Comandante militar russo baleado enquanto recrutava para a guerra na Ucrânia

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Alexander Ermochenko - Reuters

Um jovem russo disparou contra um comandante militar enquanto este recrutava residentes para a guerra na Ucrânia. “Ninguém vai para a guerra. Agora vamos todos para casa”, terá dito o atirador. O ataque desta segunda-feira reflete um aumento das tensões na Rússia face à mobilização de reservistas para a guerra anunciada por Vladimir Putin.

Esta segunda-feira, um comandante militar russo foi baleado em Ust-Ilimsk, uma cidade na região de Irkutsk, na Sibéria. Um residente local de 25 anos, identificado como Ruslan Zinin, entrou no centro de recrutamento e disparou contra o militar, que alistava residentes para a guerra na Ucrânia. Alexandr Yeliseev, o comandante, foi baleado quatro vezes.

“Ninguém vai a lugar nenhum”, disse Zinin momentos antes de disparar, segundo testemunhas. “Ninguém vai para a guerra. Agora vamos todos para casa”, acrescentou.


Segundo a mãe do atirador - também ele convocado - o seu melhor amigo foi recrutado para a guerra apesar de nunca ter servido no exército, o que motivou a sua raiva.

Zinin foi detido e as autoridades russas prometeram punições severas. As autoridades locais avançaram que o comandante militar estava nos cuidados intensivos.

O governador regional de Irkutsk, Igor Kobzev, escreveu no Telegram que o comandante militar estava em estado grave no hospital e afirmou que o atirador será “certamente punido”.

“Tenho vergonha que isto esteja a acontecer num momento em que, pelo contrário, devíamos estar unidos”, escreveu o governador. “Devemos lutar não uns contra os outros, mas contra ameaças reais”, sublinhou.
Onda de protestos e fuga em massa
O ataque desta segunda-feira reflete um aumento das tensões e a forte oposição dos cidadãos russos à mobilização parcial anunciada pelo presidente Vladimir Putin.

Os últimos dias têm sido marcados por intensos protestos em várias cidades russas depois de o Kremlin ter anunciado, na semana passada, uma mobilização parcial – a primeira desde a Segunda Guerra Mundial – para reforçar as forças russas na Ucrânia com pelo menos 300 mil soldados. Estima-se que pelo menos duas mil pessoas tenham sido detidas nos últimos dias por protestarem contra a mobilização de reservistas.

Também esta segunda-feira, um homem pegou fogo a si próprio enquanto gritava que não queria participar na guerra.

Enquanto isso, milhares de russos tentam fugir do país para escapar à mobilização, formando filas de vários quilómetros nas fronteiras.

Perante a forte resistência, Putin endureceu as penas para quem fugir da mobilização militar para até dez anos de prisão.
Recrutas russos chegam à Ucrânia sem qualquer tipo de treino
Os primeiros grupos de tropas russas recentemente mobilizadas por Moscovo já começaram a chegar às bases militares, segundo avançou o Ministério da Defesa do Reino Unido.

O Estado-Maior das Forças Armadas da Ucrânia afirmou que alguns recrutas russos estão a ser enviados diretamente para as linhas de frente sem qualquer tipo de preparação.

Homens recentemente mobilizados por funcionários pró-russos na Ucrânia também estão a ser preparados para serem enviados para a linha de frente, incluindo residentes recém-convocados na Crimeia, bem como recrutas na região de Lugansk que receberam convocações nos últimos dias.

O Ministério da Defesa britânico disse que muitos destes recrutas provavelmente receberão pouco treino e enfrentarão “altos níveis de desgaste” quando destacados.


“A falta de instrutores militares e a pressa com que a Rússia iniciou a mobilização sugerem que muitas das tropas [russas] convocadas serão enviadas para a linha de frente com o mínimo de preparação necessária”, disse a Defesa britânica.

c/agências
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