Daniel Barenboim, o novo apartheid e a vergonha de ser israelita

por Paulo Alexandre Amaral - RTP
Axel Schmidt, Reuters

Num artigo de opinião sob o título de “Por que me envergonho de ser israelita”, o conhecido maestro nascido em Buenos Aires critica o comportamento de Israel em relação aos árabes palestinianos. Para Daniel Barenboim, um povo que viveu séculos de perseguição não pode “agora converter-se no agressor que submete os outros à sua crueldade”. Uma situação que classifica de “forma muito evidente de apartheid”.

O maestro nascido em Buenos Aires, com nacionalidade argentina, espanhola, israelita e palestiniana, pega na declaração de independência, o documento fundador de Israel, para lançar fortes críticas a um Estado que diz ter-se desviado irremediavelmente do caminho traçado pelos seus fundadores.

No texto publicado esta terça-feira no jornal espanhol El País, Daniel Barenboim lembra que os fundadores do Estado de Israel “viam no princípio da igualdade a pedra angular da sociedade que começavam a construir (…) num compromisso de procurar a paz e as boas relações com todos os países e povos vizinhos”.

Lamenta assim que, “setenta anos depois, o Governo israelita acabe de aprovar uma nova lei que substitui o princípio da igualdade e valores universais pelo nacionalismo e pelo racismo”.

Barenboim refere-se à lei aprovada na última sexta-feira pelo Knesset, o parlamento israelita, que decreta Israel como Estado-nação do povo judeu. O projeto defende que “Israel é pátria histórica do povo judeu” e que este goza de “direito exclusivo à autodeterminação nacional”. Na nova legislação, os árabes terão uma categoria especial, à parte, bem como a língua árabe.

O maestro argentino acusa o Knesset de transformar a população árabe em “cidadãos de segunda (…) uma forma muito evidente de apartheid”.

“Não acredito que o povo judeu tenha vivido 20 séculos, a maior parte sofrendo perseguições e suportando crueldades sem fim, para se transformar agora no opressor que submete os demais às suas crueldades”, declara.

Barenboim questiona se “a situação de ocupação e domínio sobre outro povo se encaixa na Declaração de Independência”, se “a independência faz sentido quando conseguida à custa dos direitos fundamentais do outro”. E deixa na entrelinhas o desejo de uma solução pragmática e humanitária, baseada na justiça social, para a questão palestiniana.
Tópicos
pub