Bolsonaro quebra silêncio. "Somos pela ordem e pelo progresso"

por RTP
"Os nossos métodos não podem ser os da esquerda", clamou o presidente cessante do Brasil Joedson Alves - EPA

Na primeira intervenção pública após a segunda volta das eleições presidenciais de domingo, Jair Bolsonaro não disse textualmente que aceitava a derrota, mas garantiu que vai continuar a respeitar os fundamentos da Constituição como "presidente e cidadão". "Somos pela ordem e pelo progresso", afirmou na terça-feira o ainda presidente do Brasil.

Numa declaração a partir do Palácio da Alvorada, Jair Bolsonaro agradeceu aos milhões que votaram na sua campanha no último domingo. Realçando os valores da família e da pátria, alegou que as manifestações são a imagem da indignação de muitos brasileiros.

No entanto, Bolsonaro também afirmou que "os nossos métodos não podem ser os da esquerda", perante manifestações nas ruas do Brasil que têm levado a confrontos com as forças da autoridade.
"Formámos vários lideranças pelo Brasil e os nossos sonhos seguem mais vivos do que nunca. Enfrentando todo o sistema, enfrentamos uma pandemia. Sempre joguei nas quatro linhas do campo constitucional. Continuarei a cumprir os mandamentos da Constituição".

Bolsonaro afirmou ter sido sempre rotulado como "anti-democrático" mas que continuará a respeitar os fundamentos da Constituição brasileira.

A declaração de Jair Bolsonaro, no Palácio da Alvorada, foi curta e sem direito a perguntas dos jornalistas. O presidente brasileiro não congratulou Lula da Silva pela vitória no domingo, mas afirmou que será um cidadão cumpridor das regras constitucionais do Brasil, como "presidente e cidadão".
O chefe da Casa Civil do presidente brasileiro anunciou que o processo de transição terá início assim que o PT fizer a nomeação. Segundo Ciro Nogueira, tal deverá acontecer já depois desta quarta-feira.
"A importância do pronunciamento"
Na sequência da intervenção do presidente cessante, o Supremo Tribunal Federal veio assinalar a oportunidade das suas palavras, perante os protestos e bloqueios de estradas, a somar ao início do processo de transição.

"O Supremo Tribunal Federal consigna a importância do pronunciamento do Presidente da República em garantir o direito de ir e vir em relação aos bloqueios e, ao determinar o início da transição, reconhecer o resultado final das eleições", reagiu em comunicado o STF.
Bloqueios de estradas
A Polícia Rodoviária Federal pediu, nas últimas horas, reforços a outras forças de segurança, tendo em vista um "completo desbloqueio" das estradas bloqueadas por apoiantes de Bolsonaro.

"O acionamento de todo o efetivo disponível desta instituição e o amparo das polícias militares não se mostraram suficientes para a completa desobstrução dos mais de 400 pontos de bloqueios", afirmou o diretor-geral da PRF, Silvinei Vasques, apoiante declarado do ainda presidente.Luiz Inácio Lula da Silva ganhou as eleições presidenciais à segunda volta, no passado domingo, por uma margem apertada: 50,9 por cento dos votos contra 49,1 para Jair Bolsonaro.

Ao início da madrugada, persistiam mais de 200 pontos com bloqueios totais ou parciais ativos em vários Estados do Brasil, entre os quais São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

As ligações ao maior aeroporto do Brasil, Guarulhos, em São Paulo, estiveram bloqueadas durante várias horas. Foram cancelados pelo menos 25 voos.

c/ Lusa
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