Confiança nas notícias aumentou durante a pandemia. Informação da RTP é a mais confiável

por Inês Moreira Santos - RTP
Danish Siddiqui - Reuters

As sociedades viram a suspensão das atividades económicas e, consequentemente, as populações foram obrigadas a mudar os seus hábitos quotidianos. Mas num ano marcado pela pandemia da covid-19, "a confiança nas notícias, em geral, aumentou em vários países", inclusive em Portugal. A conclusão é de um estudo, divulgado esta quarta-feira, da OberCom e da Reuters Institute, que revela ainda que 81,5 por cento dos portugueses dizem confiar na RTP1 como marca de notícias.

"A confiança em notícias em geral aumentou em diversos países e Portugal não é exceção, com uma subida de cinco pp. [pontos percentuais] face a 2020 (dos 56 por cento para os 61 por cento)", lê-se no relatório da Reuters.

Dos 46 países em estudo, o valor médio deste indicador é de 44 por cento, continuando Portugal a "apresentar valores francamente acima da média quando comparado com outros países, situação que se vem verificando ao longo dos anos e que não só não foi revertida pela crise pandémica como, pelo contrário, se intensificou, depois de vários anos em que a confiança em notícias registou valores mais baixos".

Já a nível internacional, a Finlândia continua a ser o país com os níveis mais altos de confiança geral (65 por cento) e os Estados Unidos mantêm os níveis mais baixos (29 por cento), refletindo-se sobretudo nas eleições presidenciais e nas consequências do assassinato de George Floyd.

O Reuters Digital News Report Portugal 2021 pretende abordar e destacar as mudanças analisadas no consumo de notícias, principalmente num ano marcado pela crise pandémica. O documento, divulgado esta quarta-feira, revela que Portugal se destaca "no panorama internacional em aspetos como a confiança em notícias, que continua a situar-se em níveis acima da média geral", mas este ano com uma tendência de subida.

Segundo a edição deste ano do Digital News Report Portugal, o grau de impacto da Covid-19 na vida pessoal dos consumidores parece impactar com "o nível de confiança nos conteúdos noticiosos em geral".  Ou seja, entre os inquiridos, os que foram de alguma forma impactados pela Covid-19 "tendem a confiar mais em notícias, na maioria dos casos, do que os inquiridos cuja vida foi nada ou minimamente impactada".

Em comunicado, a OberCom indica ainda que se assistiu ao "aumento do pagamento por notícias" e que "Portugal não foge à regra, embora com um longo caminho a percorrer".

Entre as possíveis justificações para o aumento geral na confiança nas notícias destaca-se o "papel preponderante da comunicação social na ajuda à interpretação e compreensão da vida em pandemia".
Notícias online continuam a "ganhar relevância"

A televisão continua a ser o principal meio de acesso a notícias, aponta o relatório da OberCom e da Reuters, com 57,7 por cento dos portugueses a afirmar que "este meio é a sua principal fonte de notícias". Mas a Internet continua a "ganhar relevância" e já é "a principal fonte de notícias para 17,4 por cento".

De facto, entre 2020 e 2021, a proporção de utilizadores que "pagou por notícias em formato digital no ano anterior subiu 6,8 pp. para os 16,9 por cento". Entre os portugueses que pagaram por notícias em formato digital no ano passado, mais de metade (54,8 por cento) estão a pagar por uma subscrição em permanência e 41 por cento dizem ter feito algum pagamento isolado por artigo ou edição.

Além disso, o uso de smartphones para consumo de notícias cresceu também (73 por cento), com a dependência destes dispositivos durante a pandemia.

Os portugueses que mais foram afetados pela Covid-19 revelam maiores índices de confiança em conteúdos noticiosos e tendem também "a estar mais preocupados com a legitimidade de conteúdos online". De forma geral, "mais de sete em cada dez portugueses dizem-se preocupados com este tipo de conteúdos e com os seus efeitos".

A população portuguesa considera, aliás, que a Covid-19 foi o tema sobre o qual "encontraram mais conteúdos desinformativos".

No caso do acesso a notícias online, oito em cada dez pessoas afirma aceder a estes de forma indireta, "através de motores de busca, de redes sociais, e-mail, notificações móveis, agregadores ou outros, dado que consolida a importância e poder simbólico de terceiros no acesso a notícias". A partilha de notícias nas redes sociais é, segundo o relatório, uma das práticas mais frequentes no que diz respeito ao consumo de informação online.

As vias indiretas prevalecem, portanto, sobre os sites das marcas de comunicação social, com praticamente oito em cada dez portugueses a aceder de forma indireta a notícias – 28,4 por cento através de motores de busca, 24 por cento através de redes sociais e 12,7 por cento via notificações móveis.

