Dezenas de desaparecidos em derrocada nas Filipinas após tufão Mangkut

por Graça Andrade Ramos - RTP
A aldeia de Ucab fica em Itogon, Reuters

Só três pessoas foram salvas na aldeia de Ucab, Itogon, na região montanhosa de Cordillera, nas Filipinas, depois de um deslizamento de terras ter soterrado vários edifícios no fim de semana. Cerca de 300 bombeiros, soldados, polícias e voluntários procuram corpos retirando à mão pedras e destroços.

A esperança de encontrar alguém com vida é diminuta. "Tenho 99 por cento de certeza de que as pessoas estão todas mortas", afirmou o autarca local, Victorio Palangdan. "Vamos continuar até resgatar todos", prometeu.

Há mais de 30 desaparecidos, incluindo seis crianças.

A maioria dos adultos encontrava-se num armazém abandonado, ao lado de uma capela e da casa do pastor e da sua família. Estes tinham convidado os fiéis a refugiar-se ali dos efeitos do Mangkut.

O local, na zona de Itogon, Benguet, "era usado como uma área de culto pelo grupo da igreja e suas famílias", afirmou à BBC Conrad Navidad, da Organização Internacional para as Migrações. 

"Antes de o tufão chegar, o pastor deles convidou-os a refugiar-se naquela casa. Foi então que o desastre se deu e eles foram soterrados pelo deslizamento de terras" explicou Navidad.
Dezenas de deslizamentos

A Câmara de Minas das Filipinas referiu que o local onde se abrigaram era o antigo armazém de uma exploração de ouro abandonada pela Benguet Corp.

Muitas das vítimas mineravam ali ilegalmente por ouro e tinham sido múltiplas vezes avisadas para abandonarem o local, acrescenta a Câmara das Minas.

O deslizamento de terras em Ucab foi apenas um entre dezenas provocados pelo tufão Mangkut, que atingiu as Filipinas há dois dias. A tempestade atravessou a ilha filipina de Luzon durante o fim de semana.

Mais de 60 pessoas morreram, sobretudo devido a derrocadas causadas pela precipitação intensa, a maioria na região de Benguet.

Em Cordillera a maioria das estradas está intransitável, devido às lamas, terras e vegetação, que escorreram das encostas com as chuvas torrenciais.
Duterte quer encerrar minas
O Governo aponta o dedo a milhares de pequenas minas ilegais, por terem alegadamente ampliado o risco de derrocadas e deslizamentos.

O ministro filipino para o Ambiente e Recursos Naturais, Roy Cimatu, ordenou a paragem de toda a atividade mineira em Cordillera e revogou mesmo as licenças temporárias de 10 associações da região. A atividade mineira representa menos de um por cento do produto interno bruto filipino, apesar de terem sido explorados apenas três por cento dos nove milhões de hectares identificados como grande reservas mineiras.

Forças de segurança foram enviadas para impor a proibição.

Já esta segunda-feira, o Presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, exprimiu o desejo de encerramento de todas as minas do país.

"Se eu puder fazer o que quero, fecharei toda as minas das Filipinas", avisou Duterte numa reunião televisionada sobre a resposta de emergência governamental à destruição causada pelo Mangkut.

"Temos um problema com a nossa indústria mineira. Não tem contribuído nada de substancial para a Economia nacional," explicou Duterte, que há anos denuncia os custos dos estragos ambientais provocados pelas minas, relativamente ao reduzido peso da atividade no PIB do país.

As Filipinas são o segundo produtor mundial de minério de níquel, a seguir à Indonésia, mas 60 a 70 por cento dos mineiros filipinos operam de forma ilegal, muitos em busca de ouro, prata ou cromita.

O tufão Mangkut afetou cerca de cinco milhões de filipinos, 150 mil dos quais foram retirados para centros de abrigo.

A tempestade atingiu o país com ventos acima dos 250 quilómetros/hora e rajadas de 305 quilómetros/hora. Destruiu colheitas de arroz e de milho orçadas em 177 milhões de dólares.

Cerca de 450 casas foram afetadas e nove províncias sofreram inundações. O custo em vidas humanas foi, contudo, inferior ao antecipado pelas autoridades.
pub