Conflito exige cooperação entre EUA e Rússia - Kofi Annan

por Lusa

Marrocos, Marraquexe, 08 abr (Lusa) - O antigo secretário-geral das Nações Unidas Kofi Annan considerou hoje que o conflito na Síria só será ultrapassado se Estados Unidos e Rússia cooperarem entre si e se todas as partes concluírem que não haverá vencedores.

"É necessário que Estados Unidos e Rússia trabalhem juntos com outros países para resolver o conflito na Síria. Enquanto eles estiverem em confronto, não vamos fazer progressos", sustentou o ex-líder da Organização das Nações Unidas (ONU), intervindo no fórum "Fim de Semana da Governação Ibrahim", que decorre até domingo em Marraquexe, Marrocos.

Para Kofi Annan, a solução para o conflito na Síria é só uma: "Todos os protagonistas devem chegar à conclusão - já deviam tê-lo feito há muito - de que não haverá vencedor e só haverá destruição".

As partes envolvidas no conflito na Síria, que se prolonga há seis anos, "devem chegar a acordo sobre um programa comum", sustentou.

Kofi Annan recordou que chegou a ser mediador do conflito, em 2012, a convite da ONU, mas desistiu.

"Tive pena disso, porque lamento pelos sírios", disse, mas justificou a sua decisão: " O mediador não pode querer mais a paz do que os protagonistas, mais do que o Conselho de Segurança que lhe deu o trabalho".

A situação atual na Síria é, para Kofi Annan, uma demonstração do fracasso do funcionamento do Conselho de Segurança da ONU.

"Não conseguiram chegar a um verdadeiro acordo sobre a Síria", comentou.

Para o antigo líder das Nações Unidas, os membros devem "olhar para o Conselho de Segurança como um comité executivo do (...) mecanismo de defesa coletivo, mas ao longo dos anos acabaram por defender os interesses dos seus países".

O Conselho de Segurança das Nações Unidas tem cinco membros permanentes, com direito de veto (Estados Unidos, Rússia, China, França e Reino Unido) e dez membros não permanentes.

Kofi Annan foi um dos oradores no fórum, dedicado ao tema "África num ponto de viragem", promovido pela Fundação Mo Ibrahim, que há dez anos se dedica a colocar o tema da governação no centro do debate sobre o continente africano.

Os Estados Unidos lançaram na sexta-feira um ataque na Síria com 59 mísseis de cruzeiro contra a base aérea de Shayrat, de onde terão partido os aviões envolvidos no ataque com armas químicas que na terça-feira matou pelo menos 86 pessoas em Khan Sheikhun, no noroeste do país.

O bombardeamento de terça-feira foi assumido pelas autoridades sírias que, no entanto, negaram ter usado armas químicas.

Na versão do regime de Bashar al-Assad, o ataque atingiu um depósito de armas químicas da Frente Al-Nosra, contrabandeadas para a província de Idleb a partir da fronteira com o Iraque e a Turquia, e que foram escondidas em zonas residenciais da zona.

Em resposta ao ataque, a Rússia anunciou o reforço das defesas antiaéreas da base e pediu uma reunião de emergência do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

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