Coligação anti extrema direita vai garantir um extremista do centro no Eliseu

por Rui Sá, Rosário Salgueiro, João Fernando Ramos

Direita e esquerda vão apoiar Emmanuel Macron não por convicção, mas por oposição. Em França há uma espécie de "todos contra a extrema direita" de Marine Le Pen, que agora se auto suspende da direção da Frente Nacional e se passa a apresentar como "candidata independente".
Contas fechadas Macron somou 24,01% dos votos, Le Pen 21.03%. Ambos os candidatos já estão na estrada a fazer campanha atentos às sondagens. Com 60% das intenções de voto nos estudos de opinião Emmanuel Macron tem vitória praticamente garantida a 7 de maio, na segunda, e decisiva, volta das presidenciais francesas.

O resultado é aplaudido pelos mercados. O índice da Bolsa de Paris, o CAC 40, foi o que mais subiu esta segunda-feira em toda a Europa. Uma valorização acima dos 4%, com, os bancos a liderar as subidas.

Emmanuel Macron é um homem da banca. O líder do Movimento "Em Marcha", afirma-se um defensor das teorias neoliberais e dos primado dos mercados, A sua reforma laboral, que tentou levar a cabo enquanto ministro da economia (socialista), foi a mais contestada pelos franceses nas últimas décadas.

Os grandes derrotados são os partidos que até este domingo garantiram a espinha dorsal da V República. Esquerda e direita tradicionais representam agora menos de 30% dos eleitores.

Benoit Hamon, o candidato apoiado pelo Partido Socialista, atualmente no poder, soma apenas 6,31% dos votos. Um descalabro eleitoral a que François Fillon, o candidato do partido Republicano também não escapa com 20,01% dos votos.

Esta é a primeira vez, desde 1958 que a direita não consegue que um candidato seu passe à segunda volta das presidenciais.

Macron que foi ministro da economia de um governo socialista garante não é, nem socialista, nem o seu contrário. É o liberal que obliterou os partidos tradicionais que agora se vêm na contingência de apelar no voto útil anti extrema direita.

Curioso será perceber que mesmo o partido comunista francês, que apoiava a candidatura de Melenchon, já veio a público garantir o seu apoio ao neoliberal Macron.

Jean-Luc Melenchon que, com um discurso radical de esquerda, garantiu 19,58% dos votos, não dá o seu apoio à coligação anti-Le Pen.

O primeiro-ministro socialista Bernard Cazeneuve já veio a público aconselhar o voto em Emmanuel Macron. O Presidente da República, Fraçois Hollande não foi esta segunda feira menos subtil. Afirma que votar em Le Pen é garantir a ruína de França e dos franceses, e declarou que ele votará Macron.

Mais do que um em cada cinco franceses votou no entanto Le Pen. França passa a ser o país da Europa com mais pessoas a aderir ao discurso nacionalista, racista, e xenófobo.

Na Bastilha anarquistas e radicais de esquerda chocam com a polícia e a República que esta representa. Há seis feridos, 29 detidos.

A França que sai destas eleições é uma França de extremos. A extrema direita que vem de Vichy e se renova no discurso, o novo "extremismo" do centro neoliberal, que garante alinhará com o projeto alemão para a Europa, qualquer que este venha a ser depois das eleições de 24 de setembro naquele país.

Para Macron, cujo objetivo é agora unir os franceses para garantir mais do que a presidência e governabilidade do país, o Eliseu parece garantido.

As eleições para a Assembleia Nacional, são em junho. O movimento "Em Marcha" vai concorrer em todos os círculos eleitorais. A Frente Nacional, os socialistas e os republicanos também. No fim espera-se uma França ainda mais dividida do que a atual.
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