num carro na madrugada de segunda-feira, quando regressava a casa. Estes atiraram-lhe ovos, um dos quais, ao atingi-la no olho, provocou uma lesão na córnea da atleta, que teve de ser operada.

Apesar de não ter ouvido insultos xenófobos, a italiana, filha de pais nigerianos, acredita que foi vítima de racismo.

“Quem é que sai com ovos àquelas horas? Já fui vítima de racismo noutras ocasiões, mas até agora só tinham sido ataques verbais. Quando se passa à ação significa que se ultrapassou uma barreira”, declarou a atleta aos órgãos de comunicação italianos.

Segundo o jornal The Local Italy, Osakue acredita que os jovens estavam à procura de uma mulher negra: “Há prostitutas a trabalhar naquela zona e eu acho que me confundiram com uma delas”.

Os médicos afirmaram que Osakue deve recuperar a tempo de participar no Campeonato da Europa de Atletismo, que terá lugar na próxima semana em Berlim. Caso participe, a atleta irá representar o país italiano, como reporta a agência Reuters.
“Ataques são uma emergência”
A polícia local duvida de que Daisy Osakue tenha sido, de facto, vítima de racismo, alegando que já ocorreram incidentes semelhantes com residentes brancos.

No jornal The Local Italy pode ainda ler-se que o primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, referiu numa conferência de imprensa em Washington que já tinha contactado a atleta.

“Ela disse-me pessoalmente que não lhe pareceu ter havido um contexto racista”, alegou Conte, apesar de Osakue ter dito à imprensa italiana que não dispensa totalmente essa hipótese.

O ministro do Partido Democrático italiano, Matteo Renzi, já se manisfestou sobre a situação num tweet, onde se pode ler que “os ataques contra pessoas de cor de pele diferente são uma emergência. Agora é óbvio, ninguém pode negá-lo, especialmente os que estão no Governo”.

Bebé cigana atingida a tiro
De acordo com o jornal espanhol El País, Daisy Osakue é a segunda vítima de ataques alegadamente racistas em Itália em menos de 24 horas. No último caso, dois italianos, ao darem conta de um veículo suspeito na sua rua, depreenderam que os dois ocupantes eram ladrões e decidiram fazer justiça pelas próprias mãos.

Alertaram a polícia, mas até esta chegar ao local perseguiram um dos ocupantes que não conseguiu fugir, um marroquino de 43 anos, e pontapearam-no. Quando as autoridades chegaram, já estava morto.

De acordo com a agência Reuters, pelo menos oito migrantes de vários países africanos foram mortos a tiro desde o início de junho em alegados ataques racistas. Para além disso, também uma bebé cigana foi atingida a tiro, existindo o risco de ficar paralisada para o resto da vida.

O italiano que disparou a arma a partir de uma varanda negou estar a tentar atingir a população cigana, defendendo que a pistola falhou quando tentava ajustá-la, como é explicado pelo Daily Mail.
"Emergência de racismo? Não sejam estúpidos”

Desde que entrou para o Governo, Matteo Salvini, ministro italiano do Interior, tem-se mostrado fortemente contra a imigração, mandando encerrar portos a navios humanitários.

Depois destes episódios alegadamente xenófobos, a oposição ao Governo e algumas associações têm falado de uma “emergência de racismo”, mas o Governo italiano nega essa situação, culpando a imigração.

“Existe uma emergência de racismo em Itália? Não sejam estúpidos”, afirmou Salvini em comunicado na segunda-feira, respondendo ao episódio de Daisy Osakue.

Afirmando estar do lado de qualquer vítima de violência, Salvini acrescentou: “Certamente que a imigração em massa permitida pela esquerda não ajudou à situação”.
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