Covid-19. Surto no aeroporto de Xangai leva a testagem caótica

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Reuters

As autoridades de Xangai decretaram uma testagem em massa aos funcionários depois de ter sido detetado um surto no Aeroporto Internacional de Pudong. As imagens do processo, que decorreu no domingo, demonstram um cenário caótico no parque de estacionamento da infraestrutura.

De acordo com o jornal Global Times, da China, mais de 17.700 funcionários do Aeroporto Internacional de Pudong, em Xangai, foram testados no domingo à noite. A testagem em massa foi ordenada pelas autoridades de saúde locais depois de sete funcionários de carga daquele aeroporto terem testado positivo à Covid-19 desde 9 de novembro, incluindo dois contactos próximos que foram confirmados positivos no domingo.

As imagens oficiais do dia de testagem aparentam um processo ordeiro e calmo. A própria reportagem do Global Times inclui imagens que mostram filas ordeiras de funcionários a serem testados. No entanto, outros vídeos amadores publicados nas redes sociais, supostamente de trabalhadores, demonstram exatamente o oposto: um total caos, com um aglomerado de centenas de funcionários que, sem qualquer distanciamento social, gritavam e tentavam empurrar um cordão formado por membros das autoridades sanitárias que os tentavam encaminhar para o parque de estacionamento, onde foi montado um local de testagem. A situação terá ficado normalizada antes da meia-noite.


Este foi o primeiro surto detetado em Xangai depois de cinco meses consecutivos sem novos casos confirmados de Covid-19.
Segundo a agência Reuters, o primeiro caso deste surto no Aeroporto Internacional de Pudong foi detetado a 9 de novembro, num funcionário de carga, que, por sua vez, infetou um segundo funcionário do mesmo setor.

Os dois funcionários testaram positivo depois de terem limpo um contentor a 30 de outubro que chegou de um voo da América do Norte, segundo revelaram as autoridades municipais. Nenhum dos dois estava a utilizar máscara ou outro equipamento de proteção individual na altura.

Pesquisas locais e do estrangeiro demonstram que o coronavírus consegue sobreviver em ambientes fechados e húmidos”, explicou à Reuters Sun Xiaodong, funcionário do centro de controlo de doenças de Xangai.

Tal como explica Xiaodong, o contentor estava selado e húmido no interior e a estirpe de vírus detetada nos dois funcionários era muito semelhante à da América do Norte, o que leva as autoridades de saúde a sugerir que a fonte de infeção poderia ser externa. Os dois casos locais de Xangai foram contactos próximos de pacientes previamente confirmados, com 52 contactos próximos agora sob observação médica.

Das 17.719 amostras recolhidas esta segunda-feira, 11.544 testaram negativo, anunciou o vice-presidente da autoridade do Aeroporto de Xangai, Zhou Junlong. Os restantes resultados ainda não foram divulgados.

Junlong garante que “os casos confirmados apenas foram detetados no espaço de movimentação de carga e a área de passageiros do aeroporto não foi afetada”.

De acordo com a agência de notícias chinesa Xinhua, os funcionários de carga serão agora submetidos a testes regulares de Covid-19 e aqueles em cargos de alto risco também receberão vacinas. Até ao momento, dado que nenhuma vacina chinesa recebeu ainda aprovação, foi autorizado o uso de emergência para trabalhadores da linha da frente, como profissionais de saúde.
Política de testagem massiva
Apesar do ambiente caótico, o episódio está a ser visto como um exemplo da política intransigente da China na luta contra a pandemia. Os especialistas observam que o que sucedeu no aeroporto de Xangai reflete a rapidez do país em responder à Covid-19.

Os testes em massa têm sido uma das ferramentas do Governo chinês para monitorizar qualquer surto. Em maio, todos os 11 milhões de habitantes da cidade de Wuhan – onde o novo coronavírus foi identificado pela primeira vez – foram testados e, mais recentemente, as autoridades da cidade de Qingdao, no leste da China, também anunciaram que iam testar os mais de nove milhões de habitantes em apenas cinco dias.

Atualmente, as autoridades chinesas estão a testar milhões de pessoas, a impor bloqueios e a fechar escolas depois de vários casos do novo coronavírus transmitidos localmente terem sido diagnosticados nos últimos dias em três cidades.

À medida que as temperaturas diminuem, medidas em grande escala estão a ser implementadas nas cidades de Tianjin, Xangai e Manzhouli, apesar do baixo número de novos casos, em comparação com os Estados Unidos e vários países europeus. Para além dos dois casos de contágio local registados em Xangai, a China somou esta segunda-feira outros nove casos importados.

A China tem recorrido a uma abordagem severa de cada vez que novos casos de transmissão local são encontrados, incluindo encerrar imediatamente escolas, isolar comunidades residenciais e bairros inteiros e fazer testes em massa. Esta abordagem tem sido criticada por ser draconiana. No entanto, a China autoproclama a sua solução como uma lição a ser estudada por outros países.

"Em todo o mundo, apenas a China tem a capacidade de chegar a zero casos. Outros países não têm esta capacidade", disse Zeng Guang, epidemiologista chefe do Centro Chinês para o Controlo e Prevenção de Doenças.

"Chegar aos zero casos é realmente a forma economicamente mais eficaz de fazer a prevenção da epidemia", explicou Guang. "Usem mão mais pesada e cheguem aos zero casos, só então as pessoas se sentirão mais seguras", acrescentou.

c/ agências
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