Brasil enfrenta "problema complexo" que mostra "fragilidade do sistema democrático", diz Xanana Gusmão

por Lusa

Lisboa, 19 out (Lusa) - O antigo Presidente de Timor-Leste Xanana Gusmão disse hoje, em Lisboa, que o Brasil vive "um problema complexo" que mostra "a fragilidade do sistema democrático".

Questionado pelos jornalistas à margem de uma conferência em Lisboa, sobre como vê a situação do Brasil, com uma segunda volta das presidenciais a ser disputada entre o candidato da extrema-direita, Jair Bolsonaro, e o candidato do PT (Partido dos Trabalhadores, esquerda), Fernando Haddad, Xanana Gusmão respondeu: "O Brasil vive um problema muito complexo, que espero do fundo do coração que se resolva".

"Às vezes isto deixa-nos a pensar se revela a essência da democracia ou não. O professor Jorge Sampaio falou hoje da necessidade de combater a iliteracia. E acredito que não é do `abc`, mas é da iliteracia política também, porque às vezes as pessoas formulam certas ideias sem perceberem se isso é o melhor para si mesmos ou para a sua casa, família, ou comunidade", acrescentou.

O histórico líder timorense, que hoje interveio, ao lado do antigo Presidente da República português Jorge Sampaio, na conferência sobre "Democracia e Resiliência", organizada pelo Clube de Lisboa e g7+ (grupo de 20 países), que decorreu hoje na capital portuguesa, disse que o Brasil tem demonstrado a "fragilidade do sistema" democrático.

"É um grande país, muito amigo, mas tem demonstrado, na nossa perspetiva de país novo, que está a construir a democracia, a fragilidade do sistema", afirmou.

Timor-Leste "também está a passar, neste processo de construção democrática, por altos e baixos, mas é muito importante neste início de construção do Estado passarmos por estas situações", admitiu Xanana Gusmão, o primeiro Presidente de Timor-Leste.

Segundo o ex-Presidente de Timor-Leste e um dos fundadores do Grupo - composto por 20 países da África, Ásia Pacífico e Médio Oriente, incluindo Timor-Leste -, no G7+ é também pedido aos países orientais da organização "para compreenderem a não rapidez no assumir de certos valores".

Quanto à forma como vê a possibilidade de uma liderança da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) assumida por um Brasil, eventualmente liderado por Jair Bolsonaro, Xanana respondeu: "Há bens que vêm por males. E males que vêm por bens."

Mas lembrou: "Uma liderança da CPLP para ser frutífera para o Brasil e para os países da CPLP, o Estado todo tem de assumir o seu papel na organização, porque senão, se por acaso um governo cai e vem outro e diz isto não é importante para mim... Há compromissos que o Estado tem de assegurar. Mas também se exige que na CPLP, não nas cimeiras porque são mais cerimoniais, mas nas reuniões ministeriais, que as pessoas sejam honestas e falem".

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