O primeiro-ministro britânico vai publicar esta terça-feira uma proposta de lei que procurará, mais uma vez, forçar eleições antecipadas, comprometendo-se desta vez com a data de 11 de dezembro, que deverá ser aceite pelos deputados da Câmara dos Comuns. A tentativa de quebrar o impasse em torno do Brexit surge um dia depois de os membros do Parlamento terem rejeitado eleições gerais para o dia 12 de dezembro.
Ainda assim, o primeiro-ministro continua a precisar do apoio de pelo menos alguns deputados dos partidos da oposição que ontem lhe viraram costas, nomeadamente o Partido Trabalhista, os Liberais Democratas e o Partido Nacional Escocês, que optaram pela abstenção ou por votar contra.
Esse apoio deverá estar agora garantido, depois de o líder trabalhista, Jeremy Corbyn, declarar esta terça-feira que a condição que tinha imposto de modo a apoiar eleições antecipadas – a de uma garantia de que um Brexit sem acordo não acontecerá – foi aceite.
“Eu frisei consistentemente que estávamos prontos para eleições e que o nosso apoio apenas dependia da garantia de que o Brexit sem acordo não iria acontecer”, declarou Corbyn, de acordo com membros do seu gabinete.
“Soubemos agora pela União Europeia que a extensão do Artigo 50 até 31 de janeiro foi confirmada”, explicou. “Iremos agora avançar com a campanha mais radical e ambiciosa para uma mudança real que o nosso país alguma vez viu”.
O apoio dos Liberais Democratas e do Partido Nacional Escocês também deverá estar garantido, uma vez que estes dois partidos já tinham proposto a data de 11 de dezembro em vez de dia 12 para a realização de eleições, sugestão a que Boris Johnson decidiu ceder.
Resultados imprevisíveis
Caso se avance com eleições antecipadas, estas serão as primeiras a realizar-se na época natalícia no Reino Unido desde 1923 e o resultado será imprevisível, numa altura em que a população se mostra impaciente devido à demora em concretizar o Brexit.
Um cenário de eleições já em dezembro tanto pode voltar a atribuir o poder a Boris Johnson, que continuaria assim a tentar fazer passar o seu acordo para o Brexit, ou ao líder trabalhista Jeremy Corbyn, que provavelmente tentaria renegociar o acordo ou alcançar um novo referendo.
Na manhã de segunda-feira, o presidente do Conselho Europeu anunciou um novo prolongamento “flexível” do prazo para a saída do Reino Unido da União Europeia até 31 de janeiro, algo que veio contrariar a várias vezes repetida garantia de Boris Johnson de que o Brexit seria concretizado a 31 de outubro, com ou sem acordo.
Mudanças no Partido Conservador?
O deputado ex-conservador Phillip Hammond considerou, em entrevista a uma estação de rádio britânica esta terça-feira, que o plano de eleições antecipadas de Boris Johnson é uma tentativa de desviar os membros do partido conservador ainda mais para a direita.
“Receio que a real narrativa aqui seja a de que os ativistas que votaram a favor do Brexit, e que passaram depois a assumir o controlo de Downing Street e do Partido Conservador, querem que estas eleições gerais alterem a forma desse partido no Parlamento”, declarou.
“Para se verem livres de uma série de deputados que não consideram robustos o suficiente para lidar com a questão do Brexit e poderem substitui-los por outros mais duros”, explicou o deputado independente.
Hammond considerou ainda que os deputados não devem ser responsabilizados pela falta de progressos no Brexit, depositando a culpa no primeiro-ministro por não ter dado tempo suficiente para que o acordo de saída fosse debatido com calma no Parlamento.