Congressista republicana queria lei marcial para impedir tomada de posse de Joe Biden

por Inês Moreira Santos - RTP
John Bazemore - EPA

Marjorie Taylor Greene, uma conhecida congressista republicana e apoiante de Donald Trump, está a enfrentar um processo judicial pelo seu alegado apoio ao ataque ao Capitólio em janeiro de 2021. Esta terça-feira, a imprensa norte-americana divulgou novos dados que revelam que Greene tentou apelar ao chefe de Gabinete do antigo presidente dos Estados Unidos para que se invocasse a Lei Marcial, de forma a reverter os resultados eleitorais.

A CNN conseguiu ter acesso a 2.319 mensagens de texto que Mark Meadows enviou e recebeu entre o dia das eleições e a posse do presidente, a 20 de janeiro de 2021, e que entregou à comissão de investigação da Casa Branca.

“No nosso grupo de mensagens privado, apenas para os membros, vários dizem que a única maneira de salvar a nossa República é Trump invocar lei Marshall [sic]”, escreveu Greene a 17 de janeiro. “Eu só queria que lhe dissesse isso a ele. Roubaram estas eleições. Todos nós sabemos disso. Eles vão destruir o nosso país em seguida”.

As várias mensagens, agora divulgadas na comunicação social, mostram como o ex-chefe de gabinete estava no centro das teorias da conspiração que alegavam fraude eleitoral, além de ser um dos autores das tentativas para impedir a homologação de Biden a 6 de janeiro de 2021.

Os dados revelados à comissão de investigação incluem mensagens de familiares de Trump – a filha, Ivanka Trump, o genro, Jared Kushner, e o filho, Donald Trump Jr. – membros da organização do com«icio, Rudy Giuliani, o presidente da administação de My Pillow, Mike Lindell, Sean Hannity e outros membros da Fox. Há ainda trocas de mensagens entre mais de 40 membros atuais e ex-republicanos do Congresso, incluindo o senador Ted Cruz, do Texas, e os deputados Jim Jordan, de Ohio, Mo Brooks, do Alabama, e Marjorie Taylor Greene, da Geórgia.

Nas mensagens lêem-se planos para reverter os resultados das eleições, bem como reações surpreendentes e inesperadas a 6 de janeiro de alguns dos mais leais aliados de Trump.

"Mark, disseram-me que há um atirador no primeiro andar do Capitólio. Por favor, diga ao presidente para acalmar as pessoas. Isto não é a maneira de resolver nada", escreveu Greene numa mensagem a que Meadows não parece não ter respondido.
Greene apoiou invasão do Capitólio

Embora no dia 6 de janeiro Greene pareça, pelas mensagens, surpreendida com a violência do plano para impedir a certificação de Joe Biden no Capitólio, as conversas dos dias anteriores revelam que apoiou as ideias para perturbar a cerimónia.

“Bom dia, Mark, estou aqui em DC. Temos que nos organizar para o dia 6”, escreveu Greene a 31 de dezembro. “Gostaria de me encontrar com Rudy Giuliani novamente. Não conseguimos falar com ele muito tempo. Também com quem puder ajudar. Estamos a receber muitos membros”.

Na altura em que enviou esta mensagem a Mark Meadows, Taylor Greene ainda não tinha tomado posse como congressista.

Ron Fein, que está a liderar um movimento legal para impedir a candidatura de Greene na Geórgia, por alegações de que a congressista ajudou a organizar o motim de 6 de janeiro, disse à NBC News que estas mensagens de texto prejudicam a credibilidade e testemunho no caso.

“Marjorie Taylor Greene testemunhou sob juramento que não se lembrava de ter dito a Trump ou ao chefe de gabinete para declarar a lei marcial para tentar manter Trump no poder, mas as suas mensagens revelam que ela fez exatamente isso”, disse Fein.

“Qualquer um que 'não se consegue lembrar' se pediu ao Chefe de Gabinete da Casa Branca para falar com o presidente dos Estados Unidos sobre a invocação da lei marcial não pode ser confiável quando afirma que 'não se lembra' do seu próprio envolvimento na invasão”.

A congressista norte-americana enfrenta um processo judicial pelo seu alegado apoio ao ataque ao Capitólio em janeiro de 2021, podendo ser impedida de concorrer às eleições intercalares agendadas para novembro. Se perder a batalha em tribunal, Marjorie Taylor Greene poderá permanecer no Congresso até ao fim do seu mandato em janeiro de 2023, mas não poderá concorrer ao ato eleitoral deste ano.

Um grupo de eleitores processou a representante da Geórgia, por considerar que a congressista incentivou a invasão ao Capitólio a 6 de janeiro de 2022, contrariando a 14ª Emenda da Constituição, que estabelece que um membro do Congresso não pode envolver-se numa “insurreição ou rebelião”.

A congressista negou em tribunal, sob juramento, ter apoiado as alegações de fraude eleitoral por parte de Trump, que motivaram o ataque ao Capitólio em que morreram cinco pessoas.

Entre outras coisas, Marjorie Taylor Greene repetiu que havia uma “enorme quantidade de atividades fraudulentas” que impediam a reeleição de Trump.
Meadows não entregou todas as mensagens

Apesar de, pelas mensagens, se perceber que os conjurados apoiavam que se tentasse impedir a homologação de Joe Biden no Capitólio como presidente eleito, muitos ficaram surpreendidos com a violência do ataque.

"Mark: tem de parar com isso agora. Posso fazer alguma coisa para ajudar?", disse Mick Mulvaney, ex-chefe de gabinete interino de Trump na Casa Branca.

"Está muito mau aqui na colina. Eles invadiram o Capitólio", escreveu o deputado republicano da Geórgia, Barry Loudermilk.

"O presidente tem de parar com isto o mais rápido possível", escreveu o deputado republicano William Timmons, da Carolina do Sul.

Mas, à semelhança do que aconteceu com Taylor Greene, Mark Meadows não respondeu imediatamente e o ataque prosseguiu.

Posteriormente, o chefe de Gabinete respondeu a Loudermilk: "POTUS [presidente dos EUA] está envolvido".

Contudo, o ex-chefe de Gabinete de Trump não entregou todas as conversas e mensagens trocadas e, segundo descobriu a equipa de investigação, Meadows teve contactos entre dezembro de 2020 e janeiro de 2021 com os organizadores do comício Save America que promoveram o ataque ao Capitólio e com membros da campanha de Trump, avança o Guardian. Meadows não entregou às autoridades nenhuma mensagem ou conversa do período entre 9 e 21 de dezembro, uma altura que os investigadores consideram decisiva por ser perto do ataque ao Capitólio.

Recorde-se que Meadows entregou as mais de duas mil mensagens à comissão de investigação mas, depois disso, deixou de cooperar e recusou-se a comparecer em tribunal para um depoimento, não tendo ainda sido formalizada qualquer acusação contra ele.

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