Covid-19. Hospitais sobrecarregados mas Boris Johnson resiste a pedidos de mais restrições

por RTP
A estratégia do governo de Boris Johnson assenta unicamente nas vacinas, incluindo doses de reforço para os mais vulneráveis, mas há quase 50 mil novos casos por dia Reuters

Os hospitais britânicos estão a ficar sobrecarregados com uma nova vaga de infeções por Covid-19. Com o sucesso da vacinação rápida a ser posto em perigo por uma implementação incerta da terceira dose e a rejeição das vacinas para as crianças, cresce a pressão para que o primeiro-ministro adote medidas mais severas para proteger o Serviço Nacional de Saúde. No entanto, Boris Johnson, está a oferecer resistência.

Esta quarta-feira, as autoridades britânicas confirmaram 179 mortes por coronavírus. Foram registados 49.139 novos casos. Na última semana, o número de novos casos aumentou 17 por cento em comparação com a semana anterior.

Boris Johnson, o secretário de Saúde Sajid Javid e os consultores científicos do governo aguardavam o anúncio com expetativa, mas sem grandes preocupações de acordo com o Politico, num contexto de crescentes casos, hospitalizações e mortes.

Apesar de o porta-voz de Boris Johnson ter admitido esta segunda-feira que o inverno será “desafiador”, o primeiro-ministro afasta o regresso da obrigatoriedade das máscaras ou do teletrabalho.

A rápida implementação de um programa de vacinas levou o primeiro-ministro a ganhar confiança para pôr fim às restrições e ao distanciamento social e a afirmar que, apesar de acidentado, não será preciso novo confinamento no inverno.

Ministros, cientistas, especialistas estão todos a acompanhar os números hora a hora”, disse o ministro da Indústria Kwasi Kwarteng à BBC, afastando também o cenário de um novo confinamento.

Não sentimos que seja a altura para um plano B agora”, acrescentou. Contudo, Kwarteng admite que outras medidas restritivas sejam aplicadas em breve.
No entanto, o presidente da Federação do Serviço Nacional de Saúde nota que a pressão sobre hospitais e centros de saúde já é grande e tende a piorar, com os vírus sazonais.

"Falo com líderes de saúde todos os dias e literalmente não falei com nenhum líder que não diga que o seu serviço está sob intensa pressão agora. Estamos em meados de outubro. As coisas só vão piorar", disse Matthew Taylor, citado pela agência Reuters.

Será necessária uma sorte incrível para não nos encontrarmos no meio de uma crise profunda nos próximos três meses. O governo não deveria estar apenas a anunciar que estamos a mudar para o plano B, mas antes para ser o plano B mais”, acrescentou.

Um relatório parlamentar à resposta do Reino Unido durante a fase inicial da pandemia, revelado na semana passada, apurou que o atraso do confinamento entre outras falhas causou milhares de mortes, que de outro modo seriam evitáveis.

Após a relutância inicial, a economia britânica esteve fechada três vezes.

O Reino Unido tem o oitavo maior número de mortes associadas à Covid-19, aproximadamente 139 mil mortes. Na terça-feira, o Reino Unido registou 223 mortes, o maior número diário desde março no país e o mais elevado na Europa.

Os novos casos continuam sempre acima dos 43 mil e as hospitalizações ascendem a cerca de mil por dia.

Críticas ao reforço da vacinação

A possível redução da proteção das duas doses iniciais da vacina e algumas falhas na aplicação da terceira dose podem explicar o aumento do número de casos e mortes.

A estratégia do governo de Boris Johnson assenta unicamente nas vacinas, incluindo doses de reforço para os mais vulneráveis.

No entanto, apesar do início rápido, o processo de vacinação está a ficar estagnado, com médicos, Serviço Nacional de Saúde e políticos envolvidos numa troca de acusações.

“O maior problema são as pessoas não vacinadas”, aponta o chefe do Oxford Vaccine Group, Andrew Pollard, em declarações à rádio BBC.

Por outro lado, a transmissão entre as crianças e a passagem para uma fase sem restrições, incluindo o porte de máscara, fizeram com que a vigilância dos britânicos diminuísse.
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