E, embora o Facebook e Youtube continuem a ser as redes sociais mais utilizadas pelos portugueses (73,2 por cento e 65,6 por cento, respetivamente), ambas registam "perdas de utilizadores face a 2020 – o Facebook perdeu utilizadores na ordem dos 3,7 pp. e o Youtube na ordem dos 2,4 pp". Relativamente a utilização para consumo de notícias, as duas redes registam perdas na ordem dos 2,5 pp. e 3,9 pp., em 2021 face a 2020, "sendo que 47,7 por cenro dos portugueses que usam a Internet usam o Facebook para aceder a notícias e 19,9 por cento o Youtube".
Pandemia impulsionou confiança no jornalismo

Para além das mudanças de hábitos de consumo dos portugueses e do aumento de confiança, este ano marcado pela Covid-19 trouxe também "mudanças muito acentuadas ao nível do trabalho jornalístico e das marcas de comunicação social".

A cobertura noticiosa sobre temas de saúde dominou a agenda, com "ciclos noticiosos intensivos em todos os meios de comunicação" e com um "forte investimento por parte das marcas na garantia de transparência e clareza informativa".

"Formatos como o jornalismo de dados, com base em informação estatística complexa e em permanente atualização, viram desenvolvimentos muito significativos no nosso país, sendo de lembrar que estas novas materializações do jornalismo têm um impacto muito relevante na forma como os consumidores se relacionam com as marcas e com a narrativa noticiosa", destaca o estudo.

No último ano, o jornalismo transformou-se "num eixo comunicacional fundamental para ajudar a compreender a evolução da pandemia", o que pode também justificar o aumento da confiança nas notícias e na marcas de comunicação.

Mas a preocupação com a desinformação continua alta, com 58 por cento dos inquiridos a mostrarem "preocupação sobre o que é verdadeiro ou falso na Internet, quando se trata de notícias.

A maioria dos participantes neste estudo afirma ter visto mais desinformação sobre a Covid-19 do que sobre qualquer outro assunto, "incluindo política". Segundo a amostra global, aumentou a preocupação com o "papel desempenhado pelos políticos na divulgação de informações imprecisas ou enganosas sobre a Covid-19, seguidos por pessoas comuns, ativistas e jornalistas".

Como esclarece o relatório, as condições informativas proporcionadas pela pandemia conduziram, por um lado, "ao intensificar de fenómenos desinformativos já conhecidos" e, por outro, "ao surgimento de novas expressões de desinformação nas redes sociais", nomeadamente nas aplicações de mensagens.

Em Portugal, a proporção de pessoas que se dizem preocupadas com o que é real ou falso na Internet manteve-se relativamente inalterada face a 2020. Contudo, "há mais portugueses a revelar menor preocupação quanto a conteúdos desinformativos online (10,2 por cento em 2021, face a 6,1 por cento em 2020) e, por consequência, uma menor proporção de inquiridos a ter um posicionamento neutro sobre esta afirmação".

A maioria dos portugueses considera, por isso, que "os media devem cobrir uma grande diversidade de pontos de vista (53,1 por cento), devem manter a sua imparcialidade em todas as situações (69,3 por cento) e dar igual tempo de exposição a todos os lados numa discussão (81,3 por cento)".
Marcas de confiança

A confiança dos portugueses nos conteúdos noticiosos aumentou durante a pandemia, mas houve ainda outra mudança no contexto comunicacional: a procura de informção na imprensa local e regional também aumentou.

Com os confinamentos, "muitos portugueses encontraram na sua geografia próxima novas dinâmicas quotidianas, para as quais a informação e consciência sobre a realidade local são fundamentais", lê-se no relatório.

Cerca de seis em cada dez portugueses (59,7 por cento) dizem-se muito ligados à sua "comunidade, seja às pessoas ou ao espaço que os rodeiam".

O relatório da Reuters observa que o indicador de confiança em notícias aponta para "os indicadores altos de confiança em notícias como uma característica estrutural do mercado noticioso português" - um mercado onde subsistem quadros de "opinião coincidentes com algum ceticismo face a conteúdos noticiosos com origem em determinadas fontes digitais e na Internet, em geral".

Relativamente à confiança nas marcas de notícias, a RTP 1 ocupa, pelo segundo ano consecutivo, o topo da lista no que respeita a confiança - 81,5 por cento dos portugueses dizem confiar na RTP 1 como marca de notícia. Segue-se a SIC, em segundo lugar na confiança dos portugueses, com 79,9 por cento dos inquiridos a considerar também uma marca de confiança.

Já a rádio em que os portugueses mais confiam é a Renascença com 73,2 por cento, seguida de perto pela Antena 1 com 71,8 por cento.

O Reuters Digital News Report 2021 é o décimo relatório anual do Reuters Institute for the Study of Journalism (RISJ) e o sétimo relatório a contar com informação sobre Portugal. Em 2021, participaram 46 mercados de notícias, incluindo Portugal incluído.

Enquanto parceiro estratégico, o OberCom – Observatório da Comunicação colaborou com o RISJ na conceção do questionário para Portugal, bem como na análise e interpretação final dos dados.



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