Detenção de dirigentes catalães agudiza crise entre Madrid e Catalunha

por RTP
Gonzalo Fuentes, Reuters

O porta-voz da Generalitat, o governo regional da Catalunha, qualificou como “provocação do Estado espanhol” a colocação em prisão preventiva de dois influentes dirigentes independentistas, acusados de motim, incitação à revolta (sedição). Com a expressão "presos políticos" no ar, o ministro da Justiça já veio negar que seja este o caso.

“O Estado está a provocar (...), mas as pessoas não caem na provocação”, deixou esta segunda-feira Jordi Turull, acrescentando compreender a “indignação” quando os dois dirigentes, Jordi Cuixart e Jordi Sanchez, apenas apelaram para a realização de manifestações pacíficas.

“Espanha aprisiona os dirigentes saídos da sociedade civil por terem organizado manifestações pacíficas. Temos de novo, tristemente, presos políticos”, declarou na sua conta na rede social Twitter o presidente do governo catalão, Carles Puigdemont.

Já esta manhã, altos dirigentes do Governo da Catalunha saíram à rua para se juntar a um protesto contra a prisão preventiva dos dois independentistas.

A tese do líder máximo da Catalunha foi entretanto rejeitada pelo governo central de Madrid. O ministro da Justiça, Rafael Catalá, garantiu que a prisão dos dois Jordis, como são agora tratados os dois detidos, nada tem de política, estando antes a ser tratada como uma questão judicial.

“Não estamos perante presos políticos, uma vez que a decisão de ontem incidiu sobre um crime [que foi cometido]”, sustentou Rafael Catalá.
Twitter atento à prisão dos "Jordis"
Entretanto, o caso passou as fronteiras, tendo o criador do Wikileaks, Julian Assange, assinalado na sua conta que Espanha faz os primeiros presos políticos no processo de referendo da Catalunha.


Mas Assange não foi o único a utilizar a rede social para deixar uma nota acusatória sobre o caso. Pete Wishart, deputado do Partido Nacional Escocês, da primeira-ministra Nicola Sturgeon, questiona “o quão mal pode correr isto”.



Jordi Cuixart dirige a Omnium Cultural e Jordi Sanchez a Assembleia Nacional Catalã, as duas associações independentistas da Catalunha, que contam com dezenas de milhares de membros. São acusados de haver incitado a multidão a bloquear a saída de um edifício onde guardas-civis realizavam buscas, na noite de 20 para 21 de setembro, em Barcelona. Os agentes ficaram bloqueados até de madrugada.

Sánchez e Cuixart, aos quais a juíza atribui o papel de “promotores e dirigentes” das concentrações frente a instalações do Ministério da Economia, em Barcelona, são os únicos dos quatro investigados neste processo por sedição - revolta, motim - que foram colocados em prisão preventiva.
"Contaminada politicamente"
As associações independentistas da Catalunha dizem que decisão de colocar em prisão preventiva de dois líderes independentistas está contaminada politicamente, não tendo dúvidas em afirmar que está posta em causa a independência judicial do estado espanhol.

Os advogados dos independentistas catalães consideram a decisão do tribunal errada.

Os dois líderes do movimento independentista estão em prisão preventiva, acusados de afronta ao Estado.

Mas Jordi Cuixart e Jordi Sanchez não estão sozinhos nesta situação. Os holofotes incidem igualmente sobre José Lluís Trapero, o comissário-chefe dos Mossos d'Esquadra, a força policial da Catalunha. Apesar de Carmen Lamela, a mesma juíza que conduz o processo de Jordi Cuixart e Jordi Sanchez, o ter deixado sair em liberdade condicionada a apresentações periódicas, Trapero está acusado de insubordinação e atividade de contra-vigilância contra ações da Guardia Civil e da polícia na altura do referendo.

O tribunal impôs-lhe apresentações quinzenais, entrega do passaporte e proibição de sair do país. A juíza que conduz os processos contra os independentistas acredita existirem elementos que ligam Trapero à organização do referendo sobre a independência da Catalunha, um processo considerado ilegal a partir de Madrid e que seria suspenso pelo Tribunal Constitucional.

Parte das provas contra o chefe dos Mossos d’Esquadra foram encontradas num documento na casa de Josep Maria Jové, o número dois de Oriol Junqueras, vice-presidente da Generalitat, mas a sua conduta ainda está a ser investigada.


c/Lusa
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