Cabo Delgado. ONG pondera pedir investigação internacional de violações de direitos humanos

por Lusa

A organização não-governamental (ONG) Amnistia Internacional pondera pedir ajuda para investigação de violações de direitos humanos em Cabo Delgado, no norte de Moçambique, alertando para "falta de transparência" do Governo do país na gestão do conflito.

"Estamos a pedir uma investigação completa e independente [sobre a violação dos direitos humanos]", disse Brian Castner, consultor para a Área de Armas e Operações Militares da Amnistia Internacional (AI), durante um `webinar` alusivo ao lançamento do relatório da organização sobre o conflito armado em Cabo Delgado.

Segundo a ONG de defesa dos direitos humanos, embora oficialmente nunca tenha admitido, o Governo moçambicano terá contratado a "Dyck Advisory Group" (DAG), uma empresa militar privada sul-africana, para fazer face às incursões dos grupos armados.

De acordo com o novo relatório da AI, além dos grupos rebeldes que têm protagonizado os ataques, a DAG e as forças governamentais terão cometido violações dos direitos humanos durante as suas operações nos distritos afetados pelo conflito.

"Os operacionais da DAG dispararam metralhadoras dos helicópteros, lançaram granadas de mão indiscriminadamente contra multidões e dispararam também repetidamente contra infraestruturas civis, incluindo hospitais, escolas e habitações", referiu a organização no relatório, citando 53 testemunhas.

Para a AI, é responsabilidade do Governo investigar estas denúncias, mas, caso o executivo moçambicano as ignore, abre-se espaço para a adoção de mecanismos internacionais.

"Se Moçambique não fizer isso, nós vamos pedir ajuda e justiça internacional", frisou Brian Castner.

A Amnistia Internacional criticou ainda a alegada falta de transparência na gestão do conflito armado em Cabo Delgado.

O relatório é baseado em entrevistas com 79 deslocados de 15 comunidades afetadas pelo conflito desde março do ano passado, período em que os rebeldes protagonizaram um grande ataque à sede da vila de Mocímboa da Praia.

A violência armada em Cabo Delgado, onde se desenvolve o maior investimento multinacional privado de África, para a exploração de gás natural, está a provocar uma crise humanitária com mais de duas mil mortes e 670 mil pessoas deslocadas, sem habitação, nem alimentos.

A violência surgiu em 2017, algumas das incursões foram reivindicadas pelo grupo `jihadista` Estado Islâmico depois de 2019, mas a origem dos ataques continua sob debate.

Tópicos
pub