Como Donald Trump puxa a Alemanha para o clube nuclear

por RTP
Fabian Bimmer, Reuters

A pressão para que os países membros da NATO aumentem os seus orçamentos militares tem, no caso da Alemanha, um impacto inesperado: tanto dinheiro só faz sentido para um país que planeie tornar-se uma potência nuclear.

A ideia de dedicar dois por cento do PIB aos gastos militares traduz-se, em economias mais pequenas, em verbas relativamente pouco significativas. No caso da Alemanha, a ser seguido esse critério, ele redundaria numa quase duplicação dos gastos militares: dos actuais 39.000 milhões de dólares, passar-se-ia até 2024 para 65.000 milhões.

A concretizar-se este salto qualitativo na militarização do Orçamento de Estado, a Alemanha ficará só por si, a gastar quase o mesmo que gastou a Rússia em 2015 - 66.000 milhões.

A exorbitância das despesas militares de um único país da NATO, mesmo sendo um dos mais importantes, tem uma lógica própria: ela só faz sentido se a Alemanha, de membro condicionado à não-nuclearidade por força dos antecedentes nazis, finalmente adquirir a arma nuclear, que já detêm outros membros muito menos gastadores.

E essa lógica própria não passa despercebida a grande parte da imprensa alemã. Assim, o tablódie Bild-Zeitung titula com a pergunta: "Vai a Alemanha adquirir uma arma nuclear própria?". E dá meia resposta à pergunta: "Nota-se por exemplo até que ponto a Europa está desprotegida sem os EUA com uma comparação: a Europa tem 512 ogivas nucleares, a Rússia tem mais de 7.000".

Mais prudente, o Frankfurter Allgemeine Zeitung cita o primeiro ministro nacionalista polaco com a afirmação de que "um poder nuclear próprio [da Europa] devia estar à altura da Rússia". O também conspícuo Die Zeit cita um perito nuclear falando a coberto do anonimato, com a opinião de que um ponto fraco dos alemães é o de terem desaprendido a pensar em termos nucleares.

Vozes que apelam à sensatez também se fazem ouvir. Uma delas era, no verão passado, a do general norte-americano Ben Hodges, comandante das forças norte-americanas na Europa ao lembrar que manobras como aquelas em curso actualmente, de tanques alemães na Lituânia, alegadamente destinadas a "dissuadir" ameaças russas contra o pequeno Estado báltico, poderiam ter o efeito contrário - de criar na Rússia um sentimento de fortaleza assediada, com forças hostis mesmo junto às suas fronteiras.
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