Catalunha opta por medidas drásticas para conter a pandemia

por RTP
Nacho Doce - Reuters

O Governo da Generalitat apresentou um pacote de medidas para os próximos 15 dias com o objetivo de refrear a aceleração que a pandemia sofreu na Catalunha. Decisões que visam reduzir a mobilidade e a interação, mas impedir um possível confinamento total no Natal. Medidas "excecionais", "severas", "duras", mas "necessárias", justificou a Generalitat.

A incidência média acumulada na Catalunha a sete dias oscilou entre 80 a 100 casos por 100 mil habitantes desde 2 de agosto. Começou a subir na semana de 27 de setembro a 3 de outubro até aos 114 casos. Disparou de seguida até aos 159 casos (169 na cidade de Barcelona). Se o indicador for a 14 dias, este nível supera os 250 casos. O número de casos (também em lares) quase duplicou em duas semanas, quando os cuidados de saúde primários estão no limite e aumentam as hospitalizações. Dados que foram definidos pelo Ministério da Saúde como um sinal de “alto risco de transmissão descontrolada no território”.

Os peritos consideram que o início das aulas e as relações de Barcelona com zonas com elevada incidência podem ser razões para este incremento. Certo é que o endurecimento de medidas já se adivinhava perante o aumento de cassos. No domingo, o Departamento de Saúde lançou uma mensagem nas redes sociais, em que se tornava clara a seriedade da ameaça: “Alerta para o elevado incremento de casos covid em toda a Catalunha. Medidas extremas de autoproteção e redução do contato social”, referia a notificação.

Hoje o Executivo explicitava em medidas o que significa a ameaça e decreto um conjunto de medidas “dolorosas”. A Catalunha imita Paris, Liverpool e Bruxelas com o encerramento de bares e restaurantes, mas não só.

As restrições anunciadas, uma vez que sejam ratificadas pelo Tribunal Superior de Justiça da Catalunha, são:

1. Reuniões familiares e teletrabalho

A Generalitat recomenda limitar as saídas do domicílio e a limitação de circulação, bem como uma redução dos contactos sociais com familiares e amigos àqueles que são estritamente necessários. Mantém-se a proibição de reuniões familiares de mais de seis pessoas.

A recomendação é para quese opte pelo teletrabalho, ao mesmo tempo que aumentam as meidas de higiene, limpeza e ventilação dos locias de trabalho e saídas desfasadas.

2.Bares e restaurantes

Está estabelecido que restaurantes e bares em toda a Catalunha têm que fechar, e que eles só poderão oferecer serviço de entrega/take away em estabelecimentos de comidas e bebidas. Os restaurantes do hotel só podem servir os seus hóspedes.

3. Atividades desportivas

Todas as competições desportivas federadas, escolares ou privadas não profissionais são suspensas por duas semanas, mas o treino pode continuar. Ou seja, o Barcelona pode continuar a jogar.

Os ginásios podem abrir com 50 por cento da capacidade, com marcação prévia e controle de acesso estabelecido.

4. Lojas e centros comerciais

Lojas e negócios, independente da sua dimensão, terão que limitar sua capacidade a 30% de sua capacidade.
Os mercados de rua também terão que restringir seus clientes a 30%.

Devem garantir uma distância de 1,5m entre clientes e caso não seja possível, deixar um único cliente entrar no estabelecimento.

Aqueles com mais de 400m2 devem ter sistemas de controlo de capacidade. É proibida a utilização das áreas comuns dos centros comerciais. Serviços que envolvam contato, como centros de massagem, fecham, exceto cabeleireiros.

5. Cultura e congressos

Os espetadores de teatros e salas de cinema passam a ser menos. Em vez de 70% da capacidade, passa a ser possível ocupar apenas metade dos lugares. Os lugares são marcados e todos têm de encerrar até às 23 horas. Bares e restaurantes destas unidades estão fechados.

Feiras e congressos são suspensos durante duas semanas, tal como parques de diversão, salas de jogo, bingos ou casinos.

6.Universidades

O Governo pediu a todas as universidades que durante as próximas duas semanas as aulas teóricas sejam ministradas por via eletrónica. Laboratórios, aulas práticas e workshops são mantidos.

7. Celebrações religiosas

Celebrações religiosas e cerimónias civis têm de restringir a participação a 50%.

8. Transporte público

A capacidade deve ser mantida a 100%, apesar de uma redução de passageiros. Todas as estações devem ter dispensadores de álcool gel.

9. Parques Infantis

Atividades extra-escolares podem manter-se de acordo com as regras. Os parques infantis permanecem abertos até às 20h00.

“Atua-se com contundência agora, para evitar um confinamento total nas próximas semanas”, referiu Pere Aragonès, vice-presidente da Economia e Presidente interino da Generalitat.

O número de casos (também em lares) quase duplicou em duas semanas, quando os cuidados de saúde primários estão no limite e aumentam as hospitalizações.

“O que fazemos é o que os cientistas pediram, as medidas obedecem a critérios sanitários e científicos”, disse o vice-presidente. Acrescentou que o Governo não quer fazer uma negação "ou uma guerra de bandeiras, como a que vimos não muito longe daqui”, em referência a Madrid.

Alba Vergés, a responsável regional da Saúde salientou que as medidas estão em linha com as que estão a ser tomadas por outros países europeus.

Perante as restrições a bares e restaurantes – nem comparáveis à fase 1 de desconfinamento, quando eram permitidas esplanadas – a Generalitayt promete apoios, até porque já se antevê a indignação do setor. Há medidas compensatórias de 40 milhões de euros de ajudas diretas, uma linha de créditos e até foi prometida uma modificação ao Código Civil catalão para introduzir uma cláusula que permita rever os contratos de arrendamento.

Medidas que se podem estender a outros setores, como o da diversão noturna, que nunca conseguiu abrir bares e discotecas.
Alba Vergés revela que o rastreamento dos surtos mostra que “são lugares de socialização evidente”, e onde é difícil um controlo para evitar contágios.

Pede-se que a população limite a sua mobilidade e que saia apenas para trabalhar, frequentar as aulas e comprar o necessário. Se ficam em casa, ou em caso de saída em passeio, devem estar juntas apenas as pessoas que convivem, o que as autoridades chamam de “borbulha de convivência”. Continuam proibidos grupo de mais de seis pessoas que não convivem diariamente.

Miquel Sàmper, com a pasta da Administração Interna, salientou que não pode haver um polícia em cada esquina, pedindo que seja a população a denunciar incumprimentos. Recordou que as sanções em vigor, mas reiterou que deve imperar, antes disso, a cumplicidade, responsabilidade de solidariedade da população para que a situação melhore. “Somos uma equipa de 7,5 milhões de pessoas”, reforçou a responsável da Saúde.
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