Desacordo Rússia-EUA sobre enviado bloqueia extensão da missão da ONU na Líbia

por Lusa

O prolongamento da missão da ONU na Líbia entrou hoje num impasse, com a Rússia a exigir a nomeação urgente de um novo enviado, enquanto os Estados Unidos defendem a continuidade de Stephanie Williams.

A votação de uma resolução proposta pelo Reino Unido, para estender a Missão de Apoio das Nações Unidas na Líbia (Manul), foi adiada sem nova data, à última da hora.

Moscovo pretendia vetar a proposta antes de colocar a sua própria resolução a votação, que também pode ser vetada por Washington.

Segundo o documento consultado pela agência de notícias France Presse (AFP), os russos pedem que "o secretário-geral nomeie um enviado sem mais demoras".

Também prevê a extensão da missão apenas até 30 de abril, data que, segundo Moscovo, dá tempo suficiente para que a situação política na Líbia fique esclarecida.

A saída repentina, em novembro, do eslovaco Jan Kubis como enviado da ONU para a Líbia, foi colmatada pela norte-americana Stephanie Williams, com o cargo de "conselheira especial".

O secretário-geral da ONU, António Guterres, dispensou a aprovação do Conselho de Segurança para a escolha, que se mostrou delicada devido à disputa entre grandes potências em torno do conflito líbio.

Em 2020, a diplomata, que fala árabe, tinha sido protagonista em vários avanços no processo de paz na Líbia, enquanto número dois da Manul.

Segundo fontes diplomáticas, a demissão de Jan Kubis foi mal recebida pela Rússia, que desde então está à procura de recuperar vantagem no processo.

Na segunda-feira, durante uma reunião aberta do Conselho de Segurança sobre a Líbia, o vice-embaixador russo na ONU, Dmitry Polyanskiy, salientou a importância de haver uma nova figura na Líbia.

"É importante que o secretário-geral apresente um candidato para este cargo o mais rápido possível. O enviado da ONU deve ter experiência suficiente no âmbito de uma nomeação decidida pelo Conselho de Segurança. Infelizmente, não temos essa pessoa à frente da missão no momento", referiu Dmitry Polyanskiy.

O mandato da Manul termina na segunda-feira, o que ainda dá uma margem de manobra que para Rússia e Estados Unidos estabeleçam um compromisso.

Segundo fonte diplomática, no entanto, as divisões entre membros da ONU não são "um bom sinal" em relação à Líbia e "não facilitam" o trabalho de Stephanie Williams.

Na conferência de imprensa diária, o porta-voz da ONU, Stéphane Dujarric, assegurou que António Guterres mantém total apoio na conselheira especial, quando questionado sobre o pedido dos russos para a nomeação de um novo enviado.

"O secretário-geral está extremamente grato por todo o trabalho que Stephanie Williams fez na sua missão anterior e pelo que continua a fazer na Líbia como conselheira especial", referiu.

O governo de transição, com base em Trípoli, no oeste da Líbia, está enfraquecido, pois o seu mandato terminava, em teoria, em 24 de dezembro.

O parlamento, que fica em Tobruk, no leste, tem defendido desde então uma possível remodelação do governo.

As eleições presidenciais, inicialmente previstas para 24 de dezembro, seriam as primeiras nacionais após o acordo de reconciliação firmado em outubro de 2020, sob patrocínio da ONU, e deveriam ser o culminar de um processo difícil de pacificação do país, às quais se seguiriam as legislativas, um mês depois.

O adiamento foi decidido pela Alta Comissão Nacional Eleitoral (HNEC) líbia, a menos de 48 horas da data agendada para a sua realização, devido a divergências na base jurídica para a realização do escrutínio.

Ainda não há uma nova data definida para o ato eleitoral.

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