Após 24 horas de silêncio, Theresa May manifestou a sua opinião sobre o facto de Boris Johnson, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, ter comparado as mulheres de burca a caixas de correio. A comparação foi feita num artigo de opinião para o jornal The Telegraph.
Um dia após a publicação da crónica, Theresa May manifestou-se. Clarificou que tanto ela como o Governo acreditavam que as mulheres tinham o direito a vestirem-se como quisessem, acrescentando ainda que “toda a gente deve ter cuidado com a linguagem que utiliza”.
“Ficou muito claro que a linguagem que Boris Johnson usou para descrever a aparência das pessoas foi ofensiva. Eu não utilizaria aquela linguagem, acho que foi errado ele tê-la utilizado e concordo com Brandon Lewis”, declarou a primeira-ministra.
A referência a Brandon Lewis, presidente do Partido Conservador britânico, foi feita depois de o próprio ter escrito um tweet onde afirmou que tinha aconselhado Boris Johnson a pedir desculpa pela comparação.
I agree with @AlistairBurtUK. I have asked @BorisJohnson to apologise. https://t.co/RFExXO4LOR
— Brandon Lewis (@BrandonLewis) 7 de agosto de 2018
No tweet, Lewis afirmou estar de acordo com Alistair Burt, ministro para o Médio Oriente e o Norte de África, após declarações que este fez à BBC Radio 4.
Na entrevista, Burt declarou que Johnson defendia o direito de as mulheres muçulmanas utilizarem burcas, mas que, na sua posição, não teria escrito “aquele comentário”.
“O que ele estava a tentar dizer era que o Governo britânico não vai impor nenhuma restrição de vestuário a ninguém. Gostava que não o tivesse acompanhado com um comentário que eu certamente não faria e que muitas pessoas podem ter achado ofensivo”, declarou Alistair Burt.
Entretanto, Boris Johnson ainda não fez o pedido de desculpas. De acordo com o jornal britânico The Guardian, não foi possível contactá-lo para comentar o sucedido, por se acreditar que está de férias.
Inquérito disciplinar: sim ou não?
As declarações de Theresa May não surgiram de forma inocente. Antes da sua intervenção já várias pessoas tinham opinado sobre a questão, exigindo que a primeira-ministra se manifestasse.
Naz Shah, do Partido Trabalhista, defendeu que “um pedido de desculpas não é bom o suficiente”.
“Claramente o Partido Conservador tem um problema com a islamofobia. No entanto, passadas 24 horas, a primeira-ministra ainda não disse uma palavra. Theresa May deve condenar os comentários de Boris Johnson inequivocamente e ordenar um inquérito sobre islamofobia dentro do seu partido”.
Relembre-se que o próprio partido trabalhista já foi alvo de um inquérito extensivo, neste caso por alegações de antissemitismo.
Também Sayeeda Warsi, antiga presidente do Partido Conservador, referiu em vários dos seus tweets a necessidade de se realizar um inquérito sobre islamofobia dentro do partido conservador.
“Obrigada, Brandon Lewis por exigir um pedido de desculpas – assumo que também peça um inquérito disciplinar?”
Good to see colleagues condemning comments by #Boris
— Sayeeda Warsi (@SayeedaWarsi) 7 de agosto de 2018
Thank you @BrandonLewis for asking for an apology - and I assume a disciplinary process if one is not forthcoming? https://t.co/yBBVxfkFrL
Warsi ainda acusou Johnson de, com os seus comentários, adotar as táticas islamofóbicas da Administração Trump, na esperança de atrair o apoio dos partidos de direita caso surja um cargo na liderança.
“As mulheres muçulmanas não deveriam ser usadas num campo de batalha político. [Esse tipo de comparações] deveria ser condenado pela liderança de direita e pela primeira-ministra”, defendeu Sayeeda Warsi em declaração ao Independent.
Na passada quarta-feira a Dinamarca proibiu o uso público de objetos que cobrissem o rosto. Isto inclui burcas e nicabes – um véu islâmico que cobre a cabeça e deixa uma abertura para os olhos -, mas também máscaras de ski, lenços e barbas falsas.
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