China sugere fim da política de "zero covid" após protestos

por Joana Raposo Santos - RTP
Thomas Peter - Reuters

A vice-primeira-ministra da China anunciou na noite de quarta-feira que o país vai entrar numa "nova fase e missão" da política de "zero covid". A mudança na abordagem do Governo à pandemia surge após vários dias de protestos massivos contra as restrições.

“Com a decrescente transmissibilidade da variante Ómicron, o aumento da taxa de vacinação e a experiência acumulada do controlo e prevenção de surtos, a contenção pandémica da China entra agora numa nova fase e missão”, declarou Sun Chunlan.

A indicação chegou na mesma altura em que várias regiões, incluindo Xangai, começaram a suspender os confinamentos, apesar do ainda elevado número de casos.

A vice-primeira-ministra falou depois de ter participado numa mesa redonda com especialistas em saúde que, segundo a agência de notícias chinesa Xinhua, terão elogiado os esforços da China antes de oferecerem sugestões sobre como “melhorar” as medidas atuais.

Segundo Chunlan, a China vai também adotar uma “abordagem mais humana” na sua resposta ao surto e exigir que o sistema de saúde aumente as reservas de medicamentos e outros recursos para o tratamento de pacientes.

A decisão de Pequim surge depois de enormes protestos em várias cidades contra as políticas de “zero covid” do Governo. As manifestações foram desencadeadas por um incêndio num prédio de Xinjiang no qual dez pessoas morreram. Muitos chineses acreditam que as restrições prolongadas contra a covid-19 contribuíram para o desastre.

A política da China inclui a imposição de bloqueios em bairros ou cidades inteiras, que podem demorar semanas ou meses, a realização constante de testes em massa e o isolamento de todos os casos positivos e respetivos contactos diretos em instalações designadas, muitas vezes em condições degradantes.
Autoridades continuam atentas a protestos
A mais recente mudança de tom vem acompanhada de uma nova campanha de vacinação voltada para idosos, anunciada na terça-feira. Mais de 90% da população da China recebeu pelo menos duas doses de uma vacina, mas a taxa cai drasticamente entre os idosos, especialmente aqueles com mais de 80 anos.

A China registou 36.061 novos casos na quarta-feira, uma ligeira queda em relação aos 37.828 de terça-feira. Apesar dos números relativamente altos, algumas regiões começaram a diminuir as restrições.

Segundo os órgãos de comunicação estatais, esta quinta-feira 24 distritos em Xangai designados como de “alto risco” foram libertados dos confinamentos. Um dia antes foi anunciado o relaxamento das restrições em 11 distritos de Guangzhou, apesar de ambas as cidades relatarem números crescentes de casos.

Apesar de o alívio das restrições poder significar que as queixas da população foram ouvidas, as autoridades continuam sem permitir os protestos e mantêm-se atentas, tendo em alguns casos detido pessoas que saíram às ruas para se manifestarem.

Até à data, a liderança chinesa justificou as medidas extremas com o facto de a China ter uma grande população, níveis desiguais de desenvolvimento entre regiões e "recursos médicos insuficientes".

Segundo dados oficiais, desde o início da pandemia morreram 5.233 pessoas na China devido a infeção pelo novo coronavírus. Estudos sustentam que a estratégia chinesa salvou milhões de vidas.

c/ agências
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