Covid-19. Infeções nos Estados Unidos disparam mas óbitos estão a diminuir

por RTP
Sergio Flores/Reuters

Os casos de infeção pelo novo coronavírus continuam a aumentar diariamente nos Estados Unidos, tendo atingido números recorde na semana passada. O país mantém-se no topo da lista dos mais afetados pela pandemia, mas o número de óbitos não está a acompanhar o aumento de infeções, verificando-se uma ligeira queda. Como se explica, então, esta evolução da Covid-19 nos EUA?

O número de pessoas infetadas pela Covid-19 disparou nos últimos dias em 36 Estados norte-americanos e os surtos na Florida e na Califórnia, são dos que mais preocupam as autoridades de saúde. Apenas quatro Estados - Delaware, New Hampshire, Connecticut e Rhode Island - registaram uma diminuição significativa das infeções.

Apesar de o cenário estar a melhorar em Nova Iorque, continua a ser o Estado mais fortemente afetado pela Covid-19 nos EUA com 393.069 casos confirmados e 31.403 mortes.

Só na cidade de Nova Iorque, morreram 22.470 pessoas, seguindo-se a vizinha Nova Jersey, com 14.992 mortos, Massachusetts, com 8.094, e Illinois, com 6.902.

Após o alívio de algumas restrições e a reabertura de muitas atividades económicas, os casos de Covid-19 aumentaram exponencialmente e alguns Estados tiveram mesmo de dar um passo atrás e voltar a aplicar novamente restrições. Só na Flórida, registaram-se 9.585 novos casos no sábado passado - um recorde desde o início da pandemia -, no domingo mais 8.530 novos casos e na segunda-feira contabilizaram-se mais 5.266.

No entanto, embora os números de infeções pareçam aumentar dramaticamente, o número de óbitos em todo o país parece ter diminuído, ou pelo menos, não tem aumentado a par das crescentes infeções.
Como está a evoluir a pandemia nos EUA? 

Ainda não há vacina nem um tratamento específico para a Covid-19. Os cientistas não têm certezas, nem respostas concretas, uma vez que ainda há muito para descobrir sobre o Sars-Cov-2, mas apontam algumas evidências que podem explicar a ligeira queda do número de óbitos.

De acordo com uma publicação da revista cientifíca Nature, a taxa geral de mortalidade tem estado a variar entre os 0,5 por cento e o um por cento. Mas os autores desta investigação relembram que "a taxa de mortalidade é especialmente difícil de determinar para Covid-19", principalmente porque como há muitas pessoas com sintomas leves ou inexistentes, não se sabe o número real de infeções - os números oficiais representam apenas os confirmados após a testagem e rastreamento.

Além disso, "o intervalo de tempo entre a infeção e a morte pode ser de até dois meses".

O risco de mortalidade do novo coronavírus pode diferir em grupos de doentes diferentes e até em países distintos. O novo coronavírus afeta as pessoas de forma diferente. A garantia de sobrevivência à Covid-19, recorde-se, está associada à idade, à existência ou não de doenças adjacentes, ao acesso aos cuidados de saúde primários e até às condições económicas das populações.

Um fator que pode também explicar a redução da mortalidade é a capacidade de resposta dos hospitais e dos tratamentos que têm sido utilizados e experimentados em doentes com Covid-19, ao longo dos últimos meses.

A estratégia de praticamente todos os país tem sido aumentar os testes e a capacidade rastreamento de potenciais cadeias de transmissão. Certo é que, desde que os EUA aumentaram o número de testes realizados por dia, os casos de infeção confirmados aumentaram também.

E, como se começaram a incluir nas contagens oficiais também muitos casos de pessoas infetadas mas sem qualquer sintoma ou apenas com sitomas ligeiros, os números de sobreviventes à Covid-19 também aumentaram - o que pode explicar o número estável de mortes, em comparação com o elevado número de infetados.

Isto significa que, um aumento de casos de transmissão da Covid-19 não representa obrigatoriamente um aumento do número de mortes.

Analisando o quadro interativo do New York Times, verifica-se que no Arizona, à medida que os casos continuam a aumentar, as mortes permanecem relativamente baixas.

Já no Alabama registou-se um aumento recente nas mortes quando o número de infeções disparou, mas não foi um aumento tão grande como em maio, quando houve um grande número de óbitos. Na Flórida, apesar de o número de casos de infeção estar a atingir máximos históricos, a taxa de mortalidade parece estar a descer levemente.

Mas na maioria dos Estados onde os números estão em ascenção, identifica-se um fator determinante para explicar a disparidade entre o número de infeções e de óbitos: a idade das populações mais afetadas recentemente.

Na Califórnia, um dos Estados com mais infeções nos últimos dias, quase metade dos casos são pessoas com menos de 35 anos - uma população mais nova e menos suscetivel ao vírus.

Depois do desconfinamento, as populações mais novas começaram a sair mais, a juntar-se em grupos, o que pode explicar o aumento de transmissões entre os mais jovens e o crescente número de casos confirmados. O aumento de testes em pessoas sem sintomas ou com sintomas ligeiros explica também a redução das hospitalizações e dos casos graves, o que pode ser também um bom indicador para a redução da taxa de mortalidade nos hospitais nos Estados Unidos.

Os Estados Unidos são o país com mais mortos e mais casos de infeção confirmados, mas o cenário parece estar a melhorara, pelo menos, estatisticamente falando.
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