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Covid-19. Países asiáticos apertam medidas para lidarem com casos importados

por Joana Raposo Santos - RTP
China, Singapura, Taiwan e Hong Kong decidiram recentemente proibir a entrada de todos os cidadãos estrangeiros. Foto: Reuters

Na China continental, cerca de 76 mil das mais de 81 mil pessoas infetadas desde o início da pandemia de Covid-19 recuperaram da doença. O país tem vindo a afirmar que o número de novos casos de contágio local é quase nulo, tendo passado a focar-se nos casos que diz serem importados do estrangeiro. Mas não só a China está a tomar medidas nesse sentido. Por toda a Ásia, países que aparentemente conseguiram controlar o surto internamente estão agora a seguir o exemplo.

A China reduziu drasticamente os voos internacionais como medida de combate ao novo coronavírus. Até os cidadãos chineses que se tinham deslocado temporariamente ao estrangeiro, incluindo estudantes, começam a perguntar-se se conseguirão regressar às suas casas. Muitas das companhias aéreas passaram a realizar apenas um voo semanal e os preços dos bilhetes dispararam.

“Acreditamos que, sob o atual cenário pandémico, minimizar as entradas e saídas desnecessárias no país é uma medida responsável e necessária para efetivamente proteger a vida, segurança e saúde física de todas as pessoas chinesas e estrangeiras”, defendeu Liu Haitao, diretor-geral de controlo fronteiriço da Administração Nacional de Imigração da China.

Em Singapura, cidadãos que regressem ao país devem permitir às autoridades o acesso aos dados de localização dos seus telemóveis, de modo a provarem que estão a acatar a ordem de quarentena domiciliária imposta pelo Governo. Em Taiwan, um homem que deveria estar em isolamento por ter viajado recentemente para outro país asiático recebeu uma multa de 30 mil euros depois de ter saído de casa para ir a um bar.

Tanto a China como Singapura, Taiwan ou Hong Kong decidiram recentemente proibir a entrada de todos os cidadãos estrangeiros de modo a impedirem o aumento de casos importados. O Japão, que tinha começado por banir a entrada de cidadãos da maioria dos países europeus, alargou esta quarta-feira essa medida a outros 49 países, incluindo os Estados Unidos.

Ainda no Japão, quem quebrar a quarentena pode sofrer uma pena de prisão até seis meses ou uma multa de até 500 mil ienes, o equivalente a 4.300 euros, aproximadamente.

Também a Coreia do Sul apertou as medidas de prevenção, passando a impor aos estrangeiros que cheguem ao país a quarentena obrigatória em instalações do Governo durante 14 dias. O país tem sido elogiado por ter conseguido achatar a curva de casos sem impor medidas tão rígidas quanto outras nações. Continua, aliás, a ser permitida a entrada de qualquer pessoa na Coreia do Sul, à exceção de cidadãos de Hubei, onde o surto teve origem.
Restrições poderão manter-se após o surto
Especialistas acreditam, porém, que estas medidas podem ser insuficientes e que os países asiáticos não podem tomar por garantido o controlo do surto, uma vez que uma nova onda de infeções não está descartada.

“Os países estão a esforçar-se para implementar soluções domésticas, mas as soluções domésticas são insuficientes para um problema de saúde global e transnacional”, argumentou Kristi Govella, professora académica de estudos asiáticos, citada pelo New York Times.

“Mesmo os países que têm sido mais bem-sucedidos no controlo da pandemia apenas estão tão seguros quanto os elos mais fracos do sistema”, defendeu, acrescentando que, na ausência de cooperação entre países, “o encerramento de fronteiras continuará a ser uma das maneiras que cada governo tem de controlar a situação”.

Especialistas acreditam ainda que, quando o número de casos a nível global começar a diminuir, muitas das restrições à circulação irão manter-se pelo menos até que uma vacina ou tratamento para a doença sejam encontrados, de modo a impedir que haja uma segunda vaga de infeções.
Ásia poderá sentir ricochete do vírus
O novo coronavírus, que emergiu na província chinesa de Hubei e depois se espalhou para o Ocidente, poderá agora sofrer um efeito de ricochete. Isto porque muitos dos cidadãos asiáticos que se encontravam na Europa e nos Estados Unidos decidiram regressar a casa ao perceberem que esses locais se tornaram os novos epicentros da pandemia.

Foi nessa altura que países e cidades asiáticas começaram a ver um aumento de casos, aos quais se acrescentavam os casos de contágio por via de cidadãos estrangeiros. Muitos deles passaram a ser detectados nos próprios aeroportos, onde estão instalados equipamentos que medem a temperatura corporal.

Foi o caso de Hong Kong, que inicialmente conseguiu controlar o surto com medidas mais leves, como o encerramento de escolas e serviços públicos e restrições a viajantes vindos da China continental. No entanto, em março, com o regresso de estudantes e outros cidadãos que se encontravam na Europa e Estados Unidos, a região autónoma alertou para uma nova onda de casos importados que estavam agora a sobrecarregar os hospitais.

Por essa razão, a líder de Hong Kong, Carrie Lam, decidiu a meados de março proibir a entrada de estrangeiros e obrigar os cidadãos que regressem à região a permanecer em quarentena durante 14 dias, durante os quais têm de utilizar pulseiras com sistema de GPS e estar ligados a uma aplicação para telemóveis que ajuda a monitorizar cada movimento.

O novo coronavírus já infetou mais de 878 mil pessoas em todo o mundo, das quais cerca de 182 mil recuperaram da doença. São mais de 43 mil as vítimas mortais da Covid-19.
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