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Coronavírus. Impacto da epidemia na economia chinesa é de "curto-prazo", diz Pequim

por Graça Andrade Ramos - RTP
Seis trabalhadores com máscaras puxam um navio contentor no porto de Qingdao, província de Shandong, China, a 11 de fevereiro de 2020. Reuters

Depois de dar prioridade à contenção da epidemia do COVID-19, Pequim começou esta terça-feira a tentar minimizar os efeitos das medidas de controlo nos sectores de produção e de exportação. A televisão estatal citou o Presidente chinês, Xi Jinping, o qual garantiu que o país será capaz de cumprir as metas de crescimento previstas para 2020.

Na mesma linha, o embaixador chinês para a União Europeia procurou sossegar os mercados esta terça-feira.

"Com a atividade económica adiada e a procura por serviços reduzida, a economia chinesa registou algum impacto mas é limitado, de curto prazo e pode ser gerido", garantiu Zhang Ming numa reunião em Bruxelas.

Zhang acrescentou que os investidores globais não têm de estar preocupados, já que o Governo chinês, afirmou, tem recursos suficientes para relançar a economia.

A Organização Mundial de Saúde revelou entretanto a existência de 92 casos de transmissão pessoa a pessoa do COVID-19 em 12 países, além da China. O secretário-geral da Organização, Tedros Adhanom Ghebreyesus, sublinhou contudo que não possui dados de comparação com a realidade chinesa.

O único local, além da China, onde se tem registado transmissão sustentada do coronavírus é o navio de cruzeiros Diamond Princess, ancorado de quarentena no porto japonês de Yokohama.

Até esta manhã, Pequim reportou à OMS 72 528 casos, no território continental, incluindo 1 850 mortes.

O relatório fornecido segunda-feira pelo Centro chinês de Controlo de Doenças e elaborado com base em mais de 44 mil casos, revelou que mais de 80 por cento destes foram ligeiros e que as pessoas idosas ou com problemas de saúde prévios são as que correm maiores riscos de vida.

A epidemia de coronavírus forçou em janeiro de 2020 ao isolamento de toda a província de Hubei,
no centro do país, e à paragem de praticamente todas as atividades económicas ali estabelecidas.

Além de Hubei, epicentro do contágio, diversas províncias impuseram igualmente o encerramento de fábricas e a diminuição da circulação, incluindo o transporte de bens, levando a uma quebra de abastecimentos.
Moody's antevê "impacto grave"
O impacto económico da suspensão de atividade está ainda por avaliar, mas começa a fazer-se sentir a nível global.

Contrariando as expetativas de Pequim, a agência de notação financeira Moody`s reduziu esta terça-feira a previsão de crescimento da economia chinesa, em 2020, de 5,8 por cento para 5,2 por cento, devido ao surto.

No relatório "Ásia-Pacífico: Atualização da Previsão de Crescimento Após o Surto do Coronavírus", o vice-presidente da Moody`s, Christian de Guzman, considera que a epidemia vai ter um "impacto grave, mas de curta duração", destacando o efeito "dominó" no resto da região.

"A nossa previsão é que os efeitos do surto do coronavírus se prolongarão por algumas semanas
até permitirem uma retoma da atividade económica", aponta De Guzman.

A Moody`s referiu que os efeitos estão a ser sentidos, sobretudo, no comércio e no turismo, e nas cadeias de fornecimento de mercadorias e nas exportações.

A Tailândia, o principal destino dos turistas chineses, com cerca de 11 milhões de visitas em 2019, antevê desde já perdas para o setor equivalentes a 2,3 mil milhões de euros, ou 0,4 por cento do PIB, se a epidemia se prolongar por três meses, calculando uma diminuição de 1,6 milhões de turistas oriundos da China face a 2019.
Partes de automóvel expedidas em malas

Diversas marcas, como a Apple, a Jaguar Land Rover (JLR) ou a Fiat Chrysler, têm estado desde a semana passada  a publicar alertas quanto ao impacto do surto nas suas cadeias de produção e de entregas.

O setor automóvel mundial está a ser particularmente afetado,
uma vez que a China é o maior fabricante mundial de componentes utilizados na montagem de milhões de veículos. A província de Hubei é um dos principais centros de produção e expedição de partes de automóvel e está parada há mais de um mês. As fábricas ali deverão manter-se encerradas pelo menos mais seis dias e os armazéns estão praticamente vazios.

A JLR revelou esta terça-feira que tem estado a importar peças dentro de malas vindas da China.

Uma estratégia com os dias contados se a produção não for retomada. A maioria das multinacionais automóveis, como a Tata Motors, admite que terá de parar a produção a partir de março, devido à falta de peças.

Em Portugal, as fábricas de têxtil e vestuário poderão ser forçadas a parar caso a epidemia se mantenha ate ao final de março.

O alerta é feito por duas associações do setor, que garantem que já há empresas com dificuldades em obterem alguns componentes.

Para ajudar as empresas a ajustar o impacto financeiro da epidemia, Pequim anunciou esta terça-feira cortes nas contribuições empresariais para os sistemas de pensões e de seguros. Em Hubei, o setor empresarial ficará mesmo isento até junho dos pagamentos de pensões e subsídios de desemprego ou de acidentes de trabalho.

O impacto da epidemia está a fazer-se sentir numa multiplicidade de setores. Por exemplo, esta terça-feira, em conselho de ministros, o ministro da Agricultura, Yang Zhenhai, alertou para a provável quebra na produção de ovos e produtos de aves no segundo e terceiro trimestres.

Várias multinacionais cancelaram ainda encomendas de produtos metalúrgicos chineses e outras estão a pedir indemnizações devido aos atrasos nas entregas.
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