Bielorrússia. Buscas em mais de 40 casas e escritórios de ativistas e jornalistas

por Graça Andrade Ramos - RTP
Durante uma visita a Moscovo terça-feira, 13 de julho de 2021, o Presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko, disse-se pronto a "lidar" com as organizações que acusa de provocarem distúrbios Reuters

As buscas decorreram horas depois de o Presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko, ter prometido "lidar" com as organizações não-governamentais que acusa de suscitar distúrbios e de ser financiadas pelo Ocidente.

Entre os visados estiveram advogados do centro de Direitos Humanos Viasna-96, jornalistas e ativistas de pelo menos 14 organizações de todo o país, que viram as suas residências e locais de trabalho invadidos pela polícia. “Está a decorrer a maior repressão sistemática da história recente da Bielorrússia”, disse Andrei Bastunets, diretor da Associação Bielorrússia de Jornalistas, à Associated Press, depois dos escritórios da organização terem sido revistados às primeiras horas de quarta-feira.

O Comité de Helsínquia Bielorrusso, a Associação Mundial de Bielorrussos, o movimento Pela Liberdade e a Associação Perspetivas de Género, foram igualmente assaltadas, tal como a sede do mais antigo partido político da Bielorrússia, a Frente Popular Bielorrussa.

Casas e locais de trabalho de jornalistas e de ativistas em Orsh, Grodno, Brest e outras cidades foram também alvo de buscas.

Desconhece-se o paradeiro do diretor da Viasna-96, Ales Bialiatski. A organização, a maior do género no país, tem monitorado a situação dos Direitos Humanos na Bielorrússia nos últimos 25 anos apesar de ter sido ilegalizada em 2003. Bialiastski foi detido em 2012, tendo passado dois anos na prisão.

Nos últimos meses, a Viasna-96 foi a melhor fonte sobre as detenções ocorridas no país. Terça-feira à noite reportou a existência de mais de 555 prisioneiros políticos reconhecidos na Bielorrússia.

A líder da oposição, Sviatlana Tsikhaouskaya, escreveu na rede social Telegram a partir do exílio na Lituânia, que “os cúmplices do regime já ameaçaram a sociedade civil em resposta às sanções – esperam voltar a sentir o poder se todos no país ficarem em silêncio”.

Tida como a vencedora das presidenciais de 2020 pela generalidade dos observadores, Sviatlana Tsikhaouskaya tweetou ainda esta quarta-feira que Lukashenko “quer desolar o país inteiro”. “O regime prossegue o seu ataque massivo contra os defensores dos direitos humanos, ativistas e jornalistas”, escreveu.
Purga
Na semana passada as autoridades invadiram mais de 30 locais ligados a jornalistas e organizações de media na capital Minsk e noutras regiões do país. Sete jornalistas foram detidos, incluindo alguns que trabalhavam para o jornal Nasha Niva, recém ilegalizado. Há atualmente 39 jornalistas atrás das grades na Bielorrússia, a aguardar ser presentes a tribunal ou condenados.

O Comité para a Segurança do Estado, sede dos serviços secretos do país, anunciou no início do mês que estava a preparar uma operação em larga escala para “purgar indivíduos radicais”.

Na terça-feira, Lukashenko prometeu levar à justiça 1.500 ONG e jornalistas “financiados a partir do exterior”. Durante uma visita a Moscovo, Rússia, afirmou que organizações financiadas pelo Ocidente estavam a fomentar distúrbios e denunciou a ilegalidade dessas alegadas ações.

“Começamos a agir ativamente contra todas estas ONG, que estavam a promover efetivamente o terror em vez da democracia”, afirmou Lukashenko.

A Bielorrússia tem sido alvo de protestos quase constantes desde as eleições presidenciais em agosto de 2020, cujos resultados foram considerados fraudulentos internamente e internacionalmente. Lukashenko afirmou-se como vencedor para um sexto mandato.

A resposta das autoridades foi a repressão generalizada das manifestações com extrema violência. Mais de 35 mil pessoas foram detidas, incluindo os líderes da oposição que não escolheram o exílio. A imprensa independente tem sido forçada a encerrar e os seus jornalistas detidos.
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