Casa Branca acusa Assad de preparar ataque químico e ameaça retaliar

por Carlos Santos Neves - RTP
Militares norte-americanos deslocam mísseis sobre o convés do porta-aviões USS Theodore Roosevelt, no Golfo (fotografia de junho de 2015) Hamad I Mohammed - Reuters

O gabinete de Donald Trump denunciou nas últimas horas o que descreveu como “potenciais preparativos”, por parte do regime sírio, para “outro ataque químico”. O que, a acontecer, ditaria “um preço muito pesado” a pagar pelo Governo de Bashar al-Assad, nos termos de um comunicado assinado por Sean Spicer, porta-voz da Casa Branca.

“Os Estados Unidos identificaram potenciais preparativos para outro ataque químico pelo regime sírio de Assad que poderia provocar um massacre de civis, incluindo crianças inocentes”, escreve o responsável da Administração norte-americana pelas relações com a imprensa.

Estes alegados preparativos, prossegue Sean Spicer, “são semelhantes” àqueles que terão sido empreendidos “antes do ataque com armas químicas de 4 de abril”.Em 2013, um ataque com gás sarin nos arredores de Damasco fez mais de 1400 mortos.


O comunicado da Casa Branca refere-se ao bombardeamento sobre Khan Shaykhun, em Idlib, no noroeste da Síria, que provocou mais de oito dezenas de vítimas mortais, entre as quais pelo menos 31 crianças.

Este presumível ataque químico, que o Ocidente imputou às forças de Bashar al-Assad, serviu de justificação a uma ordem do Presidente norte-americano para o lançamento de 59 mísseis contra uma base aérea do regime sírio.

A Casa Branca retoma agora a ameaça a Damasco: o regime terá de “pagar um preço muito pesado” se vier a recorrer a armamento químico.

Nikki Haley, a embaixadora dos Estados Unidos na ONU, foi mais longe, ao escrever na rede social Twitter que “quaisquer ataques adicionais lançados contra o povo da Síria serão atribuídos a Assad, mas igualmente à Rússia e ao Irão, que o ajudam a matar o seu próprio povo”.
O Kremlin já reagiu. Para o Governo russo, as posições que acabam de ser assumidas pela Administração Trump não passam de “ameaças inadmissíveis” ao regime sírio.
“O princípio da autodefesa”

Oficialmente, o dispositivo norte-americano para a Síria tem por missão aconselhar e armar as denominadas Forças Democráticas Sírias (SFD, na siga inglesa), um conglomerado multiétnico de milícias curdas, árabes, assírias, arménias e turquemenas. Com um inimigo declarado: o Estado Islâmico.

Este último aviso de Washington vem cimentar o contexto de tensão crescente com Damasco, deixando antever uma confrontação, a médio prazo, entre o regime e as SDF, na prática a ponta da lança norte-americana em solo sírio.O secretário da Defesa dos Estados Unidos chegou durante a manhã a Munique. Na quarta-feira, Jim Mattis fará naquela cidade alemã uma intervenção sobre as relações transatlânticas.

E o facto é que houve já vários episódios de confronto direto entre meios militares dos Estados Unidos e as forças leais a Assad.

No passado dia 18 de junho, o dispositivo aéreo norte-americano abateu um avião do regime no leste da Síria, argumentando que este aparelho constituía uma ameaça aos combatentes das SDF. E por três ocasiões, desde o início de maio, foram bombardeadas forças do regime na região de Al-Tanaf, sobre a linha de fronteira com o Iraque e a Jordânia.

Ainda assim, na noite de segunda-feira – antes da divulgação do comunicado de Sean Spicer - , o secretário norte-americano da Defesa garantia que os Estados Unidos não se deixariam “apanhar nos combates da guerra civil síria”.



“Tentamos pôr-lhes fim através de esforços diplomáticos”, afirmou Jim Mattis a bordo do avião que o transportou até à Europa para uma série de encontros.

“Se alguém nos atacar, bombardear, alvejar, então faremos aquilo que temos de fazer, aplicando o princípio da autodefesa”, contrapôs.

c/ agências internacionais
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