Campos de imigrantes na América. Democratas aprovam 4,5 mil milhões para melhorar condições

por Paulo Alexandre Amaral - RTP
O cheque de 4,5 mil milhões de dólares agora aprovado pelos democratas está ainda sujeito à aprovação no Senado José Luis Gonzalez - Reuters

Os democratas aproveitaram a maioria que têm na Câmara dos Representantes para aprovar 4,5 mil milhões de dólares em ajudas destinadas a melhorar as condições dos imigrantes retidos na fronteira com o México, depois dos relatos da última semana de crianças e bebés abandonados à sua sorte, sem cuidados de higiene ou apoio emocional depois de serem separados dos pais.

O cheque de 4,5 mil milhões de dólares (quatro mil milhões de euros) agora aprovado pelos democratas está ainda sujeito à aprovação no Senado, dominado por uma maioria dos republicanos.A medida passou com 230 votos a favor e 195 contra, tendo merecido a reprovação de alguns representantes do lado dos democratas.

A votação poderá ser influenciada pela crescente pressão da opinião pública, confrontada com os relatos de maus-tratos dos menores que foram separados dos seus país ou acompanhantes e, mais recentemente, a denúncia de negligência dos serviços na fronteira, que estão a falhar em fornecer material de higiene oral (escovas e dentífricos).

Os relatos de elementos de organizações humanitárias colocaram a Administração Trump numa situação embaraçosa, já que muitas das crianças abaixo dos dez anos estão elas próprias a assumir a tarefa de cuidar dos bebés e dos companheiros mais novos, situação agravada pela impossibilidade de manterem hábitos de higiene e cuidados de saúde que estão garantidos pelas cartas das Nações Unidas.


Por exemplo, os serviços na fronteira são acusados de não providenciarem a possibilidade a estes detidos mais novos de tomarem banho, situação que se arrastou por semanas.

Durante uma audição, uma advogada do Departamento de Justiça defendeu que “as crianças imigrantes não precisam de camas, sabonete ou escovas de dentes” enquanto se encontram sob custódia dos serviços de fronteira.


A democrata Alexandria Ocasio-Cortez viu-se recentemente envolvida numa polémica com membros do GOP depois de ter lamentado a instalação e utilização nos Estados Unidos do que diz serem campos de concentração.


Alexandria Ocasio-Cortez foi atacada por membros da comunidade judaica americana relacionada com os republicanos, que manifestaram indignação pela comparação destas instalações para imigrantes com “campos de concentração”. No entanto, depois de fornecer a sua definição de campos de concentração, e o enquadramento devido a esta situação em particular, Ocasio-Cortez nunca foi devidamente contrariada, apenas insultada por alegadamente introduzir os campos de extermínio nazis na discussão, o que a democrata nunca fez.

Uma das instalações no meio desta polémica é a de Clint, no Estado do Texas, depoios de ter sido permitida a visita do local por membros de várias organizações. As condições em que as crianças imigrantes são ali mantidas depois de separadas dos pais ou dos adultos que as acompanhavam tiveram um impacto negativo na opinião pública, obrigando o exército do Presidente Trump a um périplo pelas cadeias de televisão na tentativa de branquear uma prática que dizem ter atingido o seu auge durante a Presidência Obama.

“Fizemos um trabalho fantástico – muito melho do que Obama – sabem? Foi o Obama que construiu todas aquelas celas”, declarava o próprio Presidente durante uma passagem pela Fox News.

A pontificar nestes relatos de miséria dos campos de imigrantes vão surgindo entretanto notícias de mortes de algumas destas crianças, o que coloca de novo em causa o livro de procedimentos da Administração republicana no dossier da fronteira sul.

Apesar da admissão, na generalidade, de que as políticas de Obama já continham algumas práticas duvidosas na dimensão humanitária, ao Presidente Trump é fundamentalmente censurada a implementação da sua política de “tolerância zero”.

Esta semana, a foto de um pai afogado com a filha de escassos meses numa das margens da fronteira entre o México e os Estados Unidos ajudaram a dar gás à polémica que desemboca agora na tentativa dos democratas de fazerem aprovar a ajuda extra para lidar com a questão das instalações.


Os republicanos terão ainda uma palavra a dizer sobre a libertação desta verba, havendo a possibilidade de avançarem eles próprios com um plano. Aparentemente dirigidas ao mesmo objectivo, as ideias de democratas e republicanos diferem no items contidos no projeto.

Os democratas pretendem aqui acautelar que o dinheiro disponibilizado não se destine a reforçar o financiamento de raides contra imigrantes, uma política de detenções ou mesmo a construção de novas secções do muro a sul.

A speaker democrata Nancy Pelosi já veio denunciar ao que considera de “situação de maus-tratos a crianças (...) uma atrocidade que viola todos os nossos valores, não apenas como americanos, mas como seres morais”.
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