Aviação norte-americana ataca indústria do ópio dos taliban

por Paulo Alexandre Amaral - RTP
A operação envolveu B52 que voaram de Al Udeid, no Qatar, além de outros meios de diferentes bases

Os Estados Unidos lançaram no último fim de semana uma operação de larga escala a instalações de processamento de ópio na província de Helmand, na região do norte afegão controlada pelos taliban. Nos ataques intervieram aviões estacionados no Afeganistão, Qatar, Emirados Árabes Unidos. O comandante das forças norte-americanas no Afeganistão, general John Nicholson, estima a destruição de droga no valor de milhões de dólares, numa ação que visa secar as fontes de financiamento dos radicais.

No ataque do passado fim-de-semana foram destruídas dez instalações de preparação e armazenamento de ópio, duas delas atacadas por aviões da força aérea afegã. Só numa destas fábricas, visada por B52 com bombas de duas toneladas, avançou o general John Nicholson, foram destruídos 50 barris de ópio que nas ruas poderiam chegar a valer milhões de dólares.O general Nicholson estima que o Afeganistão forneça 85 por cento do mercado mundial de ópio e 4% da heroína que entra nos Estados Unidos. Um relatório das Nações Unidas apontou recentemente que a produção de ópio afegão cresceu 87% só em 2017.

O chefe das forças americanas no Afeganistão acrescentou que os ataques visaram três infraestruturas no distrito de Kajaki, quatro em Musa Qala e uma em Sangin.

Nicholson fala na destruição de dez fábricas, duas delas visadas por aviões afegãos, apontando para a existência de até meio milhar destas instalações a funcionar no país – facto que deverá levar à continuação dos ataques: “Estas operação vão prosseguir nos próximos dias. Não vamos parar por agora”.

A operação é o resultado de um plano que implicou centenas de horas de vigilância num trabalho de uma extensa equipa de analistas que trabalharam no sentido de minimizar os riscos de danos colaterais.

Tratou-se de uma operação de larga escala em que foram envolvidos F16, a partir da base aérea afegã de Bagram, B52 que voaram da base de Al Udeid, no Qatar, F22 Raptor, que partiram de Al Dhafra, nos Emirados Árabes Unidos, para participarem pela primeira vez numa operação em espaço afegão (para chegar ao ponto de ataque foi necessário reabastecê-los em pleno voo por aviões KC-10 e KC-135), além de A29 da Força Aérea do Afeganistão.

De acordo com o general Nicholson, a mobilização de meios acontece numa altura em que os esforços norte-americanos foram aliviados do combate ao Estado Islâmico no Iraque e na Síria. De qualquer forma, a operação funciona igualmente como prova de vida da capacidade americana de mobilizar na região o contingente aéreo que mantém estacionado em vários países.Nicholson explicou que a intenção não é atacar o cultivo de papoilas, já que os Estados Unidos estão conscientes de que os agricultores são obrigados a isso pelos taliban.

A CNN adianta que, de acordo com uma fonte no Pentágono, as forças norte-americanas a região terão já levado a cabo novos ataques contra os laboratórios de ópio do taliban. Há muitos anos que a indústria da droga é apontada como uma das principais fontes de receita do grupo radical e não é a primeira vez que os aliados iniciam uma guerra ao ópio afegão.

A mesma estratégia deu frutos também na frente contra o Estado Islâmico, quando os sistemáticos bombardeamentos a instalações petrolíferas afectaram aquela que era uma das suas principais fontes de receita no Iraque e na Síria.

Mas os ataques não são apenas resultado destas circunstâncias, mas também da alteração da política norte-americana para a região. A estratégia do presidente Donald Trump tem um selo vincadamente anti-droga, uma campanha que neste caso permite “atingir o inimigo onde mais lhe dói, a sua fonte de financiamento”, sublinha o general John Nicholson.
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