Casos de Covid-19 na Coreia do Norte não afastam Kim Jong-un do funeral de mentor

por Carla Quirino - RTP
KCNA via Reuters

A Coreia do Norte debate-se com um surto de covid-19, mas o líder norte-coreano, Kim Jong-un, compareceu sem proteção facial ao funeral de um importante militar que terá sido um dos seus mentores. Depois de ser noticiada a 12 de maio a existência dos primeiros casos, o país instituiu um confinamento nacional para conter a doença.

A agência estatal KCNA avançou esta segunda-feira que 2,8 milhões de pessoas adoeceram devido a uma febre não identificada desde final de abril e que 68 pessoas morreram. Também noticiou que 167.650 novos casos de febre foram detectados nas últimas 24 horas, sublinhando em simultâneo uma queda acentuada em relação ao pico de cerca de 390 mil relatado há cerca de uma semana.

De acordo com o diário britânico The Guardian, alguns analistas consideram "provável" que o regime "subnotifique a mortalidade para proteger Kim de danos políticos".A Coreia do Norte só admitiu a existência de um surto de Ómicron a 12 de maio, tendo ao longo do último ano de pandemia recusado qualquer vacina oferecida pelo programa de distribuição Covax, apoiado pela ONU.


A comunidade internacional questiona o verdadeiro impacto do surto da variante da covid-19, dado que os 26 milhões de habitantes da Coreia do Norte não são vacinados e cerca de 40 por cento têm dificuldades de subsistência.

"Todo o povo [da Coreia do Norte] mantém uma atitude favorável perante campanha para controlo da epidemia com a máxima consciência, em resposta ao apelo do comité central do partido para defender sua preciosa vida e futuro com confiança na vitória certa e redobrado grandes esforços", sublinha a KCNA.

A Organização Mundial da Saúde solicitou esclarecimentos sobre o surto, mas não recebeu qualquer resposta.
As regras de Kim Jong-un
No meio das regras impostas no país, Kim Jong-un esteve presente no funeral de um importante militar em Pyongyang. Kim ajudou a transportar a urna de Hyon Chol-hae, um marechal do Exército do Povo Coreano, mas compareceu sem qualquer proteção facial, ao contrário de quase todos os outros elementos do partido.

Chol-hae terá contribuído para a preparação de Kim, antes de este se tornar líder do país. A agência de notícias citou o líder norte-coreano: "O nome de Hyon Chol-hae seria sempre lembrado junto com o augusto nome de Kim Jong-il".

A KCNA descreveu ainda a emoção do atual líder, dizendo que chorou durante as cerimónias fúnebres.
Orgulhosos e autossuficientes
Para combater o surto da Ómicron, a Coreia do Norte estabeleceu um confinamento nacional e implementou normas rigorosas.

O movimento de região para região foi proibido, mas as principais atividades agrícolas, económicas e outras atividades industriais continuaram num aparente esforço para minimizar os danos à economia já moribunda do país.

O sistema público de saúde está praticamente inoperante e sem medicamentos, implicando uma capacidade limitada de testes para tantas pessoas doentes.

Alguns observadores afirmam que a Coreia do Norte receberá ajuda apenas da China, que se apresenta como o seu último grande aliado.

Kim Jong-un terá rejeitado toda a ajuda ocidental porque isso prejudicaria a liderança, uma vez que repetidamente aventou a estratégia da "autossuficiência" para contrariar as campanhas de pressão lideradas pelos EUA.
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