Coronavírus. "Todos os cenários em cima da mesa", admite OMS

por Graça Andrade Ramos - RTP
Um sobrevivente do coronavírus COVID-19, doa sangue em Lianyungang, na província de Jiangsu, China, dia 16 de fevereiro de 2020. Reuters

A Organização Mundial de Saúde reagiu com cautela esta segunda-feira a dados que indicaram uma ligeira diminuição no número de novos casos de infeção com o coronavírus, na China. O balanço mais recente aponta para 70 548 infetados, mais 2048 nas últimas 24 horas.

Entre os recentes novos casos, 1933 deram-se na província de Hubei, centro do surto.

As autoridades chinesas referiram que a estabilização no número de novos casos indicava o sucesso das medidas impostas para conter a disseminação do Covid-19.

Os responsáveis da OMS preferem a cautela. O aparente declínio deve ser "lido com muita prudência", afirmou em Genebra o secretário geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.

É ainda demasiado cedo para perceber se esta tendência é para continuar, e "todos os cenários continuam em cima da mesa", admitiu.

"As tendências podem alterar-se à medida que novas populações são afetadas", exemplificou Tedros. Os números oficiais de vítimas já estabilizaram no passado, para depois se expandirem de repente devido a alterações de metodologia.

Pequim forneceu à OMS um relatório detalhado sobre mais de 44 mil casos confirmados. Para Tedros, a grande vantagem dos novos dados será providenciar um melhor entendimento quanto às faixas etárias das pessoas afetadas, a gravidade da doença e a taxa de mortalidade.

Na China continental, o número de mortos devido ao coronavírus subiu desde domingo para 1775, mais 105 em 24 horas. Destas, 100 ocorreram em Hubei.
Navios cruzeiros
A maior preocupação das autoridades sanitárias mundiais é agora rastrear os passageiros e tripulantes de um navio de cruzeiros, o Westerdam, que quinta-feira aportou no Camboja, após duas semanas de rejeições por parte de portos em todo o Sudoeste Asiático.

Um norte-americano, passageiro do navio, testou positivo para o coronavírus no sábado, o primeiro caso no Westerdam, que transportava 1454 passageiros e 802 tripulantes, nenhum dos quais ficou de quarentena, por falta de sintomas.

A operadora do navio, a Carnival Corp., garante estar a cooperar com as autoridades de vários países para encontrar possíveis casos infetados no Westerdam.

A nível mundial, o maior cluster de infeção ocorre num navio de cruzeiros, o Diamond Princess, igualmente da Carnival Corp., de quarentena no porto japonês de Yokohama desde o dia 3 de fevereiro.

Nas últimas horas foram ali detetados 99 casos, elevando o número total para 454.A dra Sylvie Briand, ao serviço da OMS, afirmou estar a trabalhar com as autoridades japonesas e com o principal médico do navio sobre a saída de pessoas retidas e à mercê da infeção. "O nosso foco é cumprir o nosso objetivo de saúde pública de conter o vírus e não conter as pessoas", frisou.

No navio encontravam-se até ao fim-de-semana cerca de 3700 passageiros e tripulantes.

Vários países iniciaram ações de retirada dos seus cidadãos ali retidos, transportando-os para centros de quarentena nos próprios estados.

Os casos confirmados de infeção no navio têm sido transportados para hospitais e até agora não se registou nenhuma fatalidade.

Os Estados Unidos, que esta segunda-feira transportaram por via aérea várias centenas dos seus cidadãos que viajavam no Diamond Princess, garantiram que "nenhum passageiro sintomático ou infetado" foi autorizado a embarcar nos autocarros, que transportarem 380 pessoas até aos dois aparelhos de transporte Kalitta Air 747-400ERF.

Notícias posteriores deram conta de que 14 norte-americanos portadores do COVID-19 foram isolados dos outros passageiros "numa área especial de contenção", dentro do avião.

Após chegarem ao destino, as quase 400 pessoas serão colocadas de quarentena em bases militares, por um período mínimo de 14 dias. Os Estados Unidos confirmaram até agora 15 casos de infeção com o coronavírus.

Além dos EUA, Austrália, Hong Kong, Canadá e Filipinas vão retirar do navio os seus cidadãos, nos próximos dias. O Diamond Princess deverá deixar de estar isolado a partir de quarta-feira.
OMS rejeita pandemia
Em todo o mundo, foram identificados casos em 20 países ou territórios, tendo-se registado quatro mortes - uma no Japão, outra em Hong-Kong, mais uma nas Filipinas e a mais recente, e primeira na Europa, em França.

Na União Europeia e Reino Unido estão confirmados 44 casos. Em Portugal foram já avaliados dez casos suspeitos, todos com resultados negativos.

Fora da China e do Diamond Princess, o maior número de casos, 75, foi registado em Singapura.

Apesar do número de infetados continuar a aumentar, o responsável pela operações de emergência da Organização Mundial de Saúde, Mike Ryan, recusou esta segunda-feira falar em pandemia.

"A verdadeira questão é se estamos a assistir a uma transmissão eficaz dentro de comunidades fora da China, e no momento presente isso não verifica", afirmou.A Comissão Nacional da China referiu a existência de 10 644 casos graves de infeção pelo coronavírus dentro do seu território continental, enquanto 10 844 pessoas foram curadas e receberam alta. Estão a ser acompanhadas 546.016 pessoas que mantiveram contacto próximo com os infetados.

Ate agora, o Covid-19 provocou a morte a cerca de dois por cento dos infetados. A infeção alastrou mais rapidamente que outros vírus respiratórios.

As autoridades chinesas isolaram várias cidades na província de Hubei, uma medida que abrange cerca de 60 milhões de pessoas. Whuan, a capital, está praticamente fechada desde 23 de janeiro e toda a atividade económica na província está parada.

Na mais recente medida para tentar conter a propagação do vírus, o Governo da província de Hubei impôs uma proibição ao tráfego automóvel.

A partir desta segunda-feira, apenas carros de polícia, ambulâncias, veículos que transportem bens relacionados com o serviço público estão autorizados a circular.

As escolas, fábricas e empresas terão de manter-se encerradas até nova ordem.
pub