Chipre e UE empenhados em conter "expansionismo" turco

por Lusa

Nicósia, 07 jul 2020 (Lusa) -- O Presidente de Chipre disse hoje que o seu país e os parceiros da UE estão empenhados em conter a "política expansionista" turca no Mediterrâneo oriental, em plena tensão regional devido às prospeções de hidrocarbonetos ao largo da ilha dividida.

O Presidente cipriota, Nikos Anastasiades, disse que os 27 Estados-membros da União Europeia (UE), em que inclui a República de Chipre, necessitam de organizar uma resposta conjunta e dirigida a uma Turquia "insolente" que pretende controlar a região.

As declarações de Anastasiades surgem um dia após o ministro turco dos Negócios Estrangeiros, Mevlüt Çavusoglu, ter referido que o seu país irá "responder" caso a UE adote medidas que penalizem a Turquia por promover prospeções de gás em águas onde Chipre considera deter direitos económicos exclusivos.

"Infelizmente, estamos a falar de um agitador que procura dominar a totalidade do Mediterrâneo oriental e colocar sob seu controlo uma série de países que circundam o Mediterrâneo oriental", disse Anastasiades.

"É inaceitável e incompreensível, não apenas à luz da justiça internacional, mas também face às habituais e amistosas relações que países vizinhos deveriam promover".

A Turquia não reconhece Chipre como um Estado e enviou navios sob escolta para efetuarem prospeções de gás na zona económica exclusiva de Chipre, incluindo em áreas onde o Governo cipriota forneceu direitos de prospeção a companhias internacionais de energia, como a Total francesa ou a Eni italiana.

A Turquia reivindica quase metade da zona económica exclusiva de Chipre e insiste que atua para proteger os seus interesses e os interesses da autoproclamada República Turca de Chipre do Norte (RTCN), cerca de um terço do território da ilha dividida, no acesso às áreas com reservas energéticas.

Chipre está etnicamente dividida desde 1974, na sequência da invasão militar turca que se seguiu a um fracassado golpe de ultranacionalistas locais que pretendiam a união com a Grécia, então ainda submetida à ditadura dos coronéis.

A declaração de independência da RTCN, emitida 1983, apenas foi reconhecida pela Turquia. A República de Chipre, a maioria do território da ilha, tornou-se Estado-membro da UE em 2004 e usufrui em exclusivo dos benefícios da adesão.

Na segunda-feira Çavusoglu manteve conservações em Ancara com o chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, que se deslocou à região numa tentativa de reduzir as tensões.

Em resposta, o ministro turco considerou que o bloco comunitário "deve afirmar-se como um mediador justo e equidistante" face à questão das prospeções de gás na região em vez de exprimir o seu apoio aos direitos de Chipre.

Borrell reconheceu que as relações UE-Turquia "não atravessam o melhor momento" e apelou à intensificação do diálogo e da cooperação.

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