"Ela denunciou-o, mas acabou por ser morta" é a mensagem que acompanha as fotomontagens do artista italiano aleXsandro Palombo. O autor pretende "denunciar, consciencializar e chamar a atenção” sobre a agressão às mulheres, criticando a falta de proteção real. As representações de Letizia Ortiz e de Kamala Harris com nódoas negras, ou o nariz em sangue de Ursula von der Leyen, correspondem a reflexões e alertas para a existência de vítimas de abusos em qualquer setor da sociedade.
São todas mulheres proeminentes da vida política e social internacional. Todas são representadas como vítimas de violência doméstica, espancadas, com rostos inchados, nódoas negras, lábios e nariz em sangue.
Fotomontagem de Letizia Ortiz | Facebook de aleXsandro Palombo
"Porque é que uma mulher deve denunciar a agressão se depois da denúncia ela não é protegida pelas instituições e acaba por ser morta? Como pode uma mulher vítima de abuso e violência ainda ter fé nas instituições? Vejo apenas a Política a convidar mulheres a denunciar os casos, mas sem assumir a responsabilidade de dar proteção e apoio às vítimas. Um Estado que não protege e deixa as mulheres sozinhas nas mãos do agressor, torna-se cúmplice silencioso" disse aleXsandro Palombo, citado na publicação Il Giorno de Milano.
"São muitas as associações de voluntários que, com pouquíssimos meios, procuram apoiar as vítimas, mas cabe à política, às instituições e ao Estado assumir essa responsabilidade", acrescentou.
Em Paris, os pósteres com o rosto da Anne Hidalgo coberto de hematomas e o nariz de Marine Le Pen cheio de sangue em frente do Hôtel de Ville desafiam e surpreendem as pessoas que passam.
Em Espanha, a exposição das fotomontagens é protagonizada pela rainha Letizia "maltratada".
"AleXsandro Palombo lembra-nos, com força e nitidez, a verdade nua e crua da violência sofrida pelas mulheres na Europa e no mundo", dizem os organizadores da exposição espanhola. E destacam que "os rostos a sangrar, diante de nós, mostram ao mesmo tempo a urgência da situação para todas as mulheres, mas também para as mais "poderosas" delas que, como outras, podem morrer sob os golpes de um homem".
Pósteres colocados na via publica da cidade de Milão | Il Giorno de Milano
"A responsabilidade recai sobre nós", afirma a historiadora francesa Christelle Taraud, especialista em história da mulher, género e sexualidade e professora na Universidade de Columbia, em Nova Iorque. Citada no El Periodico de Aragon, Taraud diz que o trabalho de aleXsandro Palombo é também "um apelo à resistência e à luta, bem como uma forma de relembrar aquelas mulheres que dispõem de meios políticos para mexer os cordelinhos" para tornar o sistema eficaz.
A campanha internacional arrancou esta semana com inúmeros pósteres colocados nas ruas de várias cidades europeias, acompanhados do texto: "Ela denunciou-o. Mas ninguém acreditou nela . Mas ela foi deixada sozinha. Mas ela não foi protegida. Mas ele não foi preso. Mas ela foi morta de qualquer maneira”.