Seis meses depois do pico inicial da pandemia de Covid-19, saúde, sociedade e economia em África estão a sofrer "impactos secundários impressionantes". O alerta foi lançado num estudo que aponta para a perda significativa de rendimentos, insegurança alimentar e perturbações graves no acesso a cuidados de saúde para outras doenças por todo o Continente Africano.
Quase um quarto desses participantes admitiu ter perdido as consultas por medo de contrair Covid-19 na deslocação até às instalações de saúde ou nas próprias instalações.
Tratamentos da malária (15 por cento), doenças cardiovasculares (oito por cento), diabetes (cinco por cento), cuidados pré-natais (cinco por cento), cuidados pediátricos a menores de 5 anos (cinco por cento) e vacinação (quatro por cento) foram os programas de saúde mais afetados nos seis meses que decorreram entre o início da pandemia em África e a data da realização dos inquéritos.
Para além da saúde, outro “impacto secundário” da pandemia em África diz respeito aos rendimentos. Dos 24 mil inquiridos, sete em cada dez revelaram que o rendimento do agregado familiar na semana anterior à realização do estudo tinha sido inferior àquele somado um ano antes.
Também sete em cada dez disseram ter tido problemas em aceder a bens alimentares na semana anterior. Destes, apenas 14 por cento receberam ajuda dos governos.
Na apresentação pública deste estudo, o médico de saúde pública Tom Frieden ressalvou que, “em África, estes impactos indiretos serão provavelmente muito maiores do que os impactos diretos do vírus que causa a Covid-19”.
"Nove meses após o surgimento da pandemia, é claro que os efeitos da resposta serão de longo prazo para os sistemas de saúde e para a economia, mas também para as comunidades", alertou, sublinhando a importância de os governos tomarem decisões baseadas em dados credíveis e transparentes.
África com menos casos do que o esperado
Apesar destas consequências, o continente africano tem sido elogiado globalmente pelo modo como controlou a evolução da pandemia. No geral, os Estados africanos “têm confirmado menos casos per capita do que outras regiões do mundo”, destaca o estudo da PERC.
“Muitos dos participantes disseram ter aderido ao uso de máscara, à lavagem das mãos e ao distanciamento social, assim como outras medidas que limitam a atividade económica e os encontros públicos”, apesar de “desejarem reabrir a economia”, lê-se no documento.
Ainda esta semana, o diretor do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (CDC África) reconheceu os esforços destes países. Especialistas apontam também para o facto de a população ser mais jovem e com menos comorbidades para explicar a menor propagação da Covid-19.
“O número de casos confirmados [em África] atingiu o seu pico no fim de julho e início de agosto – motivado pela epidemia na África do Sul – e, desde então, tem vindo a diminuir. No entanto, os dados disponíveis sobre a capacidade de testagem indicam que muitos casos [de infeção] não estão a ser detetados”, alerta, porém, a entidade.
“Alguns países podem estar a experienciar surtos mais vastos do que os que são reportados. Os governos que reportam os dados sobre a Covid-19 de forma inconsistente ou que têm falta de equipamentos (como kits de testagem) e de profissionais que realizem testes suficientes, podem estar a deixar escapar muitos casos positivos” de SARS-CoV-2, explica o estudo.
Desde o início da pandemia, em dezembro do ano passado, foram registados em África 1,4 milhões de casos de infeção pelo novo coronavírus, dos quais 34 mil são vítimas mortais. O continente regista ainda mais de um milhão de casos de pessoas recuperadas.
c/ agências