A União Democrata-cristã (CDU) alemã junta no sábado os seus 1.001 delegados num congresso virtual, o segundo na história do partido, para confirmar a eleição do novo líder, Friedrich Merz.
É o primeiro congresso da CDU depois das eleições legislativas que atiraram o partido para a oposição ao fim de 16 anos de governação de Angela Merkel. Os conservadores têm a difícil missão de recuperar o eleitorado perdido e, sobretudo, a confiança perdida depois da derrota frente ao Partido Social Democrata (SPD).
Para o politólogo alemão Lothar Probst, a crise da CDU é "bem mais profunda do que aquilo que eles próprios imaginam."
"Neste contexto de pandemia estão a ter muitas dificuldades em definir o seu novo papel como partido da oposição. Por um lado, têm de cooperar com o novo governo para tomar medidas que combatam a pandemia. Por outro lado, tentam encontrar uma forma de criticar o governo quando toma estas medidas", sustentou.
Em declarações à agência Lusa, Lothar Probst sublinhou que o partido não sabe qual a melhor foram de recuperar os eleitores desiludidos, tanto os de centro-direita, como os mais conservadores.
O politólogo duvida que Friedrich Merz, o novo líder eleito pelos membros do partido através de uma votação inédita, e que deverá ser confirmado no congresso deste sábado, preencha a lacuna entre os eleitores dos dois espectros políticos.
"Ele está a tentar abraçar os dois campos. Também mudou o seu discurso e soa agora mais brando em relação às questões sociais e ambientais", adiantou.
O politólogo Ulrich von Alemann não antecipa tempos fáceis para o futuro líder da CDU, que será obrigado a reinventar-se como político.
"O conservadorismo puro não será aceite, nem dentro do partido, nem pelos eleitores (...) Ele terá de fazer algumas cedências, algo que a maior parte dos membros do núcleo duro da CDU não quer", sustentou à Lusa, acrescentando que Merz já está a "tentar mudar" para conseguir ganhar mais apoio.
A primeira grande dificuldade interna parece ser a liderança do grupo parlamentar da CDU-CSU. Ralph Brinkhaus, que tem vindo a ocupar o cargo desde 2018, não tenciona abandonar o lugar. No entanto, Merz não escondeu a vontade de combinar as funções de ficar à frente do partido e do grupo parlamentar.
Esse é apontado pelos dois politólogos como um problema a curto prazo para CDU que não ajudará a fortalecer o partido.
"As perspetivas de futuro não são muito promissoras", destacou Lothar Probst, realçando mesmo que apenas "grandes falhas políticas do novo governo" poderão ajudar a CDU a "recuperar força".
Ulrich von Alemann apontou o facto de os conservadores terem assumido a derrota nas eleições "sem drama", enfrentando três provas de fogo este ano.
"A CDU tem de defender três dos seus governos regionais (Sarre, Schleswig-Holstein e Renânia do Norte-Vestefália) que vão este ano a votos e, para já, seguem atrás nas sondagens", alertou.