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Charlie Hebdo dos sobreviventes volta a inflamar o Paquistão

por João Ferreira Pelarigo, RTP
Manifestantes no Paquistão contra Charlie Hebdo Mohsin Raza, Reuters

Milhares de paquistaneses voltaram este domingo a sair às ruas contra a edição dos sobreviventes do Charlie Hebdo. Depois dos atentados de Paris, na segunda semana de 2015, a primeira página do jornal satírico gerou grandes protestos, com bandeiras francesas a serem queimadas. Imune à contestação, o editor Gérard Biard reitera que os cartoons ajudam a preservar a “liberdade de consciência”.

Mais de duas mil pessoas manifestaram-se este domingo no Paquistão contra a publicação de um novo cartoon do profeta Maomé na publicação Charlie Hebdo. Lançaram fogo a bandeiras de França, bem como a retratos do Presidente francês e dos cartoonistas do semanário.

Paquistaneses de partidos declaradamente islamistas, mas também laicos, desfilaram pelas ruas de Carachi, no sul do país, gritando palavras hostis contra os desenhos publicados pelo jornal.

Manifestantes no Paquistão queimam bandeira e retratos franceses. (Fotografia: Naseer Ahmed, Reuters)

Naquela cidade, uma delegação do partido Tehreek-e-Insaf foi até à residência do cônsul geral francês para reivindicar que Paris proíba o jornal de "propagar o ódio religioso pelo mundo", escreve a agência France Presse.
O Governo do Paquistão, segundo país muçulmano mais populoso do mundo, condenou o ataque ao Charlie Hebdo, que fez 12 mortos, mas o novo cartoon foi considerado ofensivo.
A ação de luta dos paquistaneses surgiu como homenagem aos irmãos Kouachi, autores dos ataques em Paris e mortos num assalto policial, mas também contra a publicação da caricatura na passada quarta-feira.
Um outro protesto, na sexta-feira, junto ao Consulado francês em Carachi, resultou no ferimento grave de um fotógrafo francês, após ter sido baleado.
Editor defende "liberdade de consciência"
O cartoon deu lugar a contestação noutros países. No Níger, dez pessoas foram assassinadas e várias igrejas foram incendiadas, na sexta-feira e no sábado, durante protestos contra o Charlie.

Vários países europeus reforçaram as medidas de segurança para prevenir a repetição dos ataques em Paris. Portugal está a rever a Estratégia contra o Terrorismo.

O desenho, publicado na capa do primeiro número do jornal após os atentados a 7 de janeiro, também recebeu um comentário por parte do Papa Francisco. O Sumo Pontífice da Igreja Católica condenou aqueles que matam em nome de Deus, mas sugeriu também que há limites para a liberdade de expressão, advertindo contra insultos a outras religiões.
O editor do Charlie Hebdo, Gérard Biard, questionado pelo canal norte-americano NBC acerca do que pensa dos comentários do Papa, defendeu a capa do jornal. Declarou que os cartoons ajudam a defender a "liberdade de expressão" e a "liberdade de consciência", que "não devem ser um discurso político".

Ao longo da entrevista com Gérard Biard, o termo "liberdade de consciência", usado pelo editor, foi traduzido pelo jornalista norte-americano como sendo "liberdade de religião".

"Sempre que desenhamos Maomé, sempre que desenhamos um profeta, sempre que desenhamos Deus, nós defendemos a liberdade de consciência, nos dizemos que Deus não deve ser uma figura política, não deve ser uma figura pública, deve ser uma personagem íntima. […] O que nós defendemos é a liberdade de expressão e a liberdade de consciência, que não devem ser um discurso político. […] Se a fé, se o discurso religioso vier da política, torna-se num discurso totalitário […] e nós preservamos o secularismo", afirmou Biard na entrevista, resumida na edição eletrónica do jornal francês Le Monde.
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