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Conservadores da Áustria elegem Karl Nehammer como novo chanceler

por Graça Andrade Ramos - RTP
Karl Neehammer, chanceler nomeado da Áustria Parlamento da República da Áustria

O até agora ministro da Administração Interna e defensor de uma linha dura para com a imigração ilegal, foi escolhido para liderar o Partido Popular da Áustria, OPV e a coligação com os Verdes, após a demissão do chanceler Alexander Schallenberg, empossado há menos de dois meses.

Karl Nehammer anunciou ele próprio a nomeação para o cargo por parte do partido. “É um privilégio para mim, poder liderar este novo OPV agora”, reagiu. Não foi anunciado o dia da tomada de posse e juramento que deverá no entanto ocorrer na próxima semana. Nehammer vai liderar a atual aliança governamental. O vice-chanceler Werner Kogler (Verdes) já fez saber que a parceria com o OPV se mantém tal como a sua equipa.

O chanceler nomeado promete manter a prioridade da governação nos temas de lei e da ordem que levaram Kurz ao poder por duas vezes em eleições legislativas desde 2017.

“Considero importante enquanto novo líder do Partido Popular manter as nossas linhas, que digamos claramente o que é necessário quanto às questões de migração e de asilo, quando está em causa a segurança dos nossos cidadãos no nosso país”, afirmou Nehammer.

Antigo secretário-geral do OPV, aos 49 anos Nehammer tem a reputação de linha dura com a migração, em linha com Kurz.

Foi ainda um dos principais líderes no combate à pandemia de Covid-19 no país, outra prioridade para o novo executivo. A Áustria está sob confinamento enquanto as autoridades procuram levantar a pressão sobre os hospitais a braços com níveis elevados de internamentos causados pelo crescimento no número de contágios.

Nehammer apelou os austríacos a unirem-se para vencer o coronavírus. “Solidariedade é um dos valores fundamentais da filosofia social cristã e torna-se evidente especialmente em tempos de crise”, lembrou.
Terceiro chanceler em dois meses
O chanceler nomeado garantiu ainda que irá trabalhar com o Presidente austríaco, Alexander Van der Bellen, para nomear o mais depressa possível o seu gabinete, com os analistas a considerarem pouco provável que Van der Bellen se oponha a qualquer das escolhas de Nehammer. Sabe-se já que o novo chanceler irá dar a pasta das Finanças a Magnus Brunner, enquanto Schallenberg irá regressar ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, do qual se afastou para assumir o posto de chanceler em substituição de Kurz.

Nehammer será o terceiro chanceler austríaco em menos de dois meses, devido às convulsões no seio do partido conservador, provocadas por investigações de corrupção a Sebastian Kurz.

Este demitiu-se de chanceler mas manteve-se líder do OPV e da bancada parlamentar dos conservadores até esta quinta-feira, quando anunciou o abandono da vida política para se dedicar ao seu filho recém-nascido e devido ao stress da investigação.

Nas horas seguintes, dois dos seus aliados mais próximos no OPV e no executivo, Alexander Schallenberg e Gernor Blümmel, ministro das Finanças, apresentaram igualmente a demissão.

Schallenberg justificou a decisão com a necessidade de unir numa só pessoa as funções de chanceler e de líder dos conservadores.

“Não é a minha intenção nem nunca foi o meu objetivo assumir a liderança do Partido Popular Austríaco”, garantiu numa publicação na rede Twitter o sucessor de Kurz no governo do país.

“Sou firmemente de opinião que ambos os cargos – líder do Governo e líder do partido mais votado na Áustria – sejam rapidamente reunidos” sob a mesma pessoa, afirmou.

Ao aceitar ambas as incumbências, Nehammer disse “respeitar enormemente Sebastian Kurz que me abriu caminho como novo líder do partido” e considerou “incrivelmente imenso” o que o ex-líder popular alcançou enquanto ocupou o cargo.
A queda de Kurz
Kurz, uma das figuras mais marcantes e desafiadoras da política austríaca dos últimos anos, foi eleito chanceler em 2017 à boleia do combate firme à imigração ilegal. Na altura coligou-se com o Partido da Liberdade, de extrema-direita.

A sua estrela começou a perder o brilho quando a procuradoria austríaca o acusou e a nove colaboradores, assim como o OPV, de má gestão e de uso indevido de fundos públicos para realização de sondagens manipuladas e subornos a jornalistas para estas serem publicadas. Apesar de reiterar a sua inocência, Kurz, de 35 anos, pediu para ser exonerado do cargo de chanceler dia nove de outubro e indicou Schallenberg, o seu ministro dos Negócios Estrangeiros, como sucessor. Este tomou posse dois dias depois.

As sondagens indicam que o OVP perdeu desde então pelo menos 10 pontos percentuais face aos seus rivais políticos mais próximos, os social-democratas, estando ambos agora praticamente empatados nas intenções de voto.

A substituição de Kurz e agora a nomeação de Nehammer  permitiram contudo a continuidade da solução governativa da Áustria.

Na posse de Schallenberg, a 11 de outubro, o Presidente Van der Bellen lembrou aos líderes do executivo a sua "grande responsabilidade" em virtude do escândalo de corrupção "para que seja recuperada a confiança da população".

Nem o OPV nem os Verdes querem eleições antecipadas, uma vez que as sondagens sugerem que ambos iriam perder representação. As tensões internas no seio da aliança executiva são contudo graves e poucos analistas antecipam a sua sobrevivência até ao fim do mandato em 2023.
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