BAD aceita pedido dos EUA e lança investigação externa à gestão do presidente

por Lusa
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A direção do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) aceitou lançar uma investigação externa e independente à gestão do presidente, Akinwumi Adesina, na sequência desta exigência feita pelos EUA e apoiada pelos países nórdicos.

De acordo com a agência de informação financeira Bloomberg, a direção do BAD concordou com o secretário de Estado das Finanças dos Estados Unidos, que defendeu uma investigação externa por ter "profundas preocupações" com o relatório original que ilibou Adesina de favorecimento e de nepotismo na gestão desta instituição multilateral financeira.

Ao pedido dos Estados Unidos juntou-se a Suécia, a Noruega e a Dinamarca, para além de outros países não identificados no artigo da Bloomberg, que cita duas pessoas que conhecem a decisão, que ainda não foi anunciada oficialmente, e que pode obrigar Adesina a afastar-se da liderança do banco até à conclusão do processo.

A Lusa questionou o BAD sobre esta decisão, mas sem resposta até ao momento.

"Temos profundas reservas sobre a integridade do processo da comissão; ao invés, apelamos a que seja iniciada uma investigação profunda sobre as alegações usando os serviços de um investigador externo, de alto gabarito", lê-se numa missiva enviada pelos EUA ao presidente da comissão de ética, que ilibou Akinwumi Adesina das acusações feitas por um grupo de funcionários anónimo.

O presidente do BAD foi acusado por um grupo de denunciantes funcionários do banco de entregar contactos a conhecidos e de nomear parentes para posições estratégicas no BAD, o maior banco multilateral africano.

"Considerando o âmbito, a seriedade e o detalhe destas alegações contra o único candidato à liderança do banco nos próximos cinco anos, acreditamos que um inquérito adicional é necessário para garantir que o presidente do BAD tem apoio, confiança e um mandato claro dos acionistas", disse, numa carta divulgada na segunda-feira, Mnuchin, que representa o maior acionista do banco a seguir à Nigéria.

Akinwumi Adesina, de 60 anos, é o único candidato à liderança do banco para os próximos cinco anos, e tem repetidamente negado as acusações de que é alvo por parte do grupo de funcionários do banco, com sede em Abidjan.

As críticas dos EUA, três meses antes da assembleia-geral que escolherá o novo presidente, surgem na sequência dos comentários do presidente do Banco Mundial, David Malpass, em fevereiro, segundo os quais os bancos de desenvolvimento multilaterais, entre os quais o BAD, tendem a dar empréstimos demasiado depressa e, no processo, aumentam os problemas dos países africanos com o endividamento.

O BAD refutou estas alegações e exemplificou que a Nigéria, um dos países citados por Malpass, tinha recebido mais empréstimos do Banco Mundial do que do banco africano, e classificou as declarações como "erradas e sem correspondência aos factos".

Os funcionários do BAD que lançaram uma queixa contra o seu presidente e defenderam a necessidade de uma "investigação independente", depois de o comité de ética ter arquivado as acusações.

"É urgentemente necessária uma investigação independente", lê-se num documento enviado de forma anónima pelos funcionários do banco à agência de notícias France-Presse, na sequência do arquivamento da queixa original apresentada pelos colaboradores do banco multilateral de desenvolvimento.

De acordo com aquela agência noticiosa, o documento foi enviado aos governadores do banco, no princípio de maio, e surge depois de o comité de ética do banco ter considerado que as queixas contra Akinwumi Adesina, de favorecimento e prepotência, entre outras, não tinham provimento.

A acusação denunciava que Adesina entregava os maiores contratos a seus conhecidos e nomeava familiares e amigos para os cargos de maior importância, criticando também a prepotência na condução do banco e o afastamento de críticos do seu trabalho.

Depois de examinar as alegações "ponto por ponto", o comité concluiu que "a queixa não é baseada em nenhum facto concreto e sólido", de acordo com a conclusão da investigação, que data de 26 de abril, e foi consultada pela agência de informação financeira Bloomberg.

Também nas últimas semanas, o banqueiro tem recebido vários apoios, entre os quais está o do chefe de Estado da África do Sul e presidente em exercício da União Africana, Cyril Ramaphosa, e da antiga Presidente da Libéria Ellen Johnson-Sirleaf, que o elogiaram pelos esforços para garantir financiamento para o combate à pandemia da covid-19, e hoje do ministro das Finanças da Guiné Equatorial.

Em março, o banco emitiu títulos de dívida no valor de 3 mil milhões de dólares (2,75 mil milhões de euros) e lançou também um instrumento financeiro de 10 mil milhões de dólares (9,1 mil milhões de euros) para as nações africanas com o mesmo objetivo.

O BAD é o maior banco multilateral e tem um `rating` de triplo A das três maiores agências de rating - Moody`s, Standard & Poor`s e Fitch --, tendo como acionistas 54 nações africanas e vários países fora do continente, entre os quais está Portugal e, mais recentemente, a Irlanda do Norte, que anunciou há semanas a sua entrada como acionista.

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