Aulas recomeçam em Angola com muitos alunos para poucas carteiras

por Lusa

Luanda, 23 jan (Lusa) - Carteiras danificadas, chão esburacado, uma infraestrutura a carecer de reabilitação e brigas entre alunos por uma carteira é o cenário da escola primária 1126, no distrito urbano do Sambizanga, centro de Luanda, com professores a lamentarem o cenário.

A duas semanas do início das aulas, os professores daquela escola preveem que 2018 será um ano com as mesmas dificuldades dos anteriores, entre a aflição diária dos alunos, devido, desde logo, à falta carteiras.

"A situação é a falta de carteiras, precisamos de uma boa pintura, salas degradadas, carteiras partidas. Estamos mesmo a necessitar, está mal, os alunos não conseguem sentar-se e passam mal durante as aulas", contou à Lusa a professora Ludmila Feijó Rodrigues.

Durante as aulas, explicou, as poucas carteiras que ainda resistem chegam mesmo a motivar confrontos entre alunos.

"Eles brigam para conseguirem sentar-se, por isso pedimos que nos ajudem. E ainda temos os problemas das casas de banho com esgotos entupidos", desabafa a professora.

A escola 1126 descreve apenas uma realidade igual a outras. Já em 2017, a diretora da Educação de Luanda, Joana Torres, afirmou à Lusa que faltavam pelo menos 20.000 carteiras nas escolas da capital.

Já na escola primária 1126, as sete salas de aulas têm carteiras degradadas, albergando cerca de 1.000 alunos, distribuído em três turnos, lecionando até à 6.ª classe.

Contas feitas, cada sala vai ter de receber 45 alunos neste ano letivo, que arranca em fevereiro com as mesmas dificuldades dos últimos cinco anos.

"A situação é muito preocupante porque a par do cheiro, vai o calor e não trabalhamos em condições. O ano letivo começa e vamos começar com o mesmo problema, não há carteiras e não sei como vai ser", atirou.

Segundo a professora, de 43 anos, as autoridades do distrito do Sambizanga estão a par do que se passa.

"Sabem das nossas preocupações, sobretudo as pessoas de direito, mas os anos passam e estamos assim e nestas condições é difícil de trabalhar, estamos mal", disse.

A situação da escola primária 1126 foi igualmente apresentada pela professora Graça Lassalete André, que descreve a falta de carteiras como o "maior problema".

"Temos falta de carteiras, a nossa infraestrutura está a degradar-se. Como vêem, os problemas são variados como as casas de banho, esgotos, e a nossa escola é muito solicitada", lamentou.

Questionada como tem sido possível dar aulas perante uma sala sem carteiras, a professora fala na "ginástica" que tem sido necessária.

"Uns usam as carteiras boas e os outros, que chegam tarde, sentam nos tampos, ferros, nas carteiras danificadas. É uma situação difícil e até corremos riscos das carteiras danificadas aleijarem os alunos ou mesmo o professor", disse.

Apesar do "risco" de trabalhar naquelas condições, mostra-se conformada: "É a condição que nós temos para trabalhar e para os alunos aprenderem".

"Passou uma equipa da repartição de Educação e nos deu uma luz no fundo do túnel, de voltarem a passar no segundo trimestre, para ver escolas no distrito com carteiras excedentes, no sentido de poder enviar algumas para aqui. Estamos todos esperançosos", afirmou.

pub