Covid-19. Quebra do turismo provoca subida histórica do desemprego no Algarve

por RTP
Rafael Marchante/Reuters

Só no mês de maio, o desemprego no Algarve aumentou 200 por cento, sobretudo no setor da hotelaria, que anseia pela chegada de turistas para atenuar o "golpe" de quase três meses de prejuízos. A pandemia gerou quebras históricas no turismo e deixou quase 28 mil pessoas sem emprego na região.

Em plena época alta para o turismo, o Algarve sente a diferença com menos turistas nas praias, nos hotéis e nos restaurantes.

O setor da hotelaria é o principal afetado pela crise provocada pela pandemia da Covid-19, visto que coincidiu com o arranque das contratações para a época turística e milhares de pessoas nem sequer chegaram a ser contratadas, enquanto outras foram dispensadas ainda durante o período experimental.

Segundo o presidente da Associação de Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve, Elidérico Viegas, depois da época baixa, quando se preparava para entrar na época turística, a região está a enfrentar um verão "que não será comparável" ao do ano passado.

"Nós temos ainda muitos hotéis fechados, claro", começou por explicar em entrevista à Lusa. "Temos muitos estabelecimentos comerciais encerrados, temos alguns que até abriram, mas depois fecharam, uma vez que não há clientes".

Na região algarvia, 85 por cento dos hotéis reabriram em junho ou reabrem agora em julho - sendo ainda assim, um número mais animador, considerando as previsões do setor no início da pandemia, que não apontavam para que tantas unidades reabrissem ainda este ano.

O problema, frisou, é que depois deste verão atípico entra novamente a estação baixa, o que, na prática, será equivalente "a três estações baixas seguidas", resume o líder da Associação de Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA).

"O efeito nas receitas das empresas e o impacto no emprego é indiscutível e será uma realidade incontornável", acrescentou, lembrando que a partir do mês de setembro a situação pode piorar.

"Comparativamente ao resto do país, o Algarve regista números muito superiores a nível do desemprego. E a partir do mês de setembro, certamente que esses números se irão agravar novamente".

Além disso, uma grande parte dos turistas habituais do Algarve, principalmente na época de verão, são os britânicos. Com a decisão do Reino Unido em excluir Portugal do corredor aéreo - que isenta os cidadãos de quarentena no regresso de viagens - a situação da região algarvia prevê "graves prejuízos".
Parte dos desempregados não são da região

Num verão normal e sem restrições devido à Covid-19, o Tivoli Hotels & Resorts, por exemplo, teria cerca de mil pessoas a trabalhar nas seis unidades do Algarve – fora aquelas que são contratadas à hora, ao dia, ou à semana – mas, neste momento, tem apenas cerca de metade, segundo o diretor regional de operações do grupo, Jorge Beldade.

"Nós, em março, quando foi o início desta pandemia, estávamos em fase de início de contratação para a época de cerca de 350 pessoas. Acabámos por contratar só 89 e, obviamente, todas as outras deixaram de ser contratadas e a seguir os hotéis fecharam e passámos todas as pessoas a ‘lay-off’", comentou em entrevista à agência de notícias.

Segundo dados do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), no passado mês de maio o Algarve foi a região que registou o maior aumento de desempregados inscritos no país, com um crescimento de 202,4 por cento, face ao mesmo mês do ano passado.

"É um situação complicada, com um número de desemprego bastante elevado, que nos preocupa. Em fevereiro ninguém acreditaria que isto iria acontecer, porque estávamos com um dinamismo da economia cada vez maior, com o emprego a aumentar e o desemprego a diminuir", afirmou Madalena Feu, delegada regional do IEFP.

O aumento do desemprego nos últimos meses, contrariando a tendência dos anos anteirores, tem vindo em crescendo, face aos mesmos meses de 2019: em março havia na região 21.636 desempregados inscritos (mais 41 por cento), em abril mais 26.379 (mais 120 por cento) e em maio 27.675 (mais 202 por cento).

A delegada regional explicou ainda que dos "novos" desempregados, 28 por cento são estrangeiros - na sua maioria brasileiros, indianos e nepaleses, que trabalhavam na agricultura e na hotelaria - ou pessoas que vieram de fora da região.

Devido às medidas de confinamento para combater a pandemia, o desemprego disparou não só em Portugal, como em vários outros países. Mas no nosso país, o desemprego atingiu sobretudo trabalhadores temporários, precários, muitos deles emigrantes a trabalhar na restauração e hotelaria, sendo que de futuro podem somar-se a esses muitos outros com o fim do atual regime de 'lay-off'.
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