Congresso da Polisário tem como "verdadeiro protagonista a Argélia" - embaixador de Marrocos

por Lusa

O embaixador de Marrocos em Lisboa afirmou hoje à agência Lusa que o congresso da Frente Polisário, que pôs fim ao cessar-fogo para retomar a luta armada, é um "não-acontecimento" pois o "verdadeiro protagonista é a Argélia".

Numa nota de esclarecimento enviada por Othmane Bahnini para "dissipar qualquer confusão ou má interpretação que possa estar implícita" em declarações segunda-feira à Lusa, em que, instado a pronunciar-se sobre as conclusões do congresso da Polisário, se limitou a considerar tratar-se de "um não-acontecimento", o diplomata refere que se trata de uma "entidade fantoche" da qual foi "pormenorizada de uma forma clara" o "conteúdo do texto".

"Permita-me mais uma vez afirmar energicamente que se trata, de facto, de um `não evento`, pois Marrocos está habituado a esta mascarada que visa, essencialmente, alimentar a propaganda da Polisário e das suas milícias apoiadas pela Argélia", acrescentou à Lusa.

Para Bahnini, a insistência na consideração de um "não-acontecimento", é porque o "verdadeiro protagonista é a Argélia", que abriga em território argelino o "grupo separatista" (a Frente Polisário) e "detém [...] centenas de famílias sequestradas em Tindouf [centro-oeste argelino]", que, para Rabat, estão "privadas dos seus direitos e liberdades mais elementares".

 "A Argélia e o seu braço armado, a Polisário, trabalham mais para a desestabilização da região e não para a construção da paz e para o bem-estar dos povos da região. É, de facto, a Polisário que, ao violar o cessar-fogo em novembro de 2020, renunciou oficialmente, por sua própria iniciativa, a qualquer participação no processo político da ONU sobre o Saara marroquino para uma solução fiável e duradoura para esta questão", assinalou o embaixador de Marrocos em Lisboa.

No congresso, que decorreu entre 13 e 22 deste mês no acampamento de refugiados sarauís em Dakhla, na Argélia, foi reeleita a direção liderada por Brahim Ghali e aprovada uma proposta para retomar a luta armada contra Marrocos e o fim do cessar-fogo datado de 1991.

Segundo Bahnini, o Conselho de Segurança da ONU está a trabalhar para uma solução política negociada para "este diferendo regional", para o qual Marrocos apresentou uma proposta de autonomia alargada para o território da antiga colónia espanhola, rejeitada pela Polisário, que exige o referendo de autodeterminação.

"A `Iniciativa de Autonomia` proposta por Marrocos em 2007, qualificada como séria e credível, continua a ser a única solução e goza hoje de uma ampla aprovação internacional, como provam as recentes declarações solenes de vários países, incluindo os Estados Unidos, Alemanha, França, Espanha, Holanda, Portugal, os países do Golfo, os países africanos e muitos outros", terminou Bahnini.

Em outubro de 2022, Bahnini afirmou que Portugal considera "realista" o plano de autonomia de Marrocos para o Saara Ocidental e que pode desempenhar "um papel muito equilibrado e construtivo na resolução definitiva" do conflito.

"Portugal considera realista o plano de autonomia de Marrocos e que pode ajudar à resolução definitivo do conflito. Portugal pode desempenhar um papel muito equilibrado e construtivo na cena internacional", disse, então, o diplomata marroquino.

Em fins de setembro, fonte do Ministério dos Negócios Estrangeiros português disse à Lusa que Portugal pauta-se pela "defesa intransigente" dos esforços no quadro das Nações Unidas e cujo processo político, acompanhado pelo enviado especial do secretário-geral da ONU, Staffan de Mistura, é "valorizado.

A antiga colónia espanhola é considerada como um "território não autónomo" pela ONU, embora Rabat tenha o controlo de quase 80% deste território quase desértico de 266.000 quilómetros quadrados.

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