Cohen implica Trump. Ex-advogado do Presidente dá-se como culpado

por Carlos Santos Neves - RTP
Michael Cohen declarou-se culpado de oito acusações perante um juiz federal de Manhattan Eduardo Muñoz - Reuters

A Presidência de Donald Trump está a lidar com as ondas de choque de dois abalos judiciais. Quase em simultâneo, Michael Cohen, ex-advogado do Presidente dos Estados Unidos, e o antigo diretor da campanha presidencial Paul Manafort foram dados como responsáveis por crimes de fraude bancária e fiscal. O primeiro deu-se como culpado e testemunhou ter sido instruído pelo magnata a “cometer um crime”.

Dois processos, dois golpes profundos no tecido da Presidência de Donald J. Trump, um dos quais com origem em Nova Iorque e no testemunho do ex-advogado do multimilionário do imobiliário que se tornou o 45.º Presidente dos Estados Unidos.
Michael Cohen, que conhecerá a sentença a 12 de dezembro, representou Donald Trump durante mais de uma década, chegando a ser apelidado de pitbull do magnata nova-iorquino. A admissão de culpa deverá constituir uma atenuante.

Diante de um juiz federal de Manhattan, Michael Cohen declarou-se culpado de oito acusações de crimes de fraudes fiscal e bancária e de violação da legislação que enquadra o financiamento das campanhas eleitorais.

O jurista admitiu ter pago 130 mil e 150 mil dólares a duas mulheres - a atriz de filmes para adultos Stormy Daniels e a antiga modelo da Playboy Karen McDougal – que afirmam ter mantido relações com Trump nos anos de 2000. E isto “a pedido do candidato”, por forma a evitar a propagação de notícias “que poderiam comportar prejuízos”. Alegações que o Presidente norte-americano tem repetidamente negado.

Lanny Davis, o advogado de Cohen, afiançou, em comunicado, que o constituinte está empenhado em “dizer a verdade sobre Donald Trump”, tendo “testemunhado sob juramento” que o - à data dos factos - candidato à Presidência “pediu que cometesse um crime”.

“Se estes pagamentos constituem um crime para Michael Cohen, por que razão não constituem um crime para Donald Trump?”, questionou-se o mesmo advogado.

À saída do tribunal em Nova Iorque, o procurador federal Robert Khuzami descreveu como “muito graves” as acusações que pendem sobre o ex-advogado de Donald Trump, dado que “refletem um modo de funcionamento feito de mentiras e desonestidade, durante muito tempo”.
“Sinto-me triste”
Quase a par dos acontecimentos em Nova Iorque, em Alexandria, perto de Washington, Paul Manafort foi considerado culpado, em tribunal, de fraude fiscal e bancária – neste caso o júri deu como provados dez dos 18 crimes de que estava acusado o antigo diretor de campanha de Trump.
O advogado de Paul Manafort, Kevin Downing, afirmou que o lobista “está desiludido” e a “avaliar todas as suas opções”.

Esta decisão comporta o peso simbólico de ter sido conhecida horas depois de o Presidente dos Estados Unidos desferir, em entrevista à agência Reuters, nova barragem de críticas à investigação do procurador especial Robert Mueller sobre o alegado conluio com agentes russos durante a corrida à Casa Branca. O processo de Manafort resultou, precisamente, deste inquérito.

Trump procurou, durante a noite, rechaçar os efeitos dos dois processos judiciais com um comício em West Virginia, onde voltou a arrancar aos apoiantes gritos de “prendam-na”, tendo por alvo a candidata democrata batida em 2016, Hillary Clinton.



“Sinto-me triste”, clamou o Presidente norte-americano, referindo-se a Paul Manafort como um “um bom homem”. Quanto a Michael Cohen, Trump nada disse.

O Presidente quis ainda sublinhar que a decisão conhecida em Alexandria não teve “nada a ver” com um eventual conluio com Moscovo e insistiu em queixar-se de uma “caça às bruxas”.

“Onde está o conluio? Eles estão sempre à procura do conluio. Onde está o conluio? Descubram o conluio”, instou.

c/ agências internacionais

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