Covid-19. Regiões europeias mais poluídas com maior número de mortes

por Joana Raposo Santos - RTP
O dióxido de azoto é um agente poluente produzido principalmente por veículos a diesel. Foto: Flavio Lo Scalzo - Reuters

Os elevados níveis de poluição do ar podem ser "um dos mais importantes fatores" que contribuem para elevadas taxas de mortalidade por Covid-19, de acordo com um estudo que analisou as concentrações de dióxido de azoto (NO2) em 66 regiões europeias.

A investigação levada a cabo na Universidade Halle-Wittenberg, na Alemanha, comparou os níveis de NO2 registados em janeiro e fevereiro em 66 regiões administrativas de Itália, Espanha, França e Alemanha com os números de óbitos por Covid-19 ocorridos até 19 de março.

A conclusão foi que 78,5 por cento das mortes registadas ocorreram em apenas cinco dessas regiões: as que possuem maiores níveis de poluição atmosférica. Isto significa que, num total de 4.443 mortes, 3.487 aconteceram em quatro regiões do norte de Itália (Lombardia, Emilia-Romagna, Piemonte e Veneto) e numa região espanhola próxima de Madrid.

De acordo com as imagens de satélite analisadas no estudo, estas cinco regiões possuíam a maior concentração de dióxido de azoto e as piores condições de circulação do ar que permite o dispersar da poluição atmosférica. O dióxido de azoto é um agente poluente produzido principalmente por veículos a diesel. Vários estudos anteriores já associaram as concentrações de NO2 a doenças pulmonares.

“Os resultados indicam que a exposição a longo prazo a este poluente pode ser um dos mais importantes fatores a contribuir para a mortalidade provocada pela Covid-19 nestas regiões e talvez por todo o mundo”, explicou à revista Science of the Total Environment o líder do estudo, Yaron Ogen.

“Envenenar o nosso ambiente significa envenenar o nosso próprio corpo, e quando este sofre distúrbios respiratórios crónicos a sua capacidade de se defender de infeções torna-se limitada”, acrescentou.

Esta realidade levou a que algumas regiões começassem a repensar o modo de vida que deve ser adotado no fim da crise pandémica. Em Milão, cidade do norte de Itália, região especialmente afetada pela Covid-19, a autarquia anunciou terça-feira um ambicioso plano para reduzir a poluição atmosférica e melhorar, assim, a vida dos habitantes: cerca de 35 quilómetros das estradas da cidade serão transformados em ciclovias e passeios.
A avaliação contrária
Resta agora determinar de que forma os níveis de NO2 provocam este aumento na taxa de mortalidade por Covid-19 e conhecer mais detalhes sobre as vítimas. “É necessário examinar se a presença de outras condições inflamatórias iniciais está relacionada com a resposta do sistema imunitário ao novo coronavírus”, afirmou Ogen.

O líder do estudo explicou também que o território italiano conhecido por Planície Padana, assim como a cidade de Madrid, são áreas rodeadas por montanhas, o que ajuda a “encurralar” a poluição no ar. O mesmo acontece na província de Hubei, na China, onde a pandemia teve início. Em Milão, cidade pequena e densa a nível populacional, a quarentena domiciliária imposta devido ao surto do novo coronavírus levou a que o trânsito reduzisse entre 30 a 75 por cento, reduzindo consequentemente a poluição atmosférica.

Outros especialistas alertam, porém, que a poluição não é o único fator nem o determinante para a taxa de mortalidade, até porque este estudo não menciona as diferenças na distribuição etária nas várias regiões.

Além disso, o maior número de mortes “pode dever-se ao facto de essas regiões serem mais populosas ou registarem um maior número de viajantes” que podem ter transportado a doença, esclareceu Xavier Querol ao jornal espanhol La Vanguardia.

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