De acordo com documentos judiciais aos quais as agências noticiosas norte-americanas tiveram acesso, o Departamento de Justiça dos EUA está a investigar um possível esquema na Casa Branca que envolve subornos em troca de indultos presidenciais. Os documentos não revelam nomes, mas surgem numa altura em que Donald Trump estará a ponderar conceder “indultos antecipados” aos seus filhos mais velhos e ao seu advogado, Rudy Giuliani.
A maior parte das 18 páginas do documento está rasurada e fornece poucos detalhes sobre o alegado esquema, além de ocultar a identidade das pessoas envolvidas (as que estão sob investigação e a quem os indultos seriam destinados).
No entanto, o documento, datado de 28 de agosto, refere que está também a ser investigado um “esquema secreto de lobbying”, no qual duas pessoas não identificadas atuavam indevidamente “como lobistas junto de responsáveis da Casa Branca” para garantir os indultos. Na noite de terça-feira, um funcionário do Departamento de Justiça garantiu à agência Reuters que nenhum responsável do executivo é ou foi “sujeito ou alvo” da investigação.
Sabe-se também que o Departamento de Justiça pediu autorização à juíza responsável pelo caso, Beryl Howell, para ter acesso a e-mails relacionados com o alegado esquema trocados entre um advogado e os seus clientes, que não foram identificados. Howell autorizou o acesso em agosto, argumentando que neste caso não se aplica o privilégio do sigilo entre advogados e clientes.
Segundo a juíza, foram apreendidos “mais de 50 dispositivos informáticos”, como computadores, iPhones e discos rígidos, que poderão ser utilizados para confrontar qualquer sujeito alvo da investigação. A agência Reuters avança que o Departamento de Justiça pretende “confrontar” três pessoas e concluir a investigação.
Trump tenciona conceder indultos aos filhos e advogado
A investigação surge numa altura em que várias notícias dão conta de que o presidente dos Estados Unidos estará a preparar indultos para os seus filhos e conselheiros. No Twitter, Trump já reagiu à notícia, afirmando que “a investigação sobre os indultos é Fake News”.
Assim como os restantes presidentes, a Constituição dos EUA dá a Donald Trump o poder de conceder indultos a pessoas condenadas por crimes federais. Ainda na semana passada, Trump atribuiu um indulto ao seu antigo conselheiro de Segurança Nacional Michael Flynn, que admitiu ter mentido ao FBI durante a investigação sobre a alegada intervenção russa nas eleições presidenciais de 2016. Esta terá sido a primeira de uma série de indultos esperados nas próximas semanas, as últimas de Donald Trump na Casa Branca.
O New York Times noticiou na terça-feira que Donald Trump e o seu advogado pessoal, Rudy Giuliani, discutiram na semana passada a possibilidade de um “indulto antecipado”. Giuliani, que tem defendido veementemente as alegações infundadas de fraude eleitoral, negou esta discussão no Twitter. “Estou chocado. Isto é simplesmente falso. Eu nunca tive uma conversa destas com o presidente dos Estados Unidos”, escreveu o advogado de Trump. Para além de Giuliani, o jornal norte-americano avança que Trump tenciona também conceder indultos aos seus três filhos mais velhos (Donald Trump Jr., Eric Trump e Ivanka Trump) e ao seu cunhado, Jared Kushner, marido de Ivanka.
Segundo o New York Times, Trump admitiu aos seus conselheiros que está preocupado com a possibilidade de o Departamento de Justiça de Joe Biden, o presidente eleito, procurar vingar-se através da sua família.
A natureza da preocupação de Trump sobre qualquer eventual envolvimento criminoso de Eric ou Ivanka Trump não é totalmente clara, mas sobre Donald Trump Jr. recaem suspeitas relativas a contactos com agentes russos que terão oferecido informações comprometedoras sobre Hillary Clinton, a candidata democrata que concorreu contra Donald Trump nas eleições de 2016. Também Jared Kushner foi alvo de investigação por alegados contactos com investidores estrangeiros, além da Rússia, para financiar as suas empresas durante a transição presidencial.
As potenciais acusações contra Rudolph Giuliani também não são claras, embora o advogado de Trump tenha sido investigado recentemente por questões relacionadas com os seus negócios na Ucrânia. Durante o processo de impeachment, Trump admitiu ter enviado o seu advogado à Ucrânia para que este encontrasse informações comprometedoras sobre Joe Biden.
Sobre a investigação em torno do alegado esquema de suborno, o advogado de Giuliani, Robert Castello, disse ao New York Times que “ele não está preocupado com esta investigação porque ele não fez nada de errado, e essa tem sido a nossa posição desde o primeiro dia”.
c/agências
