Britânicos de saída da União estão a tornar-se alemães

por Carlos Santos Neves - RTP
Em 2017, por comparação com o ano anterior, o conjunto de britânicos que requereram a nacionalidade alemã cresceu em 162 por cento Hannibal Hanschke - Reuters

O conjunto de britânicos que em 2017 adquiriram a nacionalidade alemã superou em 162 por cento o número do ano anterior. E a ligação ao Brexit “parece óbvia”. As contas e a consequente interpretação pertencem ao Departamento Federal de Estatística da Alemanha. Só os turcos apresentam números mais altos do que os dos súbditos de Isabel II.

Os dados do Destatis estavam esta quarta-feira em destaque na edição online do diário britânico The Guardian. Segundo o gabinete alemão de estatísticas, no ano passado foi fixada nova marca histórica no número de britânicos a requererem a cidadania alemã.

Estes novos alemães de origem britânica perfizeram, em 2017, os 7.493, num aumento de 162 por cento relativamente a 2016. Neste ano 2.865 britânicos haviam adquirido a cidadania da Alemanha, o que se traduziu num crescimento de 361 por cento face a 2015, quando o número não foi além dos 622.O período de transição, após a saída oficial da União Europeia, deverá perdurar até dezembro de 2020.

O Departamento Federal de Estatística do chamado motor da Europa tem vindo a seguir com especial atenção esta tendência.

“Tal como vimos no ano passado, foram os britânicos a nação em particular em que vimos um aumento de pessoas a tornarem-se cidadãs. Em 2017, tal como em 2016, foi estabelecido um novo recorde”, aponta um porta-voz do Destatis, citado pelo Guardian.

Segundo o mesmo porta-voz, “parece óbvia” a “conexão com o iminente Brexit: nos anos de 2016 e 2017 um total de 10.350 britânicos adquiriram a cidadania alemã – mais do dobro do número durante o período entre 2000 e 2015”.

A idade média dos neue Deutschbriten, como lhes chama a comunicação social alemã, é de 52,8 anos, acima dos naturais dos demais Estados-membros da União Europeia – 40,9 anos – e de outros países – 34,8.

O Guardian observa o facto de os britânicos poderem acumular a cidadania de origem com a alemã enquanto o Reino Unido fizer parte da União. A partir de 29 de março de 2019, data prevista para a concretização do Brexit, novos pedidos de cidadania implicarão o abandono dos passaportes britânicos.

Por outro lado, até agora a cidadania alemã foi adquirida por apenas dez por cento dos britânicos elegíveis para tal - ou seja, aqueles que vivem na Alemanha há pelo menos oito anos e demonstram domínio da língua germânica.
Fatura do Brexit? “É muito dinheiro”

Na terça-feira, ouvido na comissão de Finanças do Parlamento de Londres, o governador do Banco de Inglaterra lançou mão da calculadora para explicar que o processo de despedida da União Europeia, selado em referendo em junho de 2016, já custou mais de 900 libras, ou 1-026 euros, a cada agregado familiar do Reino Unido.

“É muito dinheiro”, assumiu Mark Carney, que deixará o cargo no próximo ano.

Desde a consulta popular de há dois anos, aclarou ainda o governador, a economia britânica regrediu entre 1,5 a dois por cento por causa de políticas de estímulo adotadas em resposta ao melhor desempenho dos restantes países europeus. “É uma diferença razoável”, nas palavras de Carney.

“No curto prazo, ao longo do último ano e meio, houve um impacto próximo do que esperávamos, mesmo com bons ventos de cauda a empurrarem a economia”, advogou o responsável.

A economia britânica, explicou ainda o governador, está a sofrer os impactos do Brexit em dois flancos: a libra desvalorizou-se em cerca de 15 por cento face a um cabaz de moedas, potenciando o custo das importações e a inflação, que cresceu de menos de um por cento para mais de três por cento; ao criar um contexto de incerteza, levou as empresas a cortarem no investimento, embora o desemprego se mantenha no nível mais reduzido desde a década de 70 do século XX.

Em suma, concluiu o governador do Banco de Inglaterra, os britânicos deixaram de ter o crescimento económico mais veloz do G7. Estão agora entre os detentores das economias de desempenho menos ágil.

c/ Lusa
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