Autarca de Mação responde ao ministro: "Ofendeu o meu carácter”

por RTP
Nos últimos dias desde sábado que duplicou a área ardida em Portugal no ano de 2019. Rafael Marchante - Reuters

Depois de vários dias de combate aos incêndios, os maiores desde o início do ano, sucede-se a troca de críticas entre o presidente da Câmara de Mação e o ministro da Administração Interna. O fogo que afetou vários concelhos no distrito de Castelo Branco e Santarém ficou dominado na terça-feira, mas a Proteção Civil já avisou que o risco de incêndio para quarta e quinta-feira será elevado devido à subida das temperaturas.

Vasco Estrela, autarca de Mação, respondeu ao final do dia de terça-feira com duras críticas dirigidas ao ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, considerando que o governante lhe disferiu um ataque pessoal e “indigno”.  

“Não é forma de um membro do governo tratar, de uma forma ofensiva, um presidente de Câmara. Posso discutir e discordar de ações que são tomadas, mas não entro no campo da ofensa e da ofensa de caráter”, disse o presidente da Câmara de Mação, em declarações à TSF.

 

Em causa estão as declarações de Eduardo Cabrita ontem, em entrevista ao Telejornal da RTP. “O presidente da Câmara de Mação, vejo com desgosto que aquilo que pensava ser uma perturbação motivada pela tensão da ocorrência que estava a passar-se no seu concelho, optou por não promover a ativação do plano municipal de emergência, não dar qualquer cooperação ao esforço de Proteção Civil e ser verdadeiramente um comentador televisivo, por que seguir a cada briefing, aparecia nas televisões a fazer comentários", sublinhou o ministro da Administração Interna.  

Vasco Estrela reagiu a estas declarações com “total surpresa”. “O que o senhor ministro fez é indigno de um membro do Governo porque ofendeu o meu carácter ao dizer que eu me preocupei mais em ser comentador televisivo do que em proteger os cidadãos deste concelho”, respondeu o autarca de Mação.  

“É uma vergonha que um membro do Governo perca tempo a ofender em termos pessoais o concelho que mais ardeu no país, onde as pessoas hoje estão a sofrer. Em vez de ter uma palavra de solidariedade para com estas pessoas, o senhor ministro prefere ofender em termos pessoais o presidente da Câmara. É lamentável que isto aconteça”, disse Vasco Estrela.  

"O ministro devia era justificar perante os maçaenses e perante os portugueses como é que possível ter aldeias inteiras sem um único bombeiro lá para as defender. Isso sim, é responsabilidade do ministro", frisou ainda o presidente da Câmara.  

Na entrevista à RTP, Eduardo Cabrita já tinha respondido às críticas sobre a falta de meios nas primeiras horas de combate às chamas em Vila de Rei e na Sertã, antes da propagação ao concelho de Mação, no passado sábado. "Tivemos cinco incêndios que começaram à mesma hora", afirmou, para em seguida apontar a "evolução extremamente rápida" de um deles.
Polémica com plano de emergência
Eduardo Cabrita tinha ainda criticado o autarca de Mação por não ter ativado a situação de emergência municipal. "Respeito a posição quer da Sertã, quer de Vila de Rei que, de imediato, declararam a situação de emergência municipal. Quem não o fez responderá perante as populações", afirmou.

“Houve dois presidentes de câmara que muito bem, muito bem, declararam de imediato a emergência municipal. As populações ajuizarão quem não o fez", reforçou o ministro.



Questionado sobre a aprovação tardia pelo Governo do novo Plano Municipal de Emergência de Mação, o ministro sublinhou que “a emergência municipal poderia ter sido declarada” e que o novo plano, aprovado apenas na terça-feira, era “uma atualização”.  

Em declarações posteriores, à TSF, o autarca de Mação respondeu às críticas: “"Nunca pensei que o ministro vivesse tão mal com opiniões divergentes, que quando confrontado com críticas claras e objetivas e factuais reagisse desta maneira. Lamento que tenha estado comigo às 15h00 e não tenha tido a coragem de dizer, olhos nos olhos, aquilo que foi dizer para a televisão”, apontou Vasco Estrela. 

"Acusa-me de não ativar o Plano Municipal de Emergência de Proteção Civil que o Governo aprovou hoje [terça-feira] de manhã. São estas coincidências que acontecem e que realmente são de lamentar. É pena também que o senhor ministro não diga em que é que alterava no rumo dos acontecimentos”, referiu ainda o autarca.

Vasco Estrela garantiu ainda que a Câmara de Mação colaborou “desde sempre” com a Proteção Civil.  

Ainda antes da troca de palavras entre Eduardo Cabrita e Vasco Estrela, o primeiro-ministro António Costa já tinha vindo dizer que são os autarcas “os primeiros responsáveis pela Proteção Civil em cada concelho”. Em resposta, o autarca de Mação considerou que as declarações do chefe de Governo “não foram corretas”. 
Risco elevado de incêndio

Na terça-feira, a Proteção Civil emitiu um aviso à população para o agravamento do risco de incêndio a partir de hoje e até quinta-feira, devido à subida das temperaturas acompanhada de diminuição da humidade relativa, segundo as previsões do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).  

A Proteção Civil alerta sobretudo para o risco de incêndio no interior do país, onde ocorreram nos últimos dias os maiores incêndios registados este ano em Portugal.  

Para esta quarta-feira, mais de 20 concelhos dos distritos de Portalegre, Castelo Branco, Santarém, Coimbra, Viseu e Bragança apresentam um risco máximo de incêndio. O risco manter-se-á elevado pelo menos até ao próximo sábado em vários distritos.  

Contabilizando os incêndios que tiveram início no último sábado, a área ardida este ano em Portugal duplicou. A zona do centro do país mais afetada já tinha perdido uma significativa percentagem de área florestal nos incêndios de 2017.  

De acordo com os dados do Sistema Europeu de Informação de Incêndios florestais (EFFIS), o incêndio que atingiu Vila de Rei e Mação consumiu um total de 9.631 hectares de floresta, número que se aproxima ao da área da cidade de Lisboa. 
